Perdido em Marte (The Martian, 2015) de Ridley Scott
Por Thiago Sampaio*
Baseado no livro de Andy Weir, a ficção-científica realista Perdido em Marte (The Martian, 2015) é a redenção do veterano diretor Ridley Scott. Anos após oscilar entre produções irregulares, consegue transformar uma trama de sobrevivência em um inteligente produto inserido na cultura pop sem perder os cunhos científicos. O filme, disponível em DVD, Blu-ray (3D e 2D) e Cópia Digital, concorreu a sete Oscar, incluindo melhor filme e ator (Matt Damon).
A trama conta a história do astronauta Mark Watney (Matt Damon), enviado a uma missão em Marte. Após uma severa tempestade ele é dado como morto, abandonado pelos colegas e acorda sozinho no misterioso planeta com escassos suprimentos, sem saber como reencontrar os companheiros ou retornar à Terra.
Responsável por dois grandes clássicos da ficção científica –“Alien, o Oitavo Passageiro” (1979) e “Blade Runner, o Caçador de Andróides” (1982) –, Ridley Scott tem filmes marcantes no currículo como “Thelma & Louise” (1991) e “Gladiador” (2000), mas nos últimos anos tem apresentado produções esquecíveis como “Êxodo: Deuses e Reis” (2014) e “O Conselheiro do Crime” (2013), ainda que “Prometheus” (2012) tenha reacendido o seu talento para o gênero sci-fi. E é justamente no espaço onde ele reencontra o seu brilho, e a nova sci-fi é o seu trabalho mais destacado em décadas.
Ao narrar a trajetória de Mark Watney para sobreviver em um planeta sem recursos naturais, o cineasta de 77 anos apresenta uma obra leve, bem humorada e que prende o espectador ao longo dos 141 minutos de projeção.
Ridley Scott não teme em incluir momentos cômicos que beiram o pastelão, como quando um experimento de Mark Watney explode, ele voa longe, e em seguida aparece na câmera cheio de queimaduras para dizer “é, eu me explodi”. Em meio a trapalhadas, o bom humor do protagonista é um ponto alto, não ousando nos palavrões durante contato com os membros da Nasa na terra ou com jargões prontos, como “chupa, Neil Armstrong”.
Com eficiente roteiro de Drew Goddard (Guerra Mundial Z, 2013), a adaptação soa de maneira didática pois, ao mesmo tempo em que o botânico Mark Watney se encontra sozinho e precisa utilizar todo o seu conhecimento científico, ele “conversa” o tempo todo com o espectador através da câmera. O que faz todo o sentido, afinal, mesmo se saísse sem vida, ali deixaria o registro da sua experiência. Lembrando que o longa contou com consultores da Nasa para representar Marte e uma missão espacial com exatidão.
Se o clima leve prevalece durante a maior parte do tempo, a obra também guarda espaço para excelentes momentos de tensão, como a grandiosa cena de ação no clímax. Em meio a tudo isso,Ridley Scott destila inúmeras referências pop, como “O Senhor dos Anéis” e até “Homem de Ferro”. Nesse ponto, destaque para a divertida trilha-sonora, que consiste em uma playlist repleta de hits de discoteca dos anos 70, que vão de “Hot Stuff” (Donna Summer) a “Waterloo” (ABBA). E não poderia haver canção mais adequada para o longa do que “Starman”, de David Bowie, para o deleite dos apreciadores.
Com talento conhecido tanto para o drama como para a ação, Matt Damon (vencedor do Globo de Ouro de melhor ator) apresenta um dos personagens mais carismáticos da sua carreira, sem precisar contracenar com ninguém. No papel de Mark Watney, ele faz o espectador rir, sofrer, lamentar pelos seus acidentes e, principalmente, torcer por ele até o final.
Destaque também para o grandioso elenco de apoio. A tripulação da nave formada por Jessica Chastain, Michael Peña, Sebastian Stan, Kate Mara e Aksel Hennie têm grande importância na narrativa, assim como os representantes da Nasa na Terra, Chiwetel Ejiofor, Sean Bean, Kristen Wiig e Jeff Daniels (diretor principal da Nasa e antagonista da trama).
Filme cinematográfico, daqueles que dá gosto de ver na tela grande, Perdido em Marte (vencedor do Globo de Ouro de melhor filme) continua uma grande espetáculo também como sessão de cinema em casa. É uma história de superação, repleta de referências culturais e científicas, marcado por um forte clima de otimismo. Nos dias atuais, encontrar tal mistura é algo tão difícil como encontrar vida em Marte.
Para os colecionadores, muita emoção do Blu-ray (duplo com versões 3D e 2D – preço sugerido R$ 69,90). Nos extras, os especiais remontam a feitura da ficção-científica. “Sinal Obtido: Roteiro e Direção”; “Invadindo Marte: Elenco e Figurino”; “Ares III: Despedida”; “Ares: Nossa Maior Aventura”; “Deixe sua Marca”; “Tragam-no Para Casa”; Erros de gravação, trailer e galeria de arte da produção.
*Thiago Sampaio é jornalista e crítico de cinema do Tribuna do Ceará, com o blog Cena Cultural.