A Onda (Die Welle, Alemanha, 2008) de Dennis Gansel
Em tempos de forte intolerância e desrespeito às diferenças, com os discursos de ódio aflorando na internet, resolvi analisar A Onda (Die Welle, Alemanha, 2008) de Dennis Gansel, que aborda a seguinte questão: “Seria possível a volta de regimes fascistas na atualidade?”.
A verdade é que eles estão mais próximos do que muita gente imagina, pois é justamente nos momentos de crise política e descrédito com as instituições que os ultraconservadores aproveitam para fascinar a população com promessas de ordem por meio da violência. Não à toa, vemos pessoas defendendo a instauração de uma ditadura militar.
Geralmente, costumo assistir remakes já com um pé atrás por se tratar de filmes sem um argumento original. Neste caso, realmente temos uma versão melhorada e mais aprofundada da história. O primeiro filme é estadunidense, de 1981, dirigido por Alexander Grasshoff. Uma produção quase que artesanal, com atuações rasteiras e menos de cinquenta minutos de duração. Contudo, foi o suficiente para impactar o espectador: um professor que, para explicar como o nazismo foi possível, faz uma experiência em classe que acaba tomando grandes proporções.
A história é baseada em fatos reais, aconteceu em abril de 1967 numa escola de Palo Alto, Califórnia. No que diz respeito à Alemanha, sabemos que o fascismo deixou uma mancha na história do país. Para os alemães, o assunto custa mais caro, provavelmente por isso temos, na versão germânica, um filme mais intenso e melhor produzido. Nesta adaptação do diretor Dennis Gansel, que se passa na Alemanha do final dos anos 2000, Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é um professor de História que recebe a função de ensinar sobre autocracia para uma turma de Ensino Médio.
Obviamente, não deve ser fácil falar de autocracia numa turma alemã sem mencionar o nazismo, assunto que para os alunos de Rainer é maçante. “O nazismo era uma droga, já entendemos isso. Além do mais, isso não vai mais acontecer”, reclama um dos estudantes. Então, o professor resolve criar um grupo disciplinado que atende prontamente os comandos do líder, no caso o próprio Rainer. Passam a ter códigos, um símbolo e uma saudação, de forma a simular as características de um regime fascista. Assim, os alunos começam a ficar atraídos pela ordem e disciplina.
O método do professor chama a atenção da escola, e mais alunos passam a querer participar das aulas de Rainer. É peculiar que a classe deles está localizada em cima da sala onde ocorrem as aulas sobre anarquismo. O filme é marcado por uma direção competente e uma trilha sonora onde o rock dá dinamismo e ferocidade à narrativa. Porém, talvez aqui esteja um dos equívocos do longa: tudo se passa em apenas uma semana. A velocidade dos acontecimentos não condiz com uma manipulação ideológica e não aprofunda os personagens, que ficam estereotipados.
Com o andamento da trama, os alunos vão ficando envolvidos pelo sentimento de grupo, de fazer parte de algo que seria maior que eles mesmos. Assim, começam a defender uns aos outros e a rejeitar aqueles que estão de fora. A princípio, temos a impressão que o filme não terá grandes surpresas, afinal a história já é conhecida. Contudo, desta vez, temos um final bem mais estarrecedor e reflexivo, o que evidencia o quanto o tema fascismo é delicado e preocupante para os alemães. Enfim, percebemos como fascismo não é algo apenas do passado.