Vamos além de uma perspectiva dos filmes de Hollywood em 93. Elaborei uma lista com filmes que surpreenderam há 20 anos. Não parece, mais já faz tudo isso. Seja pelo sucesso de bilheteria inesperado ou pelo alto valor artístico não reconhecido quando lançado, mas que o tempo faz questão de melhorar essa relação. Vamos à lista dos filmes bacanas, esquecidos e surpreendentes daquele ano: 93´s Cool Movies…
10. O Alvo (Hard Target) de John Woo: sim, um filme com Jean-Claude Van Damme. E um puta filme de ação. O (então) astro belga foi o responsável por trazer do oriente o espoletado diretor chinês, John Woo, em estreia americana.
Uma história simples (ricaços brincam de caçar gente ao recrutar sem-tetos) que rendeu uma fita de ação acima da média, com a sabida técnica de Woo em cada movimento de câmera.
Vamos tentar perdoar apenas o penteado de cantor sertanejo anos 90 de Van Damme. Ah, e o vilão é o eterno androide (da cine-série Alien) Lance Henriksen e a produção é de Sam Raimi.
9. Benny & Joon – Corações em Conflito (Benny & Joon) de Jeremiah Chechik: uma dramédia romântica em que Johnny Depp já contabilizava mais um de seus bizarros personagens, uma reencarnação excêntrica do comediante mudo Buster Keaton.
O seu envolvimento com Joon (Mary Stuart Masterson), que sofre de sérios problemas psicológicos, transforma a vidas de todos, direta e indiretamente, incluindo o irmão dela, Benny, (Aidan Quinn) e sua namorada (Julianne Moore). Poético e sensível ao tratar de problemas (pesados e) reais com otimismo e delicadeza.
8. Vivos (Alive) de Frank Marshall: uma aventura dramática sobre a sobrevivência do espírito humano baseado em fatos reais. Nos anos 70, a equipe de Rugby do Uruguai, sofre um acidente de avião em plena Cordilheira dos Andes.
No frio intenso, sem comida e com possibilidades reduzidas de saírem vivos dali, a saída para a sobrevivência é comer a carne humana de quem já morreu. No elenco Ethan Hawke, Vicent Spano, Josh Hamilton, Illeana Douglas e John Malkovich, que aparece como narrador da bela e épica história real.
7. O Homem Sem Face (The Man Without a Face) de Mel Gibson: o drama marca a estreia na direção do hoje oscarizado diretor de Coração Valente (1995). Pequeno em produção, mas poderoso em sentimentos, a obra narra a amizade entre um aluno (Nick Stahl), que deseja ingressar no colégio militar, e seu professor (o próprio Gibson), que quer apenas ser reconhecido por sua dignidade em ensinar. E dessa forma esquecer os passado marcado no seu rosto e alma, e encarar a vida nova de frente. Para descobrir.
6. Jamaica Abaixo de Zero (Cool Runnings) de Jon Turteltaub: uma das maiores surpresas do ano, ao arrecadar mais de U$ 154 milhões nas bilheterias ao redor do mundo.
Liderados por John Candy, um elenco de desconhecidos tornou a (incrível) história real, numa divertida (e heroica) versão dos fatos. Sim, veremos o hilariante primeiro time de Bobslead da Jamaica, que se classificam para as Olimpíadas de Inverno de 1988. Leve e inesquecível.
5. Short Cuts – Cenas da Vida (Short Cuts) de Robert Altman: o filme conceito do visionário diretor americano, mais uma vez indicado ao Oscar, brinca com suas várias historietas entrecortadas e misturadas dentro de uma mesma narrativa.
Apresenta um elenco gigantesco e memorável (Andie McDowell, Julianne Moore, Robert Downey Jr., Jack Lemmon, Bruce Davison, Jennifer Jason Leight, Matthew Modine, Fred Ward, Anne Archer, Lili Taylor, Frances McDormand, Tim Robbins, Madeleine Stowe, Lily Tomlin, Peter Gallagher, Buck Henry, Huey Lewis, Chris Penn, Lyle Lovett e Tom Waits), tanto quanto o filme.
