Nem todo mundo viaja para curtir a folia de carnaval por aí e nesse período de feriado prefere aproveitar para descansar e curtir a tranquilidade de outros programas. Que tal então um cineminha? Às vésperas da entrega do maior prêmio da indústria de Hollywood, várias produções que concorrem ao Oscar estão em cartaz na cidade. E olha que tem para todos os gostos, da animação em 3D (Detona Ralph) ao drama histórico (Lincoln), uma superprodução musical (Os Miseráveis) e comédia romântica (O Lado Bom da Vida), do faroeste (Django Livre) até a mistura de ação e suspense (O Voo). Agora só resta escolher… Que tal, todos?
Cinema
Django Livre (Django Unchained, 2012): western com cinco indicações ao Oscar (melhor filme, roteiro original, ator coadjuvante – Christoph Waltz, fotografia e som). Django (Jamie Foxx) é um escravo que é libertado pelo caçador de recompensas, King Shultz (Christoph Waltz). Juntos tramam um plano de vingança e o resgate da esposa de Django, de posse de um malvado senhor de escravos, Calvin Candle (Leonardo DiCaprio). Mais Tarantino, impossível. O que esperar? Sangue, claro. Diálogos inteligentes e ferinos. Sim! Um elenco recheado. Tem! E um contexto histórico para temperar (bem) a situação. Um tabu americano, a escravidão e o pesado preconceito americano com os negros. Feito. Não podemos esquecer a trilha sonora e o bônus das referências, que às vezes só o próprio autor sabe que existe. Pronto, sintam-se a vontade com esse bang-bang Tarantinesco, e dos bons.
O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012): comédia dramática com oito indicações ao Oscar (melhor filme, diretor – David O. Russell, ator – Bradley Cooper, atriz – Jennifer Lawrence, ator coadjuvante – Robert De Niro, atriz coadjuvante – Jacki Weaver, roteiro adaptado e edição). Após descobrir a traição da esposa, homem bipolar reage violentamente e é internado em hospital psiquiátrico e abandonado pela esposa. Após nove meses, se torna adepto da filosofia positiva, tem alta e retorna para casa dos pais. Em sua nova fase conhece uma jovem viúva e juntos eles decidem se ajudar a superar seus traumas. Uma comédia romântica completamente fora dos padrões, apesar dos clichês. Uma história de amor entre desajustados num mundo que se acha ajustado, mas não é. Fique atento aos sinais, pois sempre haverá um raio de esperança.
Os Miseráveis (Les Miserábles, 2012):a superprodução originalmente da obra de Victor Hugo, é uma adaptação do premiado musical da Broadway e traz consigo oito indicações ao Oscar, incluindo melhor filme. No musical o elenco de voz afinada (exceto pelo vozeirão desengonçado de Russell Crowe) traz os vencedores do Globo de Ouro de melhor ator (comédia ou musical) Hugh Jackman e Anne Hathaway, melhor atriz coadjuvante, desde já favorita ao Oscar. Belo musical, que emociona e diverte.
Detona Ralph (Wreck-it Ralph, 2012): indicado ao Oscar de melhor animação, a obra é uma grande homenagem ao mundo do fliperama. Ralph é um vilão de um jogo de fliperama que deseja um dia ser o herói. Quando as máquinas desligam ele abandona seu jogo e parte em busca do seu sonho, se envolvendo (e entrando) em outros jogos e histórias, mudando assim o curso normal do mundo por trás do fliperama. Uma espécie de Toy Story dos games é divertido, e ainda traz a participação de vários ícones do vídeo game, como Sonic, Pac-Man e os lutadores de Street Fighter. E em 3D tudo fica melhor.
