“Os canalhas são sempre mais interessantes do que as pessoas de bem. O interesse dos personagens demoníacos é que podemos zombar deles com facilidade”.
As palavras são de Stanley Kubrick, quando toma de exemplo o personagem de Alex, em Laranja Mecânica (1971), para falar como o público do cinema é mais atraído por vilões.
Ou seja, ser vilão tem seu charme. Passar dos limites sem se preocupar com a lei, rir do perigo, brincar com as normas da sociedade. Outros são mais ousados, pois quem aí não gostaria de conquistar o mundo? Outros preferem apenas ser malvados mesmo. Ou no seu íntimo e pessoal, às vezes são apenas eles mesmos. Tem até aqueles que querem apenas fazer justiça com as próprias mãos, e, aos olhos da lei, se tornam criminosos. Para uns, o mal não veio no sangue, e pode ter sido urdido pelas dificuldades da vida, por um acidente ou mudança de destino incontrolável. Fazer o quê, né?
Seja de origem do universo dos quadrinhos, da literatura ou mesmo de um roteiro original para o cinema, a sétima arte eternizou muitos, muitos vilões. Mas existem alguns que sempre conquistam o público, os malvados favoritos. O Clube Cinema separou 16 deles, mas são tantos vilões admiráveis, quem sabe não sai uma lista com a Parte II… E aí, você concorda?
1. Alex deLarge em Laranja Mecânica (1971): o próprio Stanley Kubrick comentou sobre o fascínio exercido por seu protagonista, vivido por Malcolm McDowell, na tela. “Alex representa todo o nosso inconsciente, no nível onírico e simbólico em que o filme nos atinge. O inconsciente não tem consciência. No inconsciente, todos nós matamos e violamos. Quem gosta do filme tem uma espécie de identificação com ele (…) Eu apenas tentei apresentá-lo como ele se sente e como se vê. Evidentemente, em um determinado momento, surge certa simpatia por ele. Como estava em conflito com pessoas tão más quanto ele, mas de outra maneira, era possível pensar, se fizéssemos uma rápida análise, que havia simpatia por ele.” Precisa falar mais alguma coisa?
2. Darth Vader em Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977): enganado pela força e seduzido pelo lado negro, Anakin Skywalker perdeu a mulher, teve os membros decepados e o corpo totalmente queimado. Mas a gente não sabia nada disso quando fomos surpreendidos com o maior vilão de uma galáxia muito, muito distante. Nas telas o corpo era de Davdi Prowse, com a voz indefectível de James Earl Jones, e a história do cinema nunca mais seria a mesma quando aquela respiração tomava conta da tela e alimentava ainda mais os nossos medos.
3. Gordon Gecko em Wall Street: Poder e Cobiça (1987): ah, o poder. Movido pela ganância do dinheiro, Gordon Gecko (Michael Douglas) negociaria até a sua mulher. E ao seduzir o jovem Charlie Sheen para o lado negro de Wal Street, com direito a mulheres, carros de luxo, festas, bebida e drogas, Michael Douglas seduziu também a audiência. E o Oscar, que levou pra casa de melhor ator. Oliver Stone cristalizou o mundo dos youppies americanos em seu protagonista, de terno bem cortado, suspensórios, uísque, cocaína, charutos e muito dinheiro.
4. Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes (1991): desde os primeiro contato visual com Clarice Starling (Jodie Foster), a fascinação por Hannibal (Anthony Hopkins) não é apenas a da futura agente especial do FBI. Primeiro trás de um vidro, depois amarrado em uma camisa de força, e por fim atrás das grades, o psiquiatra amedronta com suas histórias, mas também ajuda com que Clarice desvende sua própria mente e consiga chegar até um serial killer. Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado, melhor atriz (Foster) e ator (Hopkins), para uma interpretação incontestável.
5. Mulher-Gato em Batman – O Retorno (1992): em uma obra tão adulta e violenta quanto O Cavaleiro das Trevas, Tim Burton entrega uma das vilãs mais desejáveis da história do cinema. A transformação de Selina Kyle em Mulher-Gato, composta por Michelle Pfeiffer, é sensacional. Da sedutora lambida em um Batman (Michael Keaton) completamente dominado, à sugestão de devorar o passarinho de Pinguim (Danny DeVitto), passando pelo banho que se dá em si mesmo, Pfeiffer é a dona do filme. MIAU!
6. Eric Draven em O Corvo (1994): o músico Eric Draven (Lee) e sua noiva Shelly (Soa Shinas) são brutalmente assassinados na noite que precede o Halloween. Um ano depois e guiado por um corvo e com poderes sobrenaturais, Eric volta do mundo dos mortos para iniciar uma caçada de vingança. Em um conto sobrenatural baseado na série em quadrinhos de James O’Barr, Eric Draven/O Corvo, não é exatamente um vilão (aos olhos da lei sim), mas um anti-herói que veio das trevas em busca de justiça.