4. Feitiço do Tempo (Groundhog Day) de Harold Hamis: uma comédia deliciosamente despretensiosa que conquistou público (U$ 70 milhões nos EUA) e crítica (prêmio do Círculo dos Críticos de NY, de Londres e BAFTA de melhor roteiro).
Um repórter de meteorologia que fica preso numa pauta que detesta (cobrir o ‘Dia da Marmota’ numa fria cidade do interior americano), repetindo e repetindo seu dia num loop temporal. Só um romance verdadeiro (leia-se Andie MacDowell) pode mudar tudo, não sem antes nos deleitarmos com cenas hilariantes e uma interpretação marcante de Bill Murray.
3. O Pagamento Final (Carlito´s Way) de Brian De Palma: o retorno da dupla De Palma/Pacino ao estilo de Scarface, indo fundo no submundo do crime latino nos EUA. Ambientado no final dos anos 70, Al Pacino é Carlito Brigante, um gângster arrependido que, com ajuda suja de seu advogado barra pesada (Sean Penn, completamente cheirado) sai da cadeia com a promessa de nunca mais voltar ao mundo do crime.
Ao tentar se desvencilhar do passado ele decide investir seu dinheiro numa boate. Mas o perigo eminente o suga de volta e como forma de pagamento, tem de ajudar o advogado numa fuga, além de conviver com criminosos nas noites de trabalho. O título é genérico, mas o produto final é sensacional, tenso e com um final de gelar o coração. Existe uma pré-continuação, apenas ok (O Pagamento Final: Rumo ao Poder, 2005).
2. Um Mundo Perfeito (A Perfect World) de Clint Eastwood: se fosse realizado hoje, esse drama policial se tornaria uma das obras do ano, merecidamente. A trama traz a amizade entre um presidiário (Costner) em fuga e seu refém (T.J. Lowther), de apenas sete anos. No encalço uma agente do governo (Laura Dern) e um veterano chefe de polícia (Eastwood).
Há 20 anos os americanos torceram o nariz para uma história sem ação, de final tenso (belo e triste) com a ousadia de escalar Kevin Costner de vilão. Na época, a personificação do bom moço americano com sucessivos sucessos de bilheteria (O Guarda-Costas; Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões; JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar; Dança com Lobos; Campo dos Sonhos; Os Intocáveis). O curioso é que ao redor do mundo conquistou uma bilheteria bem satisfatória, mas a obra foi completamente ignorada na temporada de prêmios.
1. Um Dia de Fúria (Falling Down) de Joel Schumacher: como receber uma das maiores críticas à sociedade (pasteurizada) americana produzido em forma de grito e revolta de um perdedor do sistema? Abandonado pela esposa, desempregado, louco por fora e revoltado por dentro… Será mesmo ele o vilão do filme?
Um resultado que vai além de um soco no estômago dos americanos, um balaço na cara de um país tão poderoso e tão frágil, ao mesmo tempo. Schumacher (que patina em superproduções e se sobressai em pequenos filmes) em seu melhor trabalho e um Michael Douglas superlativo.
Hors Concours:
Amor À Queima-Roupa (True Romance) de Tony Scott: o primeiro roteiro vendido de Quentin Tarantino, filmado logo após o sucesso avassalador de Cães de Aluguel (1992)… Um elenco recheado (Christian Slater, Patricia Arquette, Gary Oldman, Brad Pitt, Christopher Walken, Val Kilmer, Dennis Hopper, James Gandolfini, Samuel L. Jackson) numa história que mistura HQs, filme B, prostituta e cafetão, uma maleta com muito dinheiro, crime, fuga e amor, claro. Mesmo que feito na visão do comercial Scott, é um legítimo Tarantino, impregnado nos diálogos cheios de referências e violência estilizada. Cult por natureza.
A lista em bilheteria: