Era para ser um estouro. Após o sucesso (de público e crítica) do sexy e violento Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992), o diretor Paul Verhoeven e o roteirista Joe Eszterhas se uniram novamente em um projeto ousado. A previsão era de, de novo, fazer muito dinheiro e fabricar não apenas uma nova estrela sexy (Elizabeth Berkeley), mas também jogar holofotes sobre uma quase madura, mas ainda desconhecida atriz (Gina Gershon). No roteiro há muito sexo (claro), drogas e uma escalada de poder através de um show em Las Vegas.
Descrito nos bastidores da indústria em meados dos anos 90 como um A Malvada (All About Eve, 1950) do showbizz de Vegas, Showgirls (1995) custou muito para a época. Cerca de U$ 45 milhões foram investidos na história de uma jovem e ambiciosa stripper (Elizabeth Berkley) que se torna uma estrela ascendente nos shows eróticos de Las Vegas ao substituir na hierarquia uma decadente showgirl (Gina Gershon), enquanto um poderoso produtor (Kyle McLachlan) se envolvem com ambas.
Rendeu apenas U$ 20 milhões, uma enxurrada de críticas, e o título de pior filme do ano. Não é para tanto. Há sequências ridículas, mas extremamente divertidas, dentre elas a lap dance que vai um pouco adiante, a audição exagerada, a transa na piscina – que quase acaba a água do hotel todo -, o embate sexy e feroz entre a stripper e a showgirl titular…
É um clássico caso de Guilty Pleasure. Traduzindo, é o tipo do filme que se ver com um certo prazer, mesmo sabendo de suas pífias qualidades. Cabe na frase, “é tão ruim que fica muito bom”. Como disse Tom Leão em O Globo, o tempo transformou Showgirls num cult movie. E a produção acaba de completar 20 anos – estreou nos EUA em 22 de setembro de 1995, e no Brasil apenas meses depois, em 14 de junho de 1996. Anos depois a fita se tornou cultuada com projeções em sessões de meia-noite pelos EUA.
As atuações (se é que pode se categorizar assim) são histriônicas. Seu triângulo amoroso-sexual central, Elizabeth Berkeley, Kyle McLachlan e Gina Gershon, clama por atenção. Seja com suas roupas mínimas, com os peitos de fora, dinheiro voando ou uma lap dance que vai até o fim.
E o sempre violento Paul Verhoeven (que também assina Robocop, 1987) fala direto com seu público, em altos tons de trash e estilo assumidamente afetado dos personagens. Sexy sendo vulgar mesmo. Pois a coloração da sua produção é essa aí, o culto ao sexo, ao poder e suas variantes.
Após a má repercussão do drama-sexy-camp, Elizabeth Berkeley sumiu do mapa e teve créditos minúsculos em O Clube das Desquitadas (1996), Um Domingo Qualquer (1999), O Escorpião de Jade (2001) e S. Darko (2009). Gina Gershon relegou a fita e, exceto por Ligadas Pelo Desejo (1996), conseguiu alguns bons trabalhos, mas sempre como coadjuvante (A Outra Face, 1997; O Informante, 1999; P.S. Eu te Amo, 2007; e Killer Joe: Matador de Aluguel, 2011). Já Kyle McLachlan, bem ele é Kyle McLachlan e continua estranho. O eterno agente do FBI Dale Cooper de Twin Peaks (1990/91) e que vai voltar ao papel em 2017.
Com 13 indicações ao Framboesa de Ouro, Showgirls faturou nada menos que sete estatuetas, recebidas por seu próprio realizador. Em tom de autoparódia, foi o primeiro candidato que foi à cerimônia para receber tal premiação. Verhoeven levou para casa os prêmios de pior filme, diretor, roteiro, atriz (Elizabeth Berkley), jovem estrela (Elizabeth Berkley), casal e canção. Mas repito, é tão ruim, mas tão ruim, que é bom.