Costumeiramente, o que se espera de um religioso cristão é um pensamento conservador em questões polêmicas. Em No Coração da Escuridão (First Reformed, 2017), de Paul Schrader, temos um pastor de uma capela Luterana que passa a questionar o próprio comportamento, o posicionamento diante de questões delicadas como preservação ambiental e mudanças climáticas. A trama começa quando o protagonista, Toller (Ethan Hawke), recebe o pedido da paroquiana Mary (Amanda Seyfried) para conversar com Michael (Philip Ettinger), marido dela, um ativista ambiental que deixou os protestos porque a esposa engravidou e, desde então, vive em conflito existencial. Assinado pelo mesmo roteirista premiado de Taxi Driver (1976), o filme chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
A First Reformed, capela onde Toller faz pregações, tem 250 anos. Ela, inegavelmente, um patrimônio histórico, mas, como muitos, um “consagrado desconhecido”. Apesar de ser uma joia arquitetônica, as cerimônias religiosas costumam ter pouquíssimas pessoas nos assentos, e apenas esporadicamente o prédio recebe turistas ou grupos escolares, o que faz da solidão parte constante da rotina do protagonista.
As inquietações de Michael levam Toller a refletir e a reavivar os próprios conflitos adormecidos. Um bom argumento, mas infelizmente um filme que se saiu raso. Demora demais na construção do personagem, parecendo que este nunca vai entrar em ação. Não deixa de trazer importantes reflexões, mas nada que outros bons filmes não façam com mais competência.
Muito bem detalhado quanto à direção, enquadramentos precisos, câmera estática, que, por vezes, alcança o paradoxo de mostrar a grandiosidade da pequena igreja. A interpretação de Ethan Hawke é o ponto alto da obra, que consegue lavar os dilemas do personagem para a reflexão do espectador: “Todo ato de preservação é um ato de criação. Cada coisa preservada renova a criação. É como participamos da criação”.