O ano de 2016 foi bem conturbado. Marcado por turbulências políticas, sociais, perdas culturais, polêmicas e tragédias, o ano termina com desejo de dias melhores. E no lado cinematográfico em questão, o Clube Cinema (parceiro do Tribuna do Ceará/UOL e integrante da Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine) elege seus melhores filmes.
Foram mais de 300 filmes para a conta, e reservou ainda a fundação da Aceccine – Associação Cearense de Críticos de Cinema, e a participação em mais um Júri no Cine Ceará.
Só lembrando que, para estar elegível, o filme tem de estrear nos cinemas entre os dias 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2016, independente do seu ano de produção. Por isso, não se surpreenda ao constatar na lista obras de anos anteriores. Isso acontece pois essas obras só chegaram às telas do Brasil entre janeiro e dezembro de anos diferentes.
16. De Palma (Idem, EUA, 2015) de Noah Baumbach e Jake Paltrow: Não é todo dia que temos a oportunidade de ver um dos grandes diretores do cinema americano falar abertamente e com muito detalhes de cada um dos seus filmes. Quem é apaixonado por cinema, é mais que uma aula. O mais interessante desse documentário assinado pela dupla Noah Baumbach (Frances Ha, 2012), Jake Paltrow (Sonhando Acordado, 2007), é que o próprio De Palma passa a limpo a sua carreira. Leia a crítica completa.
15. O Silêncio do Céu (Era el Cielo/O Silêncio do Céu, Brasil/Uruguai, 2016) de Marco Dutra: Drama pesado e perturbador, que já abre com uma forte cena de violência/abuso contra a mulher. A trama assim se divide em dois pontos de vista diferentes para mostrar como esse fato se desdobra em suas cabeças; A do esposo que viu tudo e nada fez; E da mulher violentada, que reagiu de uma forma completamente silenciosa. Surpreendente interpretação de Carolina Dierckman e uma direção segura de Marco Dutra numa obra forte.
14. Creed – Nascido para Lutar (Creed, EUA, 2015) de Ryan Coogler: Adonis Johnson (Michael B. Jordan) nunca conheceu o pai, Apollo Creed, que faleceu antes de seu nascimento. Ainda assim, a luta está em seu sangue e ele decide entrar no mundo das competições profissionais de boxe. Após muito insistir, Adonis consegue convencer Rocky Balboa (Sylvester Stallone) a ser seu treinador e, enquanto um luta pela glória, o outro luta pela vida. Um encontro emocionante entre o passado (Rocky) e o futuro (Creed), é um digno resgate de uma história, recontada com drama e bom humor. Eu não consegui segurar as lágrimas, mas também sorri e me diverti muito.
13. Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, EUA, 2016) de Anthony e Joe Russo: O universo da Marvel no cinema chega à terceira fase com muita maturidade. Após assinarem o melhor filme da Marvel Studios, Capitão América: Soldado Invernal (2014), os Irmãos Russo reafirmam a maturidade do universo Marvel em outra obra em alto nível. Palmas para a dupla, que costuram sua superprodução com uma ação espetacular sempre a favor da história. Tingido de um tom político maduro, o resultado final é um filmaço. Porque a questão principal não é a questão de que lado você está, e sim de fazer o que é certo. Tingido de um tom político, apresenta uma ação espetacular a favor da história. O resultado final é um filmaço. Leia a crítica completa.
12. Kubo e as Cordas Mágicas (Kubo and Two Strings, EUA/Japão, 2016) de Travis Knight: Kubo vive uma normal e tranquila vida em uma pequena vila no Japão com sua mãe. Até que um espírito vingativo do passado muda completamente sua vida, ao fazer com que todos os tipos de deuses e monstros o persigam. Agora, para sobreviver, Kubo terá de encontrar uma armadura mágica que foi usada pelo seu falecido pai, um lendário guerreiro samurai. Uma viagem lúdica que pode transformar a sua vida de forma mágica.
