Sinfonia da Necrópole (Idem, 2016) de Juliana Rojas
O brasileiro tem uma grande capacidade de rir da própria desgraça. Principalmente pelas suas limitações sociais ou pela simples pobreza mesmo, seja ela financeira ou de espírito.
Em Sinfonia da Necrópole (2016), o protagonista é o interiorano Deodato (Eduardo Gomes), que se muda para São Paulo com a promessa de um emprego que o Tio conseguiu. Será um aprendiz de coveiro, mas que não cansa de passar mal com o contato obrigatório com os mortos. Está criada uma crise existencial dotada de um teor cômico.
Até a chegada de uma motivação. O crescimento populacional do cemitério torna necessária uma expansão imediata do local. Para isso, a administração e sua equipe de funcionários que dão conta do fluxo de óbitos e sepultamentos, recebem a visita de Jaqueline (Luciana Paes), uma burocrata do serviço funerário de São Paulo. Juntos, eles devem fazer o recadastramento dos túmulos abandonados, mas estranhos eventos fazem o aprendiz questionar as implicações em se mexer com os mortos.
Entre as canções originais (seis no total) e os diálogos, a trama aponta para uma história de amor improvável no cemitério. Lugar sem vida, porém que ascende as relações humanas entre duas pessoas solitárias. A “Necrópole” (que significa “Cidade dos Mortos”) também contém elementos assustadores e uma atmosfera pacífica em quantidades iguais. Provoca reflexões existenciais, mas também evidencia o fim, com a decomposição da carne.
Mas a comédia musical não vai muito fundo nas relações e reflexões. O que move a sua história é como reagimos as mudanças, e como abordei no início, sem deixar de rir da sua própria condição social.
Além disso, a opção da diretora e roteirista Juliana Rojas em optar pelos atos musicais, para transporta o espectador para uma experiência lúdica, deixa a narrativa aceitável também ao usar elementos sobrenaturais.
Com atuação precisa da dupla Eduardo Gomes (que faz o tipo inocente) e Luciana Paes (algo meio Rossy DePalma dos filmes do Almodóvar), com uma ajuda de Hugo Villavicenzio (o administrador boa praça) e ainda a composição meio mambembe do elenco restante, o filme tem uma caída no terço final, mas funciona. Como resultado, temos uma bem-humorada crônica social sobre uma cidade dentro da cidade.