Já se passaram 20 anos desde o primeiro Independence Day (1996), uma mega matiné que diverte com sua ação/sci-fi de humanos combatendo uma invasão alienígena. Mesmo com seu discurso ufanista e americanizado, a aventura funcionava.
Não se pode dizer o mesmo de Independence Day: O Ressurgimento (Independence Day: Resurgence, 2016), dirigido pelo mesmo Roland Emmerich.
Na trama, 20 anos após o ataque alienígena ocorrido em 1996, todas as nações da Terra se uniram para se preparar para um possível revide dos extra-terrestres. Por isso existem bases na Lua e também em Saturno, que servem como monitoramento. Com a chegada de uma imensa nave, bem maior que as anteriores, a vingança se anuncia.
Antes tínhamos a novidade, agora temos o agigantamento da ameaça, em forma de uma nave de 5 quilômetros. Nada de Will Smith. O cara que chutou os traseiros – literalmente – dos ETs morreu, e foi substituído na continuação pelo personagem do seu filho (Jessis T. Usher) também piloto audaz.
Para fazer frente ao rapaz, mais um ás dos ares – conforme demonstra sua “apresentação” ao salvar uma base lunar – na pele de Liam Hemsworth (da franquia Jogos Vorazes). Além de um terceiro vértice do triângulo, Maika Monroe (Corrente do Mal, 2014), também pilota, e filha do ex-Presidente americano (Bill Pullman). Todos personagens descartáveis e sem carisma algum.
O roteiro barbariza na infelicidade política, racial e social. Se todas as decisões de uma Presidenta americana (Sela Ward) são erradas, existe não apenas um homem (e militar, William Fichtner) para ter sucesso na missão, mas também a sombra do ex-Presidente, que havia salvado o mundo há 20 anos atrás (Bill Pullman), para contornar os problemas.
Tribos africanas, e todos os outros países que não os Estados Unidos são retratados com extrema caricatura. Enquanto muitos morrem e o mundo se desintegra, há personagens que só sabem fazer piadas (como o engravatado que acaba por pegar em armas) ou outro piloto que tentar seduzir uma pilota chinesa (Angelababy).
E por falar em China, Hollywood segue descaradamente inserindo núcleos chineses dentro de seus pretensos blockbusters. Não porque a história exige, mas para agradar um grande mercado cinematográfico chinês. Ou seja, está de olho em engordar sua bilheteria por lá.
Atriz de filmes cult e interpretações explosivamente fortes, como em Anticristo (2009), Melancolia (2011) e Ninfomaníaca (2013), Charlotte Gainsburg passa vergonha aqui. Na pele de uma francesa, ela faz o contraponto (até romântico) com o veterano Jeff Goldblum (pela enésima vez o especialista-sabe-tudo), que retorna para a continuação como o cientista David Levinson.
Além dele, temos seu pai Julius (Judd Hirsch), o Dr. Brakish Okun (Brent Spiner) que acorda de uma coma, e o já citado ex-Presidente Whitmore (Bill Pullman). O último tem uma das frases mais ridículas, entre tantas do filme. Em meio ao que pode ser o fim de tudo, ele declara que não está interessado em salvar outras pessoas, mas sim, apenas a sua filha.
Diretor, produtor e roteirista, Roland Emmerich adentrou em Hollywood com filmes como Soldado Universal (1992) e Stargate (1994). Mas foram suas tentativas de destruir o mundo em blockbusters rentáveis que o notabilizou, como o primeiro Independence Day (1996), Godzilla (1998), O Dia Depois de Amanhã (2002) e 2012 (2009). Ele também assinou os terríveis O Patriota (2000) e 10.000 AC (2008).
Porém, seu retorno ao mundo de aliens X humanos nessa superproduzida continuação é um grande, mas um grande erro.
Além de vários momentos de discursos americanistas e militaristas, a trilha sonora é um horror, as sequências de ação não empolgam e a história contém “saídas” patéticas (spoiler alert: a pior delas, quando os pilotos sobrevivem a um ataque e se encontram dentro da operação alienígena).
Em duas horas de projeção, as cenas de batalhas se acumulam, mas não divertem, apenas enche o filme de muito som, fúria e efeitos especiais – nem tão espetaculares assim.
É uma continuação assumida na trama, reaproveitamento dos personagens e uso de tecnologia alienígena, contudo, tudo parece se repetir. E o resultado final está mais para uma refilmagem (ruim e desonesta) do primeiro, do que propriamente uma sequência. Nada divertido, tão somente é uma experiência desagradável e vergonhosa.