Distrito 9 (District 9, 2009) de Neill Blomkamp
O filme: uma nave extraterrestres pousa em Joanesburgo, África do Sul. Ao invés de atacar são refugiados e se encontram desnutridos. E são muitos. O governo cria então o Distrito 9, onde humanos não são bem vindos. Uma multinacional é contratada para controlar os alienígenas, mas na tentativa de deslocá-los para um novo campo de concentração, o burocrata transformado em agente de campo Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley) começa a ter problemas em fazer o seu trabalho ao ter um contato mais que imediato.
Porque assistir: composto de um elenco de ilustres desconhecidos, seu protagonista é a excelente revelação Sharlto Copley. Impossível imaginar um astro na pele de Wikus passando o que ele passou.
A constatação da materialização de um material tão brutal quanto real, quando se trata da segregação racial é outra fantástica surpresa, com seu roteiro duro, inteligente e corajoso. Aqui não tem nada bonitinho, tudo é sujo e possivelmente real. Se antes eram os negros, agora os atingidos são os Ets, pejorativamente chamados de “camarões” pelos humanos.
Melhores momentos: depois de uma pequena introdução, em estilo jornalístico e documental, prepare-se para mais de uma hora e meia de tensão ininterrupta, sem tirar de dentro. O espectador é arremessado ao campo de guerra. E enquanto o sangue explode nas lentes das câmeras – como se fora em seu rosto – a câmera (viva) na mão registra o ódio subindo pelas tabelas.
É apenas a constatação do fim da sociedade, sem direito a diferenças de raças, como um apartheid alienígena ou mesmo de um futuro próximo. Sua violência em massa é legitimada pelo ódio escorrendo em cada ação de Humanos Vs. Ets. O racismo intermitente e o clima de guerra são apenas movimentos necessários para uma tentativa de grandes lucros para uma Empresa multinacional.
Pontos fracos: um tom político e uma narrativa de filme-realismo pode afastar os olhos mais acostumados com o cinemão americano.
Na prateleira da sua casa: é uma ficção científica e tem cenas impressionantemente aceleradas, com alienígenas e humanos se enfrentam sem dó nem piedade, num derramamento de sangue digno do Dia D na Segunda Guerra Mundial. Apesar de todas essas características dignas de um blockbuster hollywoodiano, não espere o comum e esqueça os clichês.
Uma produção nada convencional da Nova Zelândia/EUA rodada quase toda na África do Sul não tem heróis indestrutíveis, piadinhas para quebrar o gelo ou exaltação aos EUA. Um material que tem coragem de falar apenas a verdade: que o ser humano não cansa de ser egoísta, mesquinho, medroso e preso a qualquer tipo de amarras, sejam elas sociais, financeiras ou psicológicas. Medo. Tenha muito medo do futuro.
Indicado ao Globo de Ouro de melhor roteiro, concorreu também ao Oscar de melhor filme, roteiro adaptado, edição e efeitos especiais.