O Voo (The Flight, 2012): após realizar uma manobra incrível e conseguir fazer um pouso forçado num avião comercial lotado de passageiros, piloto veterano é considerado um herói. Contudo, as investigações apontam uso álcool e drogas durante o vôo e a situação toma grandes proporções com a cobertura da mídia e a decisão de um possível julgamento. Dirigida pelo oscarizado Robert Zemeckis (Forrest Gump – O Contador de Histórias, 1994), a produção concorre ao Oscar de melhor roteiro original e á responsável pelo retorno de Denzel Washington à disputa da estatueta de melhor ator, lembrado pela academia 11 anos após vencer pela atuação em Dia de Treinamento (2001). A obra promete tensão, drama e muita ação (com uso de efeitos especiais), principalmente durante o incrível acidente aéreo que dá início a trama.
Lincoln (Idem, 2012): drama com 12 indicações ao Oscar (melhor filme, diretor – Steven Spielberg, ator – Daniel Day-Lewis, ator coadjuvante – Tommy Lee Jones, atriz coadjuvante – Sally Field, roteiro adaptado, edição, fotografia, design de produção, figurino, trilha sonora e edição de som). Esse recorte da história americana é um olhar preciso dos acordos políticos que se deu a aprovação da 13º. Emenda, que libertou os escravos. Daniel Day-Lewis, com um luxuoso auxílio de maquiagem, dá vida ao Presidente, que até hoje, é o mais reverenciado pelos americanos. Já pode preparar o discurso e a prateleira, pois seu 3º. Oscar de melhor ator vem aí.
Nas locadoras
Para quem prefere o aconchego do seu sofá (ou cama), preparamos uma lista de nove filmes inéditos nos cinemas, mas que já estão disponíveis nas locadoras, com variedade de gênero e estilo. Vamos às dicas:
O Dublê do Diabo (The Devil´s Double, 2011) de Lee Tamahori: Uday é rico e completamente louco. Bebe, se droga, sequestra, mata e estupra. O iraquiano é simplesmente o primogênito filho do ditador Saddam Hussein, e por isso mesmo não tem qualquer tipo de punição aparente. Visto como um alvo fácil, Uday precisa de um dublê para aparições públicas e situações de risco. A escolha recai em Yahia, seu amigo de infância. Após passar por cirurgias plásticas forçadas, Yahia se torna o tal dublê e tem início uma vida de loucuras de um mundo que não lhe pertence, cheio de dinheiro, mulheres fáceis (ou não), carros caros e muita violência (orgias, tiroteios em boate, assassinato). E a grande questão é saber se sairá dessa. O resultado é bem interessante e traz Dominic Cooper em papel duplo, com a vantagem do overacting soar apenas necessário.
Sentidos do Amor (Perfect Sense, 2011) de David Mackenzie: hoje o ser humano é realmente humano ou apenas segue a vida numa espécie de linha de produção de sentimentos pasteurizados? Recomendado aos sensíveis do sentido perfeito, que é a força do amor, esse drama romântico apresenta uma trama instigante. Uma epidemia começa a roubar as percepções sensoriais das pessoas e a cientista que a estuda descobre o amor por um chefe de cozinha. O casal Eva Green e Ewan McGregor apresenta atuação encharcada de sensibilidade e as cenas que antecedem a perda dos sentidos são incríveis, mas a descoberta de outros sentidos é ainda melhor.
O Abrigo (Take Shelter, 2011) de Jeff Nichols: o que dizer de um pai de família que tem tudo, mas simplesmente começa a ter pressentimentos assustadores sobre o fim do mundo? Diante das visões apocalípticas e uma dúvida entre o que está por vir (ou não), ele decide construir um abrigo para proteger a si e a sua família. Um drama de suspense sensacional que apresenta um impressionante Michael Shannon. Ao se calcar em possíveis traumas hereditários, transforma seus pesadelos em sentimento de perplexidade e torna possível a dúvida entre o real e o imaginário.
