Lamb (2021) de Valdimar Jóhannsson
Confesso que criei um certo hype para assistir ao filme Lamb: produção da A24, debut do diretor Valdimar Jóhannsson, que ganhou o prêmio de originalidade no Festival de Cannes em 2021 e causou boa impressão na Mostra Un Certain Regard. Todos os ingredientes estavam lá, porém a minha expectativa foi punida com um longa que tenta ser Pós-Terror (termo a qual eu detesto), mas somente fica na eterna promessa de entregar algo.
Acompanhamos um casal de fazendeiros de carneiros no interior da Islândia: Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snaer Guanason). Eles têm suas vidas transformadas depois do aparecimento de um misterioso recém-nascido. Ada (o bebê) é parte humana com uma cabeça de carneiro (Lamb). Se não bastasse a estranheza desse fato, o casal adota a criatura e a cria como um filho, e assim um “grande mistério que desafia a vontade da natureza começa.”
A frase entre aspas é proposital, pois somente nos cinco minutos iniciais e finais é que algo relevante acontece. É óbvio que o diretor cria sim uma atmosfera enigmática durante o longa, o que é potencializada com a belíssima fotografia de Eli Arenson. O profissional utiliza muito bem a paisagem com tons frios e esfumaçados, como também planos estáticos ou com pequenos movimentos de câmara subjetivas. Contudo, essa atmosfera sempre fica na promessa, sem substancialmente nos entregar nada.
Temas como a maternidade, os motivos do casal adotarem Ada e a estranheza criança em si são perguntas desperdiçadas ou entrelinhas que são óbvias demais. O roteiro, assinado por Jóhannsson e por Sjón, divide o filme em três capítulos, nos quais apelam para tudo: sonhos, clima de isolamento da região (a qual a fotografia faz meio trabalho) e nas atuações estranhas dos protagonistas perante algo absurdo. Nada que realmente aproveite o potencial evidente que todas essas questões e outras mais poderiam ter.
Para não dizer que nada acontece e, ao mesmo tempo, para exemplificar o que estou querendo dizer com potencial desperdiçado, vemos que no segundo capítulo é introduzido à narrativa o irmão de Ingvar, Pétur (Björn Hlynur Haraldsson), que vê Maria fazer algo ligado à maternidade e questiona o motivo do casal cuidar na verdade de um “animal”. Questionamentos pertinentes que não duram 15 minutos, para em seguida o próprio longa passe a ignorar completamente o ocorrido.
Se a intenção do realizador é criar um clima atmosférico, com perguntas inexplicáveis em clima de tensão constante, ele consegue por via de elementos técnicos como fotografia, montagem de Agnieszka Glinska, que criam sim tensão. Já sua trama não. Principalmente levando em consideração que um dos produtores executivos do longa é Belá Tarr, cineasta que também cria longas atmosféricos mas que entrega em seus trabalhos reflexões pertinentes.
Lamb, infelizmente, para mim é uma decepção perante todo potencial que poderia ser explorado. Honestamente, creio que o longa de Valdimar Jóhannsson, ainda será visto por muitos como cult e um futuro clássico. Mas se compararmos com outros, essa produção islandesa, por exemplo, perde de “A Bruxa” ou “Sombras da Vida” (A Ghost Story). só para ilustrar que somente veremos a diferença abissal entre o tentar fazer um “pós-terror” e o ato de conseguir.