Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl With The Dragon Tatoo, 2011) de David Fincher
O filme: a trama nos apresenta Mikael Blomkvist, um jornalista recém processado (Daniel Craig) e uma inteligentíssima hacker, Lisbeth Salander (Rooney Mara), que são contratados para, juntos, desvendarem um crime ocorrido há 40 anos: o desaparecimento e possível assassinado de uma jovem de 16 anos, Harriet, sobrinha do patriarca da família Vanger, o contratante. O local do desaparecimento e investigação é uma congelada ilha da Suécia, seus personagens peculiares os respectivos segredos do passado.
Porque assistir: são impressionantes duas horas e trinta e oito minutos com o ritmo que segue a mesma toada desde a abertura, que vai além do cool. A trama central é o desaparecimento de Harriet, mas para chegarmos ao produto final há a construção perfeita de um quebra-cabeça visual, orquestrado por Fincher, adaptado de forma soberba por Steven Zaillian e com um brilhante trabalho de edição.
Primeiro são duas histórias paralelas e que seguem apresentando os protagonistas. Mikael, o jornalista da revista Millennium, que, após fortes acusações é perseguido pelo empresário acusado. E a sua escolha à proposta de trabalho investigativo no caso Harriet é bom para os dois lados: bom para ele, que se resguarda, e bom para o contratante, que tem um profissional gabaritado, mas desacreditado no mercado atual.
Do outro lado temos Lisbeth. Seu visual é esquisito. Parece que veio das trevas. Ela é a garota de tatuagem de dragão. Calças de couro, camisas cortadas, piercings, cabelo desgrenhado e sem sobrancelha. Por baixo disso há a construção, as motivações e a absurda interpretação de Rooney Mara!
Existem sentimentos, conforme a relação com seu antigo tutor (que tem um derrame), e isso é perfeitamente demonstrado. Mas para a sociedade em geral uma desajustada, uma pária. E a justiça do estado não tarda a chegar. A justiça injusta onde “o estado cuida de você”. Ledo engano. Mas dessa violentíssima experiência há a armadilha da armadilha, um banho para limpar a dor, uma decisão moral de se tatuar (mais uma vez) onde a dor não é problema e uma vingança perfeita.
Melhores momentos: numa versão de Trent Reznor & Atticus Ross para a clássica Immigrant Song do Led Zeppelin a abertura (de arrepiar) já denuncia o autor de cinema David Fincher. O visceral que alia sua técnica às trucagens da indústria (efeitos, fotografia, edição, trilha, mixagem de som) a serviço da densidade artística.
Pontos fracos: o filme é longo, mas necessário.
Na prateleira da sua casa: basta olhar sua filmografia e perfil (nas informações especiais abaixo) para comprovar e que por isso é talhado e meio para a espinhosa função de conduzir a adaptação americana do primeiro livro da Trilogia de Stieg Larsson, (já filmado na Suécia com sucesso artístico e de público) homônimo é uma obra tensa e arrebatadora. Aplausos para o não uso de diálogos expositivos e nunca forçar uma explicação.
O roteiro, à princípio emaranhado, com flashbacks (classudos), reconstrução da ação com as fotos antigas, com muitos personagens, vário nomes e funções diferentes, se desenrola com uma fluidez impressionante. Com saídas além de plausíveis, mas acima de tudo inteligentes, como ao explicar a situação da revista Millennium e do jornalista Mikael através de uma reportagem de TV, a descoberta das citações bíblicas, o fim do caso Harriet ou até mesmo os diálogos espetaculares com um assassino assumido. Nada ocorre por acaso. Tudo é costurado e justificado.
Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres é um suspense policial forte, tão violento e denso quanto a obrigatória experiência sensorial de vê-lo no cinema. Além de trazer uma das mais bem construídas anti-heroínas acidentais da história recente: Lisbeth Salander. Desde já ansioso para conferir o próximo Millennium. Rooney Mara concorreu ao Oscar e Globo de Ouro de melhor atriz. O filme ganhou a estatueta de melhor montagem e foi indicado ainda aos prêmios da academia de fotografia, mixagem de som e som.