A Outra Terra (Another Earth, 2011) de Mike Cahill: um belo filme que mistura de forma natural drama e ficção, ao apresentar uma trama sobre a descoberta de uma nova Terra no espaço. O mais interessante é que lá funcionaria uma espécie de espelho daqui. Sim, mas até chegarmos a esse ponto da história, vamos testemunhar um acidente de carro que brutalmente destrói uma família feliz. E assim o vazio existencial e a angústia da culpa tomam conta dos sobreviventes. E assim começa um possível recomeço cristalizado na esperança de conhecer a dita Terra II. E no meio de tudo há um encontro entre duas almas que penam pela vida. Para descobrir e pensar na vida.
Pura Adrenalina (Nuit Blanche, 2011) de Frédéric Jardin: dotado de uma tensão sem fim, essa fita policial da França apresenta uma trama que envolve polícia, drogas, negociatas, sequestro e assassinato. O ponto de partida é um golpe envolvendo dois policiais e vários quilos de cocaína roubados de um poderoso mafioso local. Ao ser reconhecido, um deles tem seu filho sequestrado e é envolvido numa jogada criminosa dentro de uma boate lotada. Esqueça o genérico título nacional e prepare-se para a ação, que ocorre noite adentro e envolve dois traficantes turcos, um policial corrupto e outra policial em busca da verdade.
O Substituto (Detachment, 2011) de Tony Kaye: de métodos próprios, um professor substituto (um sofrido Adrian Brody) aplica o autocontrole e o distanciamento para lidar com todas as pressões de um pesado dia a dia no sistema público de ensino americano. Será que ainda há esperança para o mundo de hoje? E a reposta virá nessa obra que pulsa dolorosamente (na maior parte do tempo), valorizado pelo protagonista, construído por traumas do passado envolvendo a mãe (já falecida), seu avô (numa clínica de idosos), um flerte com uma insegura colega de trabalho e uma relação (meio paternal) acidental ao acolher em seu cubículo uma menor que se prostituía na rua.
Cela 211 (Celda 211, Espanha/França) de Daniel Monzón: produção modesta, mas extremamente bem sacada. Toda a ação do drama policial se passa num presídio, durante uma rebelião comandada pelo perigoso Malamadre (Luis Tosar), onde um recém-contratado agente carcerário (Alberto Ammann) se passa por detento da tal cela 211 para não ser assassinado. Uma ótima e bem sucedida produção franco-espanhola, vencedora de oito prêmios Goya (o Oscar da Espanha), incluindo filme, diretor, roteiro adaptado e ator (Tosar).
Ataque ao Prédio (Attack the Block, 2011) de Joe Cornish: é a junção ousada das ideias de Super 8 (2011) + Os Goonies (1985) + Gremlins (1984). Sim, mas nada hollywoodiano, essa surpresa vem da Inglaterra e é uma produção independente. Na trama aliens peludos invadem um subúrbio de Londres. A reação vem de um grupo de garotos que enfrentam a ameaça do jeito que eles podem: seja no braço, com tacos, revólveres, fogo e tudo que tiver para ser usado. Muito humor negro e tensão com um elenco de bons garotos desconhecidos, que recebem a ajuda de Joddie Whitaker (a enfermeira) e Nick Frost (o vendedor). Arrisque algo diferente e divirta-se.
Reino Animal (Animal Kigdom, 2010) de David Michod: a mãe do jovem Josh (James Frecheville) suicidou-se, e por isso ele tem de ir morar com a avó (Jacki Weaver), chefe de uma família de criminosos. Ele vai testemunhar assassinatos, uso de drogas, roubos (e até comete um) e o envolvimento com policiais corruptos. Em paralelo, o chefe de polícia (Guy Pearce), que está no encalço dos bandidos, se aproxima para tentar fazê-lo testemunhar contra seus tios. O cenário é submundo criminoso australiano, e a obra investe mais no drama que policial. De tom pesado, a direção é elegante e o roteiro é ótimo, com final corajoso e que flerta com a justiça, tão incomum em terras sem lei.