Faroeste Caboclo (Idem, Brasil, 2013) de René Sampaio
O filme: “Não tinha medo tal João de Santo Cristo, era o que todos diziam quando ele se perdeu…”… A mítica música de Renato Russo ganha carne, osso, sangue, violência e as telas na adaptação de sua história, cantada em nove minutos (e imortalizada) pelo Legião Urbana, nos anos 80.
Na trama, percorremos a trajetória de João (Fabrício Boliveira), que após sucessivas inquietações sociais deixa pra trás a pequena comunidade de Santo Cristo e segue até Brasília, a procura de uma vida por lá.
Na capital do Brasil a ajuda atende por Pablo (César Troncoso), primo distante e traficante peruano. Numa fuga conhece (e se apaixona por) Maria Lúcia, filha de um senador. Destemido e temido no DF, bate de frente com um traficante rival, Jeremias (Felipe Abib).
Porque assistir: um trabalho louvável de adaptação, principalmente porque não se apega em, obrigatoriamente, enfiar trechos da canção em sua trama. Ela simplesmente se aplica, adequadamente, a maior parte do tempo. O grosso da história, trágica e violenta, está toda lá, moldada de uma narrativa fluída e moderna. E lembre-se, é uma adaptação.
Como referências cinematográficas visualizo principalmente Oliver Stone e Quentin Tarantino (Selvagens, 2012 – direção e roteiro de Stone; Assassinos por Natureza; 1994 – direção de Stone e roteiro de Tarantino; Scarface; 1983 – roteiro de Stone), mas com bons resquícios visuais e estéticos de Cidade de Deus (2001).
Melhores momentos: o romance entre João e Maria Lúcia; a construção de o ódio entrincheirado na vida difícil do protagonista, desde o início (“Quando criança só pensava em ser bandido/Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu”) até o fim, trágico e, porque não, bonito; A elipse usa como narração visual um cacimbão e a entrada/saída de João do reformatório num reflexo como a passagem de tempo; E como é bonito ver as luzes de Natal de Brasília… (“Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal/Meu Deus, mas que cidade linda/No Ano-Novo eu começo a trabalhar”).
Pontos fracos: Marcos Paulo na pele do senador, de presença apática; talvez a violência – necessária para a história – possa afastar aos mais frágeis.
Na prateleira da sua casa: uma fita violenta, bem conduzida e com uma trinca de atuações surpreendentes: Fabrício Boliveira (João); Felipe Abib (Jeremias) e a bela ìsis Valverde (Maria Lúcia) e trama bem urdida. Sempre com muita violência, uso de palavrões, abuso sexual, consumo de drogas e algum humor, todas variantes necessárias ao produto final. E que produto, um faroeste urbano dos bons.
E enquanto os créditos sobem, que tal relembrar a bela canção?
Extras:
Making-of
Cenas externas
Renato Russo e a criação