A Rede Social (The Social Network, 2010) de David Fincher
O filme: a internet tem menos de 20 anos de existência, mas passa diariamente por mudanças que afetam diretamente o nosso dia a dia. E no outono de 2003, Harvard foi palco da criação de algo que mexe hoje com mais de 1 bilhão de pessoas.
A trama nos mostra os meandros, as motivações e como surgiram as idéias e a criação do Facebook. Um drama elegante, com atuações na medida certa, uma narrativa bem construída e executada com primor por seus realizadores, numa trama que desnuda também os processos que vieram a reboque.
Porque assistir: indiscutivelmente, um dos melhores filmes daquele ano. Não importa se você não sabe, não usa, ou mesmo não gosta do Facebook. Estamos falando de um filme imperdível. Onde assistimos o surgimento de uma lenda viva, através de sua criação, e com ironias do destino. A tal rede social abordada é capaz de conectar todo o mundo, enquanto seu criador, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) é incapaz de se conectar com outro ser humano. Um ser frio, na maior parte do tempo triste, pragmático.
E quando pisa no terreno incontrolável dos sentimentos, não tarda a falhar. Até mesmo com seu único amigo, o brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield). Melhores momentos: sua narrativa fluente nos propicia estar conectados à criação do Facebook, em sua escalada ao sucesso, e no meio de dois julgamentos. Uma edição inteligente, que percebemos continuidade, mesmo sem a cronologia dos fatos. Um exemplo disso é a forma como é mostrado uma competição de remo, quando percebemos belamente uma alusão à derrota.
A fotografia é fria, predominantemente cinza, mas nos julgamentos as cores aparecem para diferenciar tempo, espaço e momento. O uso da trilha que geralmente desnorteia, é outro acerto. Por vezes feita para incomodar, em outras hipnotiza. E tudo acontece com uma condução tecnicamente perfeita de David Fincher.
Guiado por um texto brilhantemente adaptado por Aaron Sorkin, se baseia no livro Bilionários por Acaso (de Ben Mezrich), tem o ritmo ditado pelos diálogos. Ao invés de um triângulo amoroso, vemos um triângulo de amizade, com bilhões de dólares envolvidos. Além de Zuckerberg e Saverin, entra em cena Sean Parker (Justin Timberlake, bem à vontade como um falastrão com alto poder de persuasão), a cobra criada que inventou o Napster.
Pontos fracos: por vezes o ritmo é lento. Mas nem risca o casco do filme e às vezes funciona até para o clima da obra.
Na prateleira da sua casa: As atuações têm seus nuances. Jesse Eisenberg é frio, calculista, põe uma conversa por cima da outra, tem um olhar perdido, mas pensa como ninguém. Até quando parece estar se divertindo, como na cena de teste dos estagiários, seu sorriso é de lado, pequeno. Andrew Garfield tem também ótima atuação, e é o que mais sofre com o desenrolar da trama. Destaque também para Armie Hammer (de O Cavaleiro Solitário), que faz os dois gêmeos Winklevoss, numa utilização limpa e perfeita dos efeitos especiais. Na tela são iguais, mas parecem ser duas personas distintas.
A atriz Rooney Mara, que seria depois “a garota da tatuagem de dragão” do filme Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011), também de David Fincher.
Vencedor do Globos de Ouro de melhor filme-drama, diretor, roteiro e trilha sonora, foi indicado aos prêmios de melhor ator-drama (Eisenberg), coadjuvante (Garfield) e trilha sonora.
A Rede Social também concorreu ao Oscar 2011 em oito categorias: melhor filme, diretor, ator (Eisenberg), fotografia, mixagem de som, roteiro adaptado, montagem e trilha sonora. O filme ganhou os últimos três prêmios da academia.
Mesmo que não queira ser usuário do Facebook, ainda assim se conectar é preciso, nem que seja apenas ao filme.