A partir da quinta-feira (28), estará disponível na iTunes Store Brasil uma lista com 10 filmes escolhidos pelo cineasta Fernando Meirelles, que é o primeiro curador de conteúdo da loja em todo o mundo.
As obras cinematográficas selecionadas pelo diretor de produções como Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira têm em comum a singularidade do roteiro, personagens fortes e carismáticos. Meirelles comentou como foi o processo de escolha: “o iTunes me pediu para fazer uma lista de filmes que eu acho interessante e que recomendaria. A primeira lista é de filmes fora da casinha”.
A curadoria de conteúdo assinada por Fernando Meirelles é fruto de parceria entre a Apple e a distribuidora O2 Play, dirigido por Igor Kupstas, que destaca a importância da curadoria do cineasta brasileiro. “É o ápice da nossa aposta na importância em um olhar de especialista, uma opinião. Temos uma relação próxima com os produtores e as plataformas, o que nos garante melhorar a exposição e posicionamento dos filmes”, finaliza.
Com foco em cinema e Video On Demand (VOD), a O2 Play é um agregador de iTunes, Google Play e Netflix. Em parceria com a O2 Pós, realiza encoding para Netflix e Google Play. Em seu primeiro ano de atividades, a O2 Play conquistou o público tanto nos cinemas quanto no iTunes, sendo responsável por quatro dos dez longas escolhidos pela Apple como Os Melhores Filmes Brasileiros do ano – “Entre Nós”, “Latitudes”, “Junho – O Mês Que Abalou o Brasil” e “Cidade Cinza”.
Confira a seleção “Fernando Meirelles Recomenda” e os resumos de autoria do cineasta que estarão disponíveis na iTunes Store a partir desta quinta-feira, dia 28, no endereço: itunes.com/fernandomeirelles
Os textos-justificativa são do próprio Fernando Meirelles. Confira a lista completa:
A Grande Beleza (La grande bellezza): é uma tragicomédia sobre ricos ociosos da Itália. Lembra “A Noite de Antonioni” ou “La Dolce Vita”, do Fellini. Não é sobre uma história mas sobre um clima, um sentimento. Filme sensual, estranho e triste. Fala de amor, de sexo, de morte e de arte mas sobretudo, de Roma. Uma Roma que espelha a Europa que não se aguenta mais em pé, mas não abre mão do estilo. Filme para deixar rolar e mergulhar sem ansiedade de querer chegar a algum lugar. Mereceu todos os prêmios que recebeu.
Ela (Her): a história se passa num futuro próximo. Pode-se dizer que Ela é a bisneta do Siri. É um programa de computador que passa a te conhecer mais do que qualquer amigo. O fato é que graças aos algoritmos, os computadores já se auto programam, acumulam dados, aprendem e tiram suas próprias conclusões. Em um par de anos qualquer função exercida por uma máquina será mais confiável que a mesma função exercida por humanos. Este filme fala sobre esta capacidade das máquinas aprenderem, mas numa área onde os humanos ainda acreditam serem imbatíveis, o sentimento ou a capacidade de amar. Máquinas poderão sentir? Desconcertante por ser real e por estar mais próximo do que imaginamos.
Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle – Chapitres 1 et 2): vencedor da Palma de Ouro em Cannes e envolto em muita polêmica, o filme é pura nitroglicerina. Se a história da garota de 15 anos que se envolve com uma mulher mais velha fosse a de um casal heterossexual falaríamos em pedofilia, pela intensidade das longas cenas de sexo ele seria visto como pornografia. Só que não. Apesar da busca desenfreada pelo prazer, o que fica é a delicada história da descoberta dos sentimentos pela jovem Adele. Azul é um filme romântico.
Latitudes: este filme mostra oito encontros entre um fotógrafo, Daniel de Oliveira, e uma editora de moda, Alice Braga. Estes amantes não misturam suas vidas pessoais com estes encontros que acontecem em hotéis ou aeroportos pelo mundo. O que o filme tem de extraordinário é ter sido rodado como uma série para internet, depois virou série para TV e, finalmente, este longa com alto valor de produção, apesar de ter sido rodado com uma equipe de 6 pessoas. Até os atores carregavam tripés e caixas de câmeras. Uma história de amor que acontece em oito capítulos.
O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le papillon): baseado em uma história real, é a adaptação de uma biografia escrita por um homem que ficou paralisado e só conseguia piscar um olho. Mas como é possível contar a história de um personagem que não se movimenta e nem fala? Julian Schnabel contou. Schnabel é um dos artistas plásticos vivos mais valorizados e já havia feito outros filmes, todos excelentes. Ele traz sempre para a tela sua bagagem visual e seu mundo de subjetividades. Por este filme recebeu o prêmio de melhor diretor em Cannes, muito merecidamente. O filme escapa das lágrimas ou do melodrama que se poderia esperar pelo tema. É brilhante.
Birdman (Birdman): a câmera é ligada e só desliga quase duas horas depois. Na verdade há alguns cortes disfarçados mas, para o espectador, parece um longo plano sequência, o mais impressionante que já se viu. Um plano criado para falar sobre fama, sobre ego e sobre um certo cinismo dos nossos tempos. Esta história poderia ser a do próprio Michael Keaton, o ator que interpreta o ex super-heroi Birdman. Assim como seu personagem no filme, ele também teve seu momento de glória ao viver Batman e nunca mais o recuperou. Isso torna tudo ainda mais interessante.
O Homem Duplicado (Enemy): esta adaptação de uma história do José Saramago é a prova de que com quase nenhum orçamento é possível fazer um grande filme quando se tem um bom roteiro e um excelente ator. Um dia Adam (Jake Gyllenhaal) descobre que tem um sósia idêntico. É como se tivesse uma vida paralela e resolvesse entrar nela. Filme independente do Canadá, feito na raça, que merecia muito mais visibilidade do que teve.
Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line): na lista dos cinco melhores filmes que já assisti na vida está essa maravilha do Terrence Malick. É um filme fora da casinha por ser um filme de guerra que não é sobre a guerra, mas sobre o que está por trás da guerra. Um filme que tenta entender de onde vem o mal. De onde vem a vontade de destruir. Destes filmes que te colocam num estado meditativo.
Boogie Nights (Boogie Nights): segundo longa do genial Paul Thomas Anderson. Apesar dele contar a história de um lavador de pratos bem equipado que vira um astro do cinema pornô pode-se dizer que este é um filme sobre uma família. A família que faz os filmes. Fama, inveja, sexo e dinheiro são elementos comuns em filme e, estão todos lá. Nada disso é fora da casinha. O inusitado é conhecer um pouco o lado de dentro desta industria e, principalmente, a maneira como este diretor, este sim fora da casinha, conta suas histórias.
A Onda (Die Welle): ah se as escolas fossem assim! Em sua aula sobre autoritarismo o professor Wenger ouve dos seus alunos que a Alemanha jamais cairia no mesmo erro ao olharem para trás e saber o que sabem hoje. O professor organiza então uma espécie de clube no qual quase todos seus alunos vão entrando. Aos poucos a classe vai compreendendo que caiu na mesma armadilha que levou a Alemanha ao Nazismo. Os mecanismos deste processo estão todos ali. Lembrei de A Onda ao ver recentemente cartazes pedindo a volta dos militares no Brasil. Até que ponto a história nos ensina?