Já me perguntaram quais eram os meus filmes preferidos entre os nove indicados à melhor filme ao Oscar 2018. Pois vamos de ranking, e em três níveis diferentes. Só lembrando tanto à aqueles que amam ou odeiam o que está posto, que listas são sempre pessoais. E essa não foge à regra, por isso deixei bem claro também no título. OK? Vamos lá:
Pódio
1. A Forma da Água (The Shape of Water, 2017) de Guillermo Del Toro: Um romance entre uma faxineira muda (Sally Hawkins), e uma criatura aprisionada em uma base militar secreta, nos EUA dos anos 60, é fábula poética sobre um amor inesquecível. Diferentes na forma, eles são muito parecido em contéudo. Elisa sempre esteve mergulhada em um dia a dia turvo, presa numa vida de isolamento. A “Forma” está preso como experiência, e ao ser torturado tudo que pode fazer é resistir. De roteiro original onírico, que salienta o ato de aceitar as diferenças de todos, igualmente, a obra(prima) naturalmente levanta questões relevantes ao nosso tempo, como o medo do desconhecido, a luta contra a opressão, o poder da bondade e o amor acima de tudo [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 13 indicações ao Oscar: melhor filme, direção, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro original, fotografia, figurino, mixagem de som, edição de som, desenho de produção, Mmontagem, trilha tonora original.
2. Trama Fantasma (Phantom Thread, 2017) de Paul Thomas Anderson: Londres, anos 50, e Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e sua irmã Cyril (Lesley Manville) estão no centro da moda britânica. Ao encontrar em Alma (Vicky Krieps) sua nova como musa e amante, incialmente sua rotina é pouco afetada. Mas aos poucos, o que era cuidadosamente controlada e planejada, cheia de silêncios e desejos controlados, sua vida é alterada pelo amor, personificado na forte, inteligente e apaixonada imigrante que habita sua casa. PTA (direção e roteiro) rege seu drama romântico como uma ópera trágica e hipnotizante. Uma obra tão elegante quanto seus figurinos, capaz de fazer uma boa e solene reflexão da vida. Será que conseguimos ser felizes quando temos tudo? Dinheiro, roupas, carro de luxo… [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 6 indicações ao Oscar: melhor filme, direção, ator (Daniel Day-Lewis), atriz coadjuvante (Lesley Manville), figurino, trilha tonora original.
3. Corra! (Get Out, 2017) de Jordan Peele: um jovem (negro) vai com sua namorada (branca) visitar os pais dela em uma casa afastada da civilização. Mas o que pode estar errado em uma casa de uma família americana tão tradicional? Um porão escuro tomado pelo mofo? Um racismo disfarçado? Será que há algo muito sinistro em ser sincero e amável? Ou tudo não passa de uma mera paranoia do protagonista? Aí está o pulo da história. As possibilidades estão todas abertas, e os caminhos escolhidos aparecem ao final sem costura, de forma orgânica. E assustadora. Com a atmosfera do pavor bem plantada, agora só resta esperar a colheita extremamente eficaz. E o que pode parecer uma metáfora clara, do racismo, na verdade é descortinada de uma forma bem mais elaborada, com o medo a seu favor [Clique para ler a crítica completa]. | 4 indicações ao Oscar: melhor filme, direção, ator (Daniel Kaluuya) e roteiro original.
O meio
4. Dunkirk (Dunkirk, 2017) de Christopher Nolan: Com senso de urgência impressionante e uma técnica impecável, é um filme de resgate e foca em três histórias diferentes da Evacuação de Dunquerque. Uma hora de confronto no céu; um dia inteiro em alto mar; e uma semana na praia, onde 400 mil soldados buscam escapar a qualquer preço. Nada de efeitos especiais, tela azul e explosões mirabolantes. Aqui o foco é no realismo e na dor de estar no meio do campo de guerra, à espera de um resgate que ninguém sabe se vai acontecer [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 8 indicações ao Oscar: melhor filme, direção, fotografia, mixagem de som, edição de som, desenho de produção, montagem e trilha sonora original.
5. Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird, 2017) de Greta Gerwig: Sim, estamos diante de um doce e belo rito de passagem, com tocantes interpretações de Saoirse Ronan e Laurie Metcalf. Ambas são filha e mãe completamente críveis em seus embates emocionais em meio aos seus problemas do dia a dia. Sim, eu creio na revolta adolescente de “Lady Bird”, e sim, eu também compreendo como sua mãe é rígida, mas claro, o motivo é seu amor pela filha. A comédia sentimental que bebe nas memórias de Greta Gerwig é uma obra sólida, e construída com sentimentos simples e genuínos [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 5 indicações ao Oscar: melhor filme, direção, atriz (Saoirse Ronan), atriz coadjuvante (Laurie Metcalf), roteiro original.
6. Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2017) de Luca Guadagnino: jovem passa as férias com os pais em sua casa de veraneio na Itália. Mas quando a casa recebe um pupilo do pai, seu coração bate mais forte. O que era atração, virou amizade. O que era curiosidade, virou amor. Mas não foi uma paixão de verão, é sim um amor que mudou para sempre a vida um jovem culto, e de bom coração. A mãe, encontra a própria história de amor do filho nas páginas de um romance clássico alemão. O pai, bem o pai, simplesmente sente tudo o que aconteceu. Sente, e até se identifica [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 4 indicações ao Oscar: melhor filme, roteiro adaptado, ator (Timothée Chalamet) e canção original.
Os lanternas
7. The Post: A Guerra Secreta (The Post, 2017) de Steven Spielberg: Final dos anos 60 nos EUA, início dos anos 70. Enquanto milhares de americanos morrem na Guerra do Vietnã, o governo insistia em sustentar que havia avanços militares em território estrangeiro. O drama é didático, mas inspirador. A tensão é sempre motor para a questão do Washington Post publicar ou não os documentos sigilosos que desmascara Nixon. O curioso aqui é acompanhar o passo a passo do jornalismo investigativo, da apuração da notícia, as fontes jornalísticas, o que abordar dentre as várias variáveis da história, sua escrita, edição, revisão, escolha de capa, a feitura física das chapas e publicação. Mesmo esquecido na categoria de diretor, Spielberg, além da excelente direção do elenco, também faz mais um grande trabalho de câmera na maior parte do tempo [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 2 indicações ao Oscar: melhor filme e atriz (Meryl Streep).
8. Três Anúncios Para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017) de Martin McDonagh: Três grandes atuações elevam o tom de um roteiro que fala sobre impunidade, justiça e a dificuldade em saber quando chega o perdão. Palmas para Frances McDormand (a mãe que perdeu a filha), Woody Harrelson (o chefe de polícia com câncer) e Sam Rockwell (o policial caipira que carece que inteligência). Contudo o drama carece de um argumento mais forte sobre temas essenciais que levanta: onde está a “guerra”, a violência que percorre a cidade, como brada o xerife; Porquê a investigação simplesmente não acontece até chegar em poucas cenas antes do final?; não se vê um clima de violência policial, principalmente contra os negros da cidade; o final realmente precisa apontar para uma suposta justiça sem lei? | 7 indicações ao Oscar: melhor filme, atriz (Frances McDormand), ator coadjuvante (Sam Rockwell), ator coadjuvante (Woody Harrelson), roteiro original, montagem, trilha sonora original.
9. O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017) de Joe Wright: Ao contar uma história sobre a História – que inclui a ascenção política de Churchill (Gary Oldman) e também a operação Dínamo, que retirou os soldados britânicos da praia de Dunquerque/Dunkirk, minuciosamente vista no filme homônimo – o filme se divide entre a elegância cinematográfica habitual do diretor, e uma soberba atuação de Gary Oldman [Clique aqui para ler a crítica completa]. | 6 indicações ao Oscar: melhor filme, ator (Gary Oldman), fotografia, desenho de produção, figurinos e maquiagem & cabelos.
Cabia mais um/Top 10
E uma observação. Por mim caberia mais um. “Eu, Tonya” (I, Tonya, 2017) estaria entre os indicados de melhor filme, para fechar bem a lista dos top 10. Cheio de energia, o drama cômico flambado de humor negro possui atuações primorosas (ambas indicadas, Margot Robbie-atriz e Allison Janney-coadjuvante) e uma montagem (outra nomeação) que eleva o tom do filme. E sim, a decisão de fazer um filme de narrativa “esperta” e com “estilo” caiu perfeitamente bem à causa.