Anticristo (Antichrist, 2009) de Lars Von Trier
O filme: enquanto faziam amor, um casal sofrem a perda do filho, que se suicida acidentalmente. Em busca de redenção, equilíbrio e amor, o casal se isola numa cabana, mas a loucura não tarda a se instaurar.
Eles não têm nomes, são apenas ele (Willem Dafoe, ótimo) e ela (Charlotte Gainsbourg, visceral). O prólogo é uma sensacional conjunção de imagens belas, fortes (de tintas entre o sépia e o preto & branco) e uma música clássica arrebatadora. Depois disso o delírio entra cabana adentro, local escolhido para repensar sobre a vida, enfrentar a tragédia, expor as dores e tentar curar os traumas.
Porque assistir: é um filme de Lars Von Trier, o mesmo de Dançando no Escuro (2000), Dogville (2003), Melancolia (2011) e Ninfomaníaca (2013). Sempre perturbador, o diretor e roteirista aborda tramas que poderiam ser comuns, mas com muita inquietação. O espectador agradece, pois o estímulo ao pensar é sempre válido.
Melhores momentos: indicado à Palma de Ouro em Cannes, levou o prêmio de atuação feminina para Charlotte Gainsbourg, que visceralmente se entrega ao papel de uma mãe que perde o filho enquanto fazia amor. Mea culpa? Ah, se prepare para uma sucessão de loucuras causada pelo trauma de se sentirem culpados pela morte do filho.
Apesar do tom explícito, o sexo no chuveiro, num belíssimo preto e branco soa muito bonito.
Pontos fracos: por vezes a densidade se torna viagem, e a distância entre compreensão e o além batem mais forte. Para quem se rende com o pudor, afaste-se da obra, pois há sexo explícito e mutilação sexual, ambos essenciais para o filme.
Na prateleira da sua casa: é um drama que pesa até na alma, mas é de arrepiar. Pode até ser incompreendidos por muitos, mas para quem tem mente, estômago e peito bem fortes, é excepcional.
É um exercício de estilo e insanidade de Lars Von Trier, que corajosamente não fez concessões nas cenas de sexo, violência e principalmente na automutilação.