11. O Regresso (The Revenant, EUA/Hong Kong/Taiwan, 2015) de Alejandro Gonzalez Iñarritu: Jornada visceral de sobrevivência, o drama épico é uma pancada. É inegável a sensação de desespero que passa DiCaprio. Entre uma carne crua e a dormida dentro da pele de um cavalo, o tom é de pura deterioração de corpo e de espírito. Tecnicamente impecável, mas de roteiro frouxo, produz uma sensação de pretensão em quase três horas de sofrimento extenuante. Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é um guia de expedição de exploradores em 1822. No meio do oeste americano selvagem, é atacado por um urso, fica seriamente ferido e é abandonado à própria sorte pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy). Só resta a Glass a vingança. Leia a crítica completa.
10. Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight, EUA, 2015) de om McCarthy: Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso. Mas você tem que ler nas entrelinhas, para conseguir a informação que precisa. É uma aula de jornalismo investigativo, em um filme espetacular.
9. Carol (Carol, Reino Unido/EUA/Austrália, 2015) de Todd Haynes: Cate Blanchett nunca esteve tão bonita neste romance ambientado na América dos anos 50 em que é a personagem título, Carol. Casada com Harge Aird (Kyle Chandler), mas leva a vida e o relacionamento de aparências. Presa ao casamento pela boa condição financeira que vive e pela boa criação do filho, Carol não ama mais seu marido, e tem histórico de casos passionais. Em um dia de compras para o Natal, se apaixona à primeira vista pela vendedora Therese Belivert (Rooney Mara), com quem passa a viver um intenso romance. É uma história sensível sobre um amor proibido pelo preconceito. Com um tom que varia entre o dramático e o sensível, Carol é um filme lindo. Classudo em cada detalhe, da fotografia ao uso das cores (principalmente o vermelho), da cenografia ao figurino. Além da doce, e por vezes, amargurada trilha sonora, cativante.
8. Dois Caras Legais (The Nice Guys, EUA, 2016) de Shane Black: Comédia policial tem Ryan Gosling e Russell Crowe como detetives que descobrem uma conspiração criminosa nos anos 70. Apesar do tom leve, contém uma violência necessária, diálogos certeiros e a clássica situação de dois inimigos que se tornam, primeiro parceiros necessários, e depois amigos. Diversão garantida.
7. O Lamento (Goksung/The Wailing, Coreia do Sul/EUA, 2016) de Na Hong-Jin: A chegada de um misterioso estranho em uma aldeia tranquila coincide com uma onda de assassinatos cruéis, causando pânico e desconfiança entre os moradores. Quando a filha do oficial de investigação Jong-Goo cai sob a mesma magia selvagem, ele chama um xamã para ajudar a encontrar o culpado. Em uma história que evoca o suspense, o drama, e o horror sobrenatural, somos tragados para uma investigação ligada à mortes violentas e seita sangrenta.
6. Capitão Fantástico (Captain Fantastic, 2016) de Matt Ross: você pode até não concordar com o modo radical-naturalista que Viggo Mortensen educa e conduz a sua família – eu achei o máximo – mas uma coisa é consenso: que drama maravilhoso sobre a liberdade X o poder, sobre como as escolhas mais difíceis podem nos tornar melhores e como nossa sociedade trata como doença aqueles que são diferentes dos demais e fogem do lugar comum. Viggo Mortensen tem a atuação da sua vida e “Sweet Child O´Mine” nunca foi tão linda, numa sequência que vale cada lágrima.
5. Animais Noturnos (Nocturnal Animals, 2016) de Tom Ford: Drama que bate forte na mente e no sentimento, mas que trafega também no suspense, a obra de Tom Ford versa sobre como um trauma romântico pode transformar a vida das pessoas. Susan (Amy Adams) e Edward (Jake Gyllenhaal) estão separados há 20 anos. Mas a relação ainda reverbera em ambos. Sua narrativa perturbadora é dotado da beleza descomunal de um filme pesado. Mas que se mostra essencial para a nossa sociedade. Aquela que veste ganância, que respira futilidade, que insiste em levar vantagem sobre o outro (pior, se gaba por isso) e é extremamente mal educada. Porque as pessoas simplesmente não são menos egoístas e procuram tão somente melhorar? Bem, se você quer apenas viver no seu “feliz” mundo de faz de contas, então se sinta convidado a chocar-se da primeira a última cena de Animais Noturnos. Leia a crítica completa.
