Drive (Idem, 2011) de Nicolas Winding Refn
O filme: durante o dia o protagonista divide seu tempo entre ser dublê-motorista de filmes e mecânico de oficina. Á noite dirige o carro de fuga para criminosos.
Porque assistir: de violência estilizada, protagonista calado, mas forte (numa estupenda atuação de Ryan Gosling) e em busca de justiça, com um roteiro redondo.
A fotografia é precisa e reflete seus momentos distintos. Na presença dela, as cores são quentes, como ao avistá-la no supermercado ou quando chega com o carro enguiçado. Nos seus trabalhos (de motorista e mecânico), há muitas sombras e alguma escuridão. E dá-lhe a trilha de Cliff Martinez a pulsar entre a melancolia e a tensão de uma narrativa objetiva, seca e sincera.
Bryan Cranston faz com gosto um eterno perdedor (Shannon) que ainda crê na vitória final. Um magnífico Albert Brooks estende a mão à Gosling ao tentar cumprimentá-lo e escuta “minhas mãos estão meios sujas (de graxa)”, mas se traduz maleficamente na própria fala ao respondê-lo: “as minhas também”.
A direção precisa de Winding Refn ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes.
Melhores momentos: sempre de palito na boca, ele quase não fala. E nem precisa de um nome. Ele é apenas “o garoto”. Sua apresentação na primeira sequência é perfeita, enquanto a batida da trilha instiga o desdobramento da ação milimetricamente estudada. Ali está desenhado quem (e como) guiará não apenas o volante, mas toda a trama do filme.
Nem quando está em ação “o garoto” demonstra reação. É frio e calculista. Até quando a explosão de violência é necessária seus movimentos são calculados. Milimétrico.
Até sua paixão é silenciosa. Quase platônica. O perigo está ali estampado na alma dos dois, quando se olham no elevador. O amor é expresso em olhares, e, naquele momento não há nada mais perigoso. Aqui a sutileza é a base. Uma mão ao passar a marcha. Um sorriso no canto da boca de Carey Mulligan. Ele nem pisca. Nem precisa.
Pontos fracos: inexistente. Filme impecável. Aos desavisados, NÃO é um filme de ação.
Na prateleira da sua casa: palmas para Ryan Gosling ou “o garoto”. Um monstro. Um samurai do volante. Um cavaleiro solitário. Um motorista que defende os fracos e oprimidos. Carey Mulligan é a doçura em formato de mulher, por isso até mesmo para uma pessoa tão fria, a paixão é fulminante.
E com confrontos tão tensos quanto carregados no tom da imprevisibilidade, o perfeito Drive dá um nó na garganta e deixa o espectador igual ao seu protagonista: não dá chance nem para piscar.
Extras:
Official Soundtrack Preview
The Chromatics – Tick the Clock