Desde o último dia 27, e que seguiu até o último dia 3/12, ocorreu o 31° Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema em Fortaleza, em caráter híbrido (presencial/online). Minha agenda presencial começou na última segunda-feira (29), continuou na última quinta (2) e finalizei na sexta-feira (data de encerramento do festival, dia 3 de dezembro). Pois é, essa trata-se da minha cobertura pessoal de tudo que conseguir assistir no festival.
Sobre a Mostra Competitiva Olhar do Ceará de Curta-metragem, que disponibilizou 17 curtas, no canal do oficial do festival no Youtube, nós já temos o veredito, e os comentários já estão disponíveis no site.
As Mostras Paralelas: Mostra Pontes Criativas (com 5 curtas) e Prêmio Água e Resistência (com 5 curtas). Ainda estão disponíveis no canal do oficial do festival no Youtube. Sendo que a Mostra Pontes Criativas já definiu seus vencedores e juntamente com Prêmio Água e Resistência, que foram transmitidos presencialmente à noite no Cine Teatro São Luiz.
Seguindo minha cobertura pessoal, acompanhei via Canal Brasil, três longas da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem. O Canal Brasil em parceria com o Festival, transmitiu do dia 30/11 a 02/12, todos os longas da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem.
Então terça (30/12), quarta (1/12) e quinta (2/12), pelo Canal Brasil eu pude assistir a quatro longas da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem: Fortaleza Hotel, Bosco, 5 Casas e Perfume de Gardênias. Juntamente com Vacío e A Praia do Fim do Mundo (presencialmente), assisti a todos os longas da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem.
E agora irei comentar cronologicamente, os longas da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem, via Canal Brasil e minha cobertura de tudo que assistir na última quinta-feira (2/12).
Para acompanhar a primeira parte da minha cobertura, clique aqui.
Vamos lá:
Canal Brasil: Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem. Terça-feira (30/11)
Fortaleza Hotel: Ficção: 77min: Brasil. 2021
Direção: Armando Praça
Classificação Indicativa: 14 anos
Sinopse: Pilar, uma jovem camareira de hotel, tem seu caminho cruzado por Shin, uma hóspede sul-coreana de meia-idade. Os planos de ambas começam a dar errado e, apesar de tudo que as separa, acabam se aproximando e estabelecendo uma intensa relação de solidariedade, buscando encontrar, uma na outra, a solução para seus problemas.
Comentário: Armando Praça retorna ao Cine Ceará depois de vencer o festival com seu longa Greta, em 2019. No seu novo filme, Fortaleza Hotel (Premiere Mundial no Festival), mas uma vez o diretor aposta em uma em uma narrativa intimista.
Pilar (Clebia Sousa) é uma jovem camareira de um hotel, que tem o sonho de morar no exterior, mas seu destino se cruza com a hóspede sul-coreana de meia-idade, Shin (Lee Young-Lan), que vem a Fortaleza resolver um problema pessoal. E no decorrer dos longas seus conflitos também se cruzam em maior e menor grau.
Pilar e Shin se sentem estrangeiras em suas terras natais (no caso de Shin, na Coréia do Sul) e o encontro inusitado entre as duas, vai unir as duas. Já que Pilar, por ser pobre, passa por uma situação grave envolvendo um familiar, igualmente a Shin (que é rica), apesar de não serem a mesma. Pilar ajuda Shin a se locomover na cidade e assim Fortaleza passa ser um espaço onde as dores das personagens se unem.
A fotografia de Heloísa Passos, banha as protagonistas com as cores: azul e vermelho. Entretanto, não para marcar uma distinção, mas uma proximidade, vai ao decorrer do longa. E o diretor, que no começo usa o espaço para causar o afastamento entre as duas, aos poucos, vão se aproximando, até uma cena de uma dança lindíssima.
Fortaleza Hotel é um longa íntimo e ao seu final, demonstra que nem sempre nossos sonhos nem sempre são realizados. A conclusão de Shin fica em aberto (apesar de imaginar o que possa ter acontecido) e o último plano de Pilar (também o último do longa), demonstra toda essa desilusão.
Bosco: Documentário: 82min: Uruguai-Itália. 2020
Direção: Alicia Cano Menoi
Classificação Indicativa: Livre
Sinopse: Bosco é uma pequena cidade italiana de apenas treze habitantes, rodeada de castanheiros que a devoram dia após dia. A origem florestal também se impõe como destino. A um oceano de distância, no Uruguai, desde sua cadeira giratória, Orlando, com cento e três anos, nos convida a uma viagem que se torna uma fábula. Bosco é uma pequena cidade italiana de apenas treze habitantes, rodeada de castanheiros que a devoram dia após dia. A origem florestal também se impõe como destino. A um oceano de distância, no Uruguai, desde sua cadeira giratória, Orlando, com cento e três anos, nos convida a uma viagem que se torna uma fábula.