4. A Bruxa (The VVitch: A New-England Folktale, EUA, 2016) de Robert Eggers: Bem distante do terror gratuito, dos sustos fáceis ou do sangue em excesso típicos das produções do gênero o filme tem uma abordagem bem diferente do convencional. O fanatismo religioso, a opressão e a paranoia são fundamentais na derradeira função que a história se propõe: o desmantelamento do sagrado núcleo familiar e a corrupção da inocência. Leia a crítica completa.
3. Aquarius (Aquarius, Brasil, 2016) de Kleber Mendonça Filho: Com a melhor interpretação de sua carreira, Sônia Braga deixa de ser Sônia Braga para dar vida a Clara, jornalista aposentada, viúva e última moradora do prédio que dá nome ao filme. Seu apartamento está localizado em, área nobre do Recife. Local onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida. O problema é que uma construtora tem um projeto para construir um novo prédio no espaço, e passam a assediar Clara, como uma ameaça para que mude de ideia e saia dali. O drama nacional (re)lembra que é preciso viver o presente, mas também relembrar o passado, e dar valor ao que foi vivido. Seja uma dor, uma doença – marcada no corpo – ou simplesmente o amor. Em um filme que resgata memórias e a falta delas através da mudança de uma cidade, o que podemos lamentar mesmo é que o Brasil está cheio de cupins. Leia a crítica completa.
2. A Chegada (Arrival, EUA, 2016) de Dennis Villeneuve: Quando seres interplanetários deixam marcas na Terra, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça ou não. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de Louise e a existência de toda a humanidade. E mesmo lendo essa sinopse, posso garantir que não é um filme sobre alienígenas, mas sim sobre o sentimento humano mais puro: o amor. Se você soubesse tudo que vai acontecer na sua vida, o que faria diferente? Um filme para refletir sobre a nossa existência.
1. Elle (Elle, França/Alemanha, 2016) de Paul Verhoeven: Michèle (Isabelle Huppert) é a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale. O problema é que o agressor misterioso ainda não desistiu dela. Drama de suspense que faz trincar os dentes, disparar o coração e arrepiar a alma. Palmas para Isabelle Huppert, que montou um quebra-cabeça de emoções em uma personagem tão complexa quanto sensacional.
Menção honrosa (Dupla) para o cinema nacional:
Sinfonia da Necrópole (Idem, Brasil, 2016) de Juliana Rojas: Um interiorano se muda para São Paulo com a promessa de um emprego como um aprendiz de coveiro. Entre as canções originais (seis no total) e os diálogos, a trama aponta para uma história de amor improvável no cemitério. Lugar sem vida, porém que ascende as relações humanas entre duas pessoas solitárias. Os atos atos musicais transportam o espectador para uma experiência lúdica, deixa a narrativa aceitável também ao usar elementos sobrenaturais. Como resultado, temos uma bem-humorada crônica social sobre uma cidade dentro da cidade. Leia a crítica completa.
Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois (Idem, Brasil, 2016) de Petrus Cariry: Clarisse (Sabrina Greve) mora em Fortaleza, longe do pai, mas decide ir até sua casa para visitá-lo. Na casa do pai moribundo, ela descobre segredos da sua infância que envolve um irmão que morreu. Em um clima tenso e claustrofóbico, ela mergulha em um turbilhão emocional. Filmaço de Petrus Cariry tem uma explosiva interpretação de Sabrina Greve como a protagonista embebecida de traumas em um presente de sangue. Um drama sobre um acerto de contas com o passado, recheado de suspense psicológico e com um final sangrento.