Desde o último dia 27, seguindo até o dia 3/12, ocorre o 31° Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema em Fortaleza, em caráter híbrido (presencial/online).
Minha agenda presencial começou na última segunda-feira (29), continua na próxima quinta (2) e finaliza na sexta-feira (data de encerramento do festival). Pois é, essa trata-se da minha cobertura pessoal de tudo que conseguir assistir no festival.
Sobre a Mostra Competitiva Olhar do Ceará de Curta-metragem, que disponibilizou 17 curtas, no canal do oficial do festival no Youtube, nós já temos o veredito, e os comentários já estão disponíveis no site.
E as Mostras Paralelas: Mostra Pontes Criativas (5 Curtas) e Prêmio Água e Resistência (5 curtas), também estão disponíveis no Canal Oficial do Youtube do festival, até dia 3/12. O Prêmio Água e Resistência está sendo exibido apenas de forma presencial, no festival.
Agora, irei comentar e dar minhas impressões, da Mostra Paralelas: Mostra Pontes Criativas, Prêmio Água e Resistência, e que eu tudo que eu acompanhei na última segunda-feira, no 31° Cine Ceará: Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem e Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem.
Vamos Lá:
Mostra Paralelas: Mostra Pontes Criativas, que na própria segunda-feira (28), já definiu seus vencedores.
Tu és Fortaleza: Documentário: 3min. 2021
Direção: Matheus Caminha Duarte
Sinopse: Uma pequena carta de amor à cidade de Fortaleza. Terra dos verdes mares, do sol, da luz e, sobretudo, da arte.
Comentário: Um vídeo ensaio que é uma carta de amor à cidade de Fortaleza. Através de suas imagens com narração em voz over, somos transportados a diversos locais da cidade da luz e arte que emana dela.
Eu sou as cores, você é a praça: Documentário: 3min. 2021
Direção: Anio Tales Carin e Paulo Ribeiro
Sinopse: Lembranças de uma recém-chegada em Fortaleza, descobrindo, enamorada, os cantos dessa cidade. Muitas dessas memórias se confundem com lembranças do ex-namorado, uma mistura de sentimentos em que as cores encontram a praça, as quadras, as esquinas.
Comentário: O pequeno vídeo ensaio com narração em voz over, mistura a dor de término com o amor pela cidade de Fortaleza. As imagens demostram locais na cidade que são tanto lembranças dolorosas, mas agora feliz para narradora. Um dos melhores curtas da mostra.
Juventude Criativa: Documentário: 3min. 2021
Direção: Victor Dutra
Sinopse: Um curta-metragem que conta a relação direta entre juventude e criatividade por meio do cinema. Léo Silva, morador do bairro Jangurussu, em Fortaleza, Ceará, é um jovem cineasta que busca impactar e representar a periferia com audiovisual.
Comentário: O documentário é o que foge mais das fórmulas de todos os da Mostra. O diretor que narra o curta, expressa a importância de fazer cinema em Fortaleza e o impacto que a arte têm e assim, discute a cidade. Curta extremamente necessário.
Eu vim de cá: Documentário: 2min. 2021
Direção: Victoria Lam
Sinopse: Um filme-ensaio sobre viver em Santos, usando a cidade de cenário para entender que não há lugar como nosso lar.
Comentário: O pequeno curta com narração em voz over, fala tanto da cidade de santos, mas como a cidade, que antes não era o objetivo da diretora morar no futuro, passa a ser fundamental para sua identidade e sua arte.
Eu não sou daqui: Documentário: 3min. 2021
Direção: Leandro Olímpio
Sinopse: Eu não sou daqui. E quem jogou isso na minha cara foi um santista, 15 anos atrás, quando no corredor da faculdade me gritou: “e aê, caipira!”
Comentário: Através de um início de um comentário xenofóbico. O diretor conduz o pequeno documentário com narração em voz over, sobre o que de fato é pertencer a um lugar. Ele cita que nem Neymar ou mesmo Pelé, nasceram em Santos. E isso importa? O curta discute o preconceito de pessoas que não aceitam o próximo, sendo um documentário sobre resistência, que pode ser aplicado em todo território brasileiro. Um dos melhores curtas da mostra.