Comentário: Bosco é um pequeno vilarejo, quase escondido, com 13 habitantes no Uruguai. O documentário de Alicia Cano Menoi, tem o foco na memória.
A população da pequena região é de pessoas idosas, o filme exalta as memórias. Com imagens de arquivos e com depoimentos, descobrimos o passado do bosque: os ex-moradores, o que levou a diminuição da população e porque apenas treze habitantes. Porém, com momentos de leveza e outros tristes que causarão reflexão ao espectador.
Bosco é um documentário íntimo, sobre como as memórias e de habitantes que se recusam sair da localidade, pois tudo o passado do vilarejo. Está entre um dos melhores da Mostra.
Canal Brasil: Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem. Quarta-feira (1/12)
5 casas: Documentário: 97min: Brasil. 2020
Direção: Bruno Gularte Barreto
Classificação Indicativa: 12 anos
Sinopse: Em uma cidadezinha no extremo sul do Brasil há 5 casas e 5 histórias que se confundem em uma mesma.
Comentário: Assim como o documentário Bosco, 5 casas também é sobre memórias, mas em uma perspectiva diferente. O diretor Bruno Gularte Barreto, retorna a sua casa de infância e lá confronta o seu passado.
O documentário é extremamente íntimo. Gularte Barreto, através das fotografias de sua mãe Ana e entrevista 5 pessoas (5 casas), que fizeram parte do seu passado. Através dos depoimentos, o diretor vai relembrando fatos da sua vida que esqueceu, e os demais entrevistados relembram acontecimentos, inclusive, os motivos, como o realizador de deixar a cidade que vivia.
Mas além das lembranças, a morte é um tema recorrente do longa. Ana é o nome da sua mãe e de uma ex-professora do realizador. E o depoimento da professora e também de um amigo gay, que deixou a cidade, são impactantes.
O diretor vai reconstruindo as fotos na casa onde vive, até que outra crítica presente do longa aparece: o desrespeito com as memórias e decorrência de um “bem maior”. E as últimas cenas do longa demonstram com precisão essa crítica. As lembranças são destruídas de maneira real e simbólica.
5 casas é um documentário íntimo, lindo, triste e reflexivo. E está entre um dos melhores da Mostra.
Minha Cobertura: 2/12/21 – Quinta-Feira
Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem
O amigo do meu Tio: Documentário: 8min: Santa Catarina. 2021
Direção: Renato Turnes
Classificação Indicativa: 14 anos
Sinopse: O primeiro amor de Vicente documentado pela câmera VHS do seu pai.
Comentário: Através de câmera VHS do seu pai o diretor nos mostra sua infância e debate outro tipo de pandemia. Seu pai, registrava Renato Turnes, como próprio ele diz no curta: “uma criança gay”, em uma perspectiva heterossexual, como se espera que o filho fosse ou se torna-se “um homem de verdade”.
Turnes admite um amor de infância pelo amigo do tio. E gravado em plena pandemia da Covid 19, que assola recentemente o mundo, o diretor levanta outra pandemia que ainda assola o mundo há tempos: O HIV. E assim discute o preconceito besta que custou tantas vidas.
O amigo do meu Tio é curta-metragem íntimo e reflexivo que devido a preconceitos acaba matando tantas vidas como as pandemias.
Hawalari: Ficção: 15min: Goiás. 2021
Direção: Cássio Domingos
Classificação Indicativa: 12 anos
Sinopse: Final do século XIX. Hawalari, jovem indígena do povo Iny, que vive no Centro – Oeste brasileiro, depara-se com uma situação que lhe causa um misto de sentimentos.
Comentário: Hiwalari é um indígena trans (homem trans), que encontra um homem branco machucado, no meio da mata, e o ajuda. O homem está em busca de sua tribo, mas o personagem percebe o a má intenção em suas atitudes.
O diretor Cássio Domingos, levanta a antiga discussão indígenas vs. homem branco e a exploração escondidas atrás de boas ações. E a última cena do curta remete perfeitamente a isso.
Ato: Ficção: 20min. Minas Gerais. 2021
Direção: Bárbara Paz
Classificação Indicativa: 12 anos
Sinopse: Em um mundo onde a solidão foi a maior protagonista, com palcos vazios e o medo constante da morte. O afeto é o Ato, a fuga, o desejo fundamental da sobrevivência.
Comentário: A diretora Bárbara Paz depois da vitória do documentário “Babenco, alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou.”, com o prêmio da crítica do Festival de Veneza, retornou ao festival com Ato, a qual tivemos prazer de assistir no Festival 31° Cine Ceará.
O curta mexe com temas extremamente delicados (a qual não vou tocar explicar para não atrapalhar a experiência do espectador). A diretora, transforma sua obra em uma constante quimera, que muda de temas e estéticas ao longo do curta.