7. Patrick Bateman em Psicopata Americano (2000): ela mata com um machado, com uma faca e outras armas, mas além disso, Patrick Bateman (Christian Bale) é formado por uma psicopatia que vai além disso. Seu corpo é um altar, com seus exercícios abdominais, o bronzeamento artificial, o ritual de cremes e óleos… Mas sua mente trabalha a favor de uma sociedade capitalista, que o induz às suas ações/crimes de uma forma totalmente banal. Esfaquear um mendigo? Sem problema. Matar uma mulher após o sexo? Claro. Mas é importante também ter um cartão de visitas melhor que seus amigos, um apartamento primoroso e os últimos lançamentos em tecnologia.
8. Grinch em O Grinch (2001): baseado em um conto natalino politicamente incorreto, o protagonista dá voz ao desgosto e enfado diante do Natal. E não é que no ódio declarado ao Natal da criatura mítica é que nos divertimos ao acompanhar as suas ações pela eliminação da detestada festa. E acredite, a antipatia do Grinch (Jim Carrey) pode ser compartilhada por muitas pessoas na nosso dia a dia. E por quê não?
9. Jigsaw em Jogos Mortais (2004): James Wan surpreendeu com uma história perturbadora. A história de Jigsaw (Tobin Bell), serial killer que armava armadilhas com o intuito de fazer as pessoas darem valor à vida, também funcionava como pequenos contos de vingança. Ou seria justiça (sangrenta)? Com o sucesso, infelizmente uma nova franquia ganhava vida, mas que só desceu a ladeira e esticou ao máximo uma história engenhosa, e se transformou num jorro de sangue inconsequente.
10. V em V de Vingança (2005): afinal, V (Hugo Weaving) é um justiceiro ou um vingador? V deseja fazer uma revolução, a partir da sua mente. Cavaleiro de seu próprio exército, é resultado de experiências científicas com prisioneiros, mas que fugiu para tentar mudar a história. De um lado, um governo totalitarista, que usa a televisão para difundir o medo na população e oprimi-la. Do outro, V, que, com os seus ideais, tenta fazer com que o povo britânico se volte contra essa ditadura. E aí, que de lado você está?
11. Coringa em Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008): tente não agonizar em 142 minutos de pura intensidade. O vilão (Coringa-Heath Ledger, Oscar de coadjuvante) domina as ações da aventura, mesmo quando não aparece, e ganha dimensões tão assustadoras e de tamanha intensidade, que consegue aterrorizar qualquer um com um simples olhar. Why so serius?
12. Anton Chigurh em Onde os Fracos Não Têm Vez (2008): com seu corte de cabelo de Beatle, e armado de um cilindro de gás, o monossilábico Anton Chigurh (Javier Bardem) é o medo em pessoa. Imprevisível e incansável, fará de tudo para cumprir a sua missão. Pelo papel (e que papel), Javier Bardem venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante, e o filme dos Irmãos Coen venceu também o prêmio de melhor filme.
13. Coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios (2009): é inegável que o Cel. Hans Landa construído por Christoph Waltz rouba o filme de Tarantino para si. Quando aparece em tela, o medo toma conta, mas também a diversão. Como não se envolver com suas histórias, tiradas e até violência, provenientes de sua inteligência (o cara é um poliglota!) e formação nazista. Oscar de coadjuvante para ele, e um lugar entre os melhores da história. Bingo!
14. Ceasar em Planeta dos Macacos – A Origem (2011): no meio da aventura de ficção que traz animais X humanos, um espetacular misto de interpretação/efeitos especiais/expressões de Andy Serkis, como o macaco Ceasar. No aspecto dramático o roteiro constrói muito bem a relação entre o núcleo familiar e o macacão, o verdadeiro protagonista da obra. Todo o sentimento do mundo está nos seus olhos, e são transmitidos com extrema perfeição. Palmas de pé pela atuação de Serkis + Weta Digital, responsável pela transposição dos efeitos.
15. Immortan Joe em Mad Max: Estrada da Fúria (2015): o melhor filme da temporada 2015 e um dos melhores filmes de ação da história do cinema tem um vilão à altura. Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) não é amado, mas tem um séquito de seguidores que o elevam à qualidade líder religioso/salvador da pátria e senhor do mundo. Uma aberração que será combatido pela dupla Imperatrix Furiosa (Charlize Theron) e Max (Tom Hardy) em uma trama gloriosamente feminista movida a gasolina, areia, suor e sangue.