Da cabeça mirabolante do cineasta David Lynch, Twin Peaks (1990-1991) é uma série de TV que estreou na televisão americana em 1990. Lançada como cult, se tornou um fenômeno, e mesmo após 23 anos de sua estreia, com o tempo voltou ao nível de cult. E que cult.
A trama partia de um fato simples, mas chocante. A descoberta do corpo de Laura Palmer (Sheryl Lee), a bela e popular jovem de 17 anos, rainha do baile da pequena cidade de Twin Peaks. O crime é investigado pelo agente do FBI Dale Cooper (Kyle Maclachlan) e termina por mostrar aos telespectadores que, por trás de uma cidade “perfeita”, há muitos podres. Múltiplas traições, violência doméstica, corrupção, drogas, abuso sexual…
A série noventista estreou em tempos que a TV não era tão valorizada como nos últimos anos. As dramáticas Os Sopranos, 24 Horas, Mad Men, House, Game of Thrones, Breaking Bad, Homeland, True Detective, Downton Abbey as cômicas Friends, The Big Bang Theory e Modern Family, e as sci-fi/terror The Walking Dead, Lost e Arquivo X mudaram a percepção do público e do mercado perante a TV. A série de TV como um produto de consumo é um reduto mais original que o cinema atual, tanto que a rede Netflix produz House of Cards exclusivamente para os seus assinantes.
David Lynch tinha acabado de ganhar a Palma de Ouro em Cannes com Coração Selvagem (1990), e já havia sido indicado ao Oscar de melhor diretor por O Homem Elefante (1981) e Veludo Azul (1986). Ir para a tela pequena com um substrato tão enigmático, podia por fim a uma carreira brilhante. Mas o poder do estranho encontrou a audiência.
Reduto de quem não era tão bom para o mercado de cinema e que abrigava os ex-astros da tela grande, a TV americana esteve prestigiada principalmente no primeiro ano de Twin Peaks. A série foi aplaudida pela crítica, intrigou o público por duas temporadas (90-91) e gerou um filme-prólogo, contando “Os Últimos Dias de Laura Palmer” (1992), que estrou no Festival de Cannes.
Eu lembro demais quando Twin Peaks estrou na TV aberta do Brasil. Ficava esperando até tarde de domingo o fim do Fantástico para adentrar no mundo bizarro de David Lynch. Mesmo com a dublagem, em que se perde muito o tom adotado em cada interpretação, a trama me deixava completamente hipnotizado, intrigado e instigado para ver um novo episódio uma semana depois.
Após o cancelamento da atração – prejudicado pela própria decisão da Globo de pular episódios – o que deixou seu público perturbado com o final em aberto, quando foi lançado em VHS, o sucesso foi imediato. Em tempos sem internet, era complicado viver com essa ansiedade.
A Universal/Paramount/CBS relança 23 anos depois um box essencial em Blu-ray. Obrigatório na prateleira dos fãs de David Lynch, dos fãs da série/filme e principalmente dos apaixonados pela cultura pop/cult. A cultuada série por si só já vale o investimento.
Mas a caixa de luxo vem com 10 discos que contém as duas temporadas de Twin Peaks (1990-91) e o filme-prólogo de David Lynch, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Os extras também são bem especiais. São cerca de 90 minutos de cenas extras, inéditas e estendidas, além de introduções especiais da Senhora do Tronco. E que embalagem luxuosa!
O episódio piloto (100 minutos) de Twin Peaks foi exibido pela primeira vez em 8 de abril de 1990 na rede ABC e acabou levando a outros sete episódios que formam sua primeira temporada. Depois, houve uma segunda temporada de 22 episódios, que foi ao ar até 10 de junho de 1991 nos EUA.
Um dos recordista de indicações ao Emmy, com 14, foi premiado em dua categorias (melhor figurino e edição