Filmes Vencedores:
Vencedor Fortaleza:
Eu sou as cores, você é a praça: Documentário: 3min. 2021
Vencedor Santos:
Eu não sou daqui: Documentário: 3min. 2021
Prêmio Água e Resistência
JEANStopia: Curta Experimental: 2:44min: 2021
Direção: Gabriel Viggo e Murilo da Paz
Comentário: Em uma fábrica têxtil de produção de jeans. Os diretores demostram o gasto demasiado de água na produção de roupas que usamos no dia-a-dia. Com um filtro azulado e cores azuis, envolto a névoa d’água produzida pelos equipamentos, os personagens do curta fazem movimentos repetitivos e teatrais, simbolizando a mesma crítica do clássico longa Tempos Modernos de Charlie Chaplin. Meu curta favorito da Mostra.
Água-Vida: E se a Água tivesse vida: Curta Experimental: 3:22min: 2021
Direção: Emily Coelho
Comentário: O curta é uma performance com uma câmera parada e narração em voz over, na orla da praia de Iracema, em Fortaleza. Uma verdadeira reflexão de como a água é um organismo vivo e fundamental para nós e para o planeta e com ela prejudicada ou sem ela, todos nós saímos perdendo.
Rachel: Ficção: 3:30min: 2021
Direção: Isaac Apolônio e Fernando Lessa
Comentário: Através da personagem principal do curta que está lendo a HQ, do livro Quinze de Rachel de Queiroz. Somos transportados para um sonho, onde a seca predomina na região, até que nossa protagonista tem um susto e acorda. O curta é extremamente relevante, pois o final evidencia o tratamento que damos à água.
A falta de algo básico: Ficção: 3:36min: 2021
Direção: Sara Agatha
Comentário: João, nosso protagonista, tem uma avó que está com dengue. Logo o personagem procura desesperadamente água por todos os cantos, mas não encontra. Uma forte crítica reflexiva como algo básico (a água), não somente em momentos difíceis, é essencial para nossas vidas.
Água e Resistência: Documentário: 3:34min: 2021
Direção: José Juvenir (JJ)
Comentário: Conhecemos o Sr. Manoel (conhecido pelo apelido Manoel d’água). O curta mostra sua breve história e o processo de como ele utiliza a água de maneira sustentável para irrigar sua plantação e para o seu consumo. Um documentário muito belo, de como um simples homem, pode mudar o ambiente ao seu redor utilizando a água.
O Prêmio Água e Resistência, está em exibição no Cine Teatro São Luiz, exibido no Canal da TVC e no Canal Oficial do Youtube do Festival até dia 03/12.
Minha Cobertura – Segunda-Feira (29/11): Como se trata de minha cobertura pessoal, aconteceram de algumas obras ficarem de fora. Como os curtas da Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem.
Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem:
Encarnado: Ficção. 22 min. Piauí: 2021
Direção: Otávio Almeida e Ana Clara Ribeiro
Classificação Indicativa: Livre
Sinopse: Sertão do Piauí, dois homens vivem um (re)encontro em viagens solitárias atravessadas por tempos e espaços expandidos. Dos alaridos do passado ao presente silencioso, Encarnado transita no limite espiritual e carnal da existência dos homens e animais. Um rito de caminhos ocultos, onde o chão acolhe a morte a cada geração.
Comentário: Encarnado (dirigido e roteirizado por Otávio Almeida e Ana Clara Ribeiro), utiliza uma linguagem experimental e que remete ao Cinema de Fluxo, com muitos simbolismos. Começamos o curta com imagens de arquivos de sertanejos tocando instrumentos, porém a música é dissonante.
Logo pulamos para o presente e vemos um homem mais velho, flutuar no rio. Depois pulamos e novamente acompanhamos o dia-a-dia, na fazenda onde dois protagonistas moram: um velho e um moço.
Não seguimos uma narrativa clássica. E o foco é no simbolismo e no não dito entre os personagens. Sendo esse o grande “defeito” da obra. Por apostar no simbolismo, o espectador não se conecta com a história, que existe, mas é propositalmente confusa. Além de ter uma cena extremamente desconfortante envolvendo um boi, que simboliza o estado de espírito de ambos os personagens.
A Direção de Fotografia fica por conta também de Otávio Almeida, que faz evoca longas do Cinema Novo. Trilha sonora Sérgio Gomez de Matos e Marisol Cao Milán, reforça todo o tom simbólico da narrativa.
Encarnado foca tanto no simbólico, que ao final do curta, que exige demais do espectador, para se entregar a todo o simbolismo e não procurar uma narrativa com sentido.
Chão de Fábrica: Ficção. 24min: São Paulo. 2020
Direção: Nina Kopko
Classificação Indicativa: 12 anos.
Sinopse: 1979. As máquinas desligam para o horário do almoço dentro de uma metalúrgica de São Bernardo do Campo. Quatro operárias comem dentro do f
Comentário: Nina Kopko (diretora e roteirista do curta), nos faz a seguinte pergunta: Onde estão as mulheres nos grandes momentos da história, sendo ela a brasileira ou mundial? Elas não estavam lá ou foram propositalmente esquecidas? Bem, a resposta é bem óbvia, a presença feminina é ofuscada ou apagada, infelizmente, da história.
A história se passa no banheiro no intervalo das metalúrgicas onde quatro operárias trabalham. No dia seguinte, será um dos grandes comícios de Lula, no para o ABC Paulista. Conhecemos as dores, angústias, problemas, felicidade e sonhos das quatro protagonistas. E em uma decisão sábia da diretora, em voz over, também conhecemos o futuro de cada uma.
A fotografia e filtro utilizado por Anna Júlia Santos, tem um tom sépia e um formato de tela que remete uma TV. A edição de Lis Paim é precisa em conduzir toda a narrativa. E o final é emocionante, porque mostra inúmeras mulheres no comício de Lula, inclusive, palestrando.
Chão de Fábrica é um curta brilhante! Um regaste histórico de mulheres no passado, que se recusaram a ser esquecidas também no presente.
Esse é o melhor curta brasileiro que eu vi esse ano.
Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem:
Vacío: Ficção: 92min: Equador-Uruguai. 2020
Direção: Paul Venegas
Classificação Indicativa: 12 anos.
Sinopse: Lei e Wong chegam clandestinamente à cidade equatoriana de Guayaquil. Enquanto ela tem um objetivo, ir a Nova Iorque, ele quer trazer o filho da China. O futuro dos dois está nas mãos de Chang, um mafioso bipolar que fica obcecado por Lei, e usa seu poder para deixá-los numa encruzilhada. Juntos lutarão pela sua liberdade.
Comentário: Vacío é um longa riquíssimo em temáticas mais atuais do que nunca: a emigração de para outros países em busca de uma vida melhor; a saudade do lar; as dificuldades de adaptação e sobretudo as mudanças que nós temos de fazer mesmo quando elas, muitas vezes, não são certas.
Entretendo a abordagem que o diretor Paul Venegas, em abordar todos os temas de forma vaga e muitas vezes maniqueísta, torna o longa vazio (perdão com o trocadilho).
Acompanhamos Lei (Jing Fu), Chang (Day Min Meng), que fogem da China para o Equador. Amigo de Chang e interesse amoroso de Lei, Victor (Ricardo Velastequí) e o mafioso Sr. Lu (Baode Yin).
Lei é apenas um objeto de desejo de Lu e seu grande sonho é ir para Nova York. Chang, através de Lu, se envolve com a Máfia e Victor é apenas um rapaz simpático que ajuda a todos. Ao decorrer do longa, apenas de muitas vezes, temos que fazer o que não queremos, mesmo contra nossa vontade é o mote da narrativa. E infelizmente, os demais temas são esquecidos, até 15 min finais do filme.
Vacío tem todos os elementos riquíssimos para se tornar um clássico, mas infelizmente opta por uma abordagem progressivamente vazia.
Bem, esse é o final da Primeira Parte da Minha Cobertura. Ainda teremos mais duas. Espero vocês!
O 31° Cine Ceará vai até dia 03/12 (sexta-feira). Todos os curtas da Mostra Competitiva Olhar do Ceará e da Mostra Pontes Criativas, estarão disponíveis até dia 03/12 no canal oficial do Festival no Youtube. Além da Mostra Competitiva Olhar do Ceará, está passando presencialmente no Cinema do Dragão do Mar. No Cine Teatro São Luiz, presencialmente, está exibindo Longas Especiais, os curtas do Prêmio Água e Resistência (Também exibidos no Canal TVC, Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem e Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem (Também exibidos no Canal Brasil nos 30/11 a 01/12). Confira tora programação no site e nas redes sociais oficiais do Festival.