Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road, 2008) de Sam Mendes
O filme: o péssimo título nacional (para variar) entrega o supra-sumo da trama, onde em meados dos anos 50, Frank (DiCaprio) e April Wheeler (Winslet) são um casal que vivem o sonho americano. Uma bela casa com grama verde num então emergente subúrbio. Para ele um emprego que pagam as contas, para ela a responsabilidade de cuidar da casa e dos filhos.
Tudo está no seu lugar, certo? Nessa revolução de sentimentos (tristes), não.
Porque assistir: inicia com um jogo de olhares avassalador, para depois nos jogar no meio de uma discussão fervilhante. O nocaute é imediato, da alegria à tristeza em minutos.
As pessoas funcionam aqui como robozinhos que acreditam na felicidade construída de sonhos alheios, uma casa no subúrbio com boa vizinhança, filhos sadios, um bom emprego.
Mas e os anseios diferentes do usual dia-a-dia? Escondidos, espremidos, sequelados pelo sistema americano…
Melhores momentos: Kate Winslet (vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz-drama) faz cara de choro, chora, berra e brilha. Sua atuação transcende até a mensagem que não cansa de girar ao redor do próprio rabo, como um cachorro desnorteado.
E como lidar com o esfacelamento dos anseios, projetos de uma vida resumidos num dia-a-dia de ilusão?
A saída é cristalizá-los ironicamente num personagem dito débil, John Givings (Michael Shannon). Ele exprime exatamente as palavras que definem o castelo de areia que é a vida do casal Wheeler (DiCaprio e Winslet), principalmente quando caminham pelas árvores e falam da vida, das ilusões e da falta de esperança que tanto os aflige.
É deprimente, mas funciona muito tanto pelo personagem bem construído de Shannon (indicado ao Oscar de coadjuvante), quanto pelo texto, nesse ponto, perfeito.
DiCaprio também mostra sua força, onde tem vários bons momentos, e um especial: no dia do aniversário de seu personagem.
Pontos fracos: talvez seja um pouco pretensioso ou mesmo tenta alcançar a mensagem poética-pesada da obra original, demolidora de sonhos americanos. “Onde ficam os sonhos mediante a realidade fabricada pela sociedade?” É nessa pergunta que se concentra todo o filme, beirando a repetição.
Na prateleira da sua casa: não pense que você vai se deparar com um belo romance recheado de cenas açucaradas e pueris. Não mesmo. Prepare-se para passar duas horas em depressão com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio sob a batuta do oscarizado Sam Mendes na adaptação do livro premiado de Richard Yates.
Um arraso, positivo, apesar do clima pesado.