Ava (Alessandra Maestrini) e Dante (Eduardo Moreira) têm duas atenções perfeitas. Temas como relacionamentos mal resolvidos, morte, ganham forças e vão se transformando progressivamente no curta, em caminhos que o espectador não espera. O curta, pode parecer teatral, mas é proposital
Ato é um curta genial e que somente prova o incontestável talento de Bárbara Paz. Um curta que mexe com temas delicados, mas que vão se transformando durante a narrativa. Junto com o curta Chão de Fábrica, é o melhor curta que vi da Mostra.
Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem
A Praia do Fim do Mundo: Ficção: 88 min. Brasil. 2021
Direção: Petrus Cariry
Classificação Indicativa: 12 anos.
Sinopse: Em Ciarema, o avanço do mar destrói casas e desabriga famílias. Alice, uma jovem ambientalista, mora com Helena, sua mãe doente, em uma casa constantemente castigada pelas ressacas. Alice quer ir embora. Helena quer permanecer em frente ao mar. No fim, Helena e Alice vão enfrentar seus destinos.
Comentário: Petrus Cariry, que já ganhou o Cine Ceará com o longa: “Mãe e Filha”, nos apresenta outra obra-prima com A Praia do Fim do Mundo.
O longa demonstra o avanço do mar na localidade de Ciarema, fazendo inúmeras famílias da região. O que nos levanta o conflito entre filha Alice (Fátima Muniz), uma jovem ambientalista que quer deixar a casa que está sendo afetada pela casa. E sua mãe Helena (Marcelia Cartaxo), uma idosa que se recusa a deixar a casa a qual cresceu. Em duas atuações perfeitas.
O longa é um verdadeiro começa como um mistério que progressivamente vão se resolvendo (não todos), com inúmeros símbolos e histórias que potencializam toda a tensão do filme.
A fotografia em preto e branco Petrus Cariry é genial pois remete a Filmes Noir, que reforça o mistério e as temáticas do longa. E a trilha sonora de João Victor Barroso é dissonante e perfeita para a proposta da película.
O longa levanta inúmeros mistérios: O pai desaparecido de Alice no Mar de Ciarema; porque Helena não quer deixar a casa? Quem é de fato o homem que cata lixo é e faz na região? O que está acontecendo com as casas da região?
Todos esses mistérios são desenvolvidos em uma direção que beira a perfeição. O diretor poderia apelar para jumpscares, mas felizmente não utiliza, apesar de sim, temos cenas oníricas, como por exemplo homem com roupa de navegação e uma baleia (pararei por aqui para não atrapalhar a experiência do espectador).
Minha vontade é de escrever uma crítica extensa sobre todo esse longa, pois ele é uma obra de arte. Petrus Cariry, para mim, apresenta o melhor filme do Festival 31° Cine Ceará. E espero poder assistir novamente.
obs. Retornando na quinta-feira do Festival, tive a sorte de ver o único longa que faltava da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem: Perfume de Gardênias. Completando os 6 longas da Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem.
Canal Brasil: Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem. Quinta-feira (Dia 02/12)
Perfume de Gardênias: Ficção: 97min: Porto Rico-Colômbia. 2021
Direção: Macha Colón no IMDB: Gisela Rosario Ramos
Classificação Indicativa: 12 anos.
Sinopse: Uma idosa que mora em um bairro de classe média em Porto Rico, acaba de ficar viúva. Sua filha adulta está ficando com ela para ajudá-la no Funeral. Enquanto Isabel lamenta a sua perda, não sabe como ocupar seu tempo e seguir adiante.
Comentário: Perfume de Gardenias é um longa com humor ácido. O debut da diretora Macha Colón, utiliza a morte para lançar uma reflexão sobre o tema e da hipocrisia da sociedade.
Helena vive um luto e todos ao seu redor fingem se importar. Até que a morte, passa a “perseguir” essas pessoas, que pedem ajuda à protagonista, que passa a ter uma motivação na vida: ajudar as pessoas com seu luto.
Entretanto, uma revelação no terceiro ato, muda a perspectiva de Helena e do espectador sobre a morte e que nos faz refletir sobre o efêmero da vida. Mesmo assim, nossa protagonista continua ajudando as pessoas e muda a quem está ao seu redor.
Perfume de Gardênias usa um humor ácido para refletir sobre a vida e morte. Uma comédia que não nos faz rir, mas refletir sobre os temas.
O 31° Cine Ceará, encerrou 03/12 (sexta-feira). Todos os curtas da Mostra Competitiva Olhar do Ceará e da Mostra Pontes Criativas e Prêmio Água e Resistência, estavam disponíveis até dia 03/12 no canal oficial do Festival no Youtube. Além da Mostra Competitiva Olhar do Ceará, passaram presencialmente no Cinema do Dragão do Mar. No Cine Teatro São Luiz, presencialmente, está exibindo Longas Especiais, os curtas do Prêmio Água e Resistência (Também exibidos no Canal TVC), Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem e Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem (foram exibidos no Canal Brasil nos 30/11 a 01/12).
Em breve, a terceira e última parte da minha cobertura pessoal do 31° Cine Ceará.