O Museu da Fotografia Fortaleza recebe, a partir de 4 de outubro (quarta-feira), Na Linha de Frente, exposição que reúne trabalhos dos principais fotógrafos brasileiros de conflitos armados – vertente da fotografia com o qual começamos a flertar muito recentemente apenas. A mostra, que tem curadoria de Fernando Costa Netto, apresentará ao público mais de 70 registros de fotojornalistas ainda em atividade. São trabalhos de figuras como Mauricio Lima, vencedor do prêmio Pulitzer de 2016, e de André Liohn, ganhador da prestigiada Robert Capa Gold Medal, 2011.
Ao longo das últimas décadas, não foram raros os conflitos ao redor do mundo. Duas Guerras Mundiais, o interminável embate entre Israel e Palestina, além de confrontos emblemáticos em locais como Coreia, Irã, Vietnã, Congo, Angola, Líbano e Afeganistão. Na maioria das vezes, a história que correu no front foi contada pelas lentes de fotógrafos norte-americanos, franceses e japoneses. Em nenhum desses episódios tivemos uma forte cobertura fotográfica brasileira.
“A não ser nas salas de cinema, nunca havíamos estado nas primeiras filas acompanhando uma batalha”, afirma o curador da exposição, que abarca ensaios sobre a produção brasileira de fotografia de guerra e suas nefastas consequências. Além dos registros de Mauricio Lima e André Liohn, o público também será apresentado aos trabalhos de Yan Boechat, João Castellano, Felipe Dana e Gabriel Chaim – este último, fotojornalista que teve suas imagens da Síria e do Iraque exibidas durante duas turnês mundiais da banda irlandesa U2.
“São registros surpreendentes, que entram pelos poros – infelizmente, nos tocam pela estupidez e dor. Através do olhar desses bravos brasileiros, temos acesso privilegiado a esses momentos da história, além da chance de poder refletir a respeito do que os leva a acontecer e o absurdo que representam”, completa Fernando.
Os trabalhos selecionados para a exposição apresentam ao visitante olhares pouco convencionais sobre a guerra da Líbia durante a deposição do ditador Muamar Kadafi; a retomada de Mossul, cidade iraquiana que esteve sob domínio do Estado Islâmico; a vida em um campo de refugiados no norte do Iraque e também a destruição que tomou conta das cidades de Alepo e Kobani, na Síria. A mostra traz ainda o relato fotográfico da jornada de uma família que deixou o norte do país em busca de uma nova vida na Europa.
Os fotógrafos
Natural de Botucatu, no interior de São Paulo, André Liohn é autor de um trabalho marcado pela crueza e originalidade e por sua capacidade em colocar o espectador a um braço de distância da destruição e do sofrimento causados pelos conflitos. Sem filtros é o nome do ensaio que traz o retrato das vítimas da Guerra Civil na Líbia, de rebeldes a soldados do ditador Muamar Kadafi.
O fotógrafo Mauricio Lima se define como um contador de histórias – humanas, essencialmente. É o que ele faz em Farida, um Conto Sírio, série-síntese da história de milhares de refugiados do Oriente Médio que, em 2015, abandonaram suas casas, deixando para trás vidas inteiras – famílias, bens e histórias. Durante sua jornada, o fotógrafo conheceu a família Majid, que percorreu 6 mil quilômetros, de Afrim, na Síria, até a cidade de Backhammar, na Suécia, onde vivem hoje. Ao longo desta epopeia, sua relação com seus fotografados se transformou em cumplicidade. Como fotógrafo, Mauricio visa não só provocar reações em seu interlocutor, mas exige-lhe mudanças para que juntos possam transformar o mundo em um lugar mais justo para se viver.
Sonhos é a série apresentada pelo fotojornalista João Castellano, que retrata o impacto devastador da guerra contra o Estado Islâmico nas crianças sobreviventes, que tiveram sua vida interrompida pelo conflito: perderam parentes, amigos, casa, brinquedos. Seus sonhos, entretanto, seguem intactos. Como qualquer criança, sonham com um futuro onde poderão ser médicos, professores, jogadores. Seus retratos traduzem esse sentimento: têm uma expressão grave e ao mesmo tempo serena. Nos poucos segundos de captura de seus semblantes, não são mais vítimas – tornam-se protagonistas.
O paraense Gabriel Chaim apresenta Manifesto Inequívoco, registro das violentas e covardes ações do ditador Bashar Al-Assad, em Alepo, na Síria. Suas fotografias são manifestos inequívocos de que a sociedade vai mal e os inocentes são os que pagam esta conta. O fotógrafo retrata a guerra, trazendo à luz o impacto dos conflitos à parte mais fraca e oprimida: crianças, jovens, mulheres e idosos.
O jornalista Yan Boechat revela, por fotos, aquilo que não é capaz de traduzir em palavras. Suas fotografias são a forma que ele encontrou para conhecer e levar à público situações, eventos e momentos que precisam ser trazidos à tona e discutidos. Na série Uma visão independente, ele apresenta relances das batalhas entre o Estado Islâmico e as forças armadas iraquianas em Mossul, cidade do norte do Iraque.
A barbárie que acomete a cidade iraquiana é também o pano de fundo de Faces da Guerra, ensaio de Felipe Dana, fotojornalista da Associated Press que tem passado longas temporadas na região. Em seu dia a dia, ele produz vídeos por drones e retratos com lentes curtas, levando seu interlocutor a cenários bem próximos das cenas retratadas.
Serviço
Na Linha de Frente
Local: Museu da Fotografia Fortaleza
Endereço: Rua Frederico Borges, 545 | Varjota | Fortaleza – CE
Período expositivo para o público: de 4 de outubro de 2017 a maio de 2018
Visitação: de quarta-feira a sábado, das 12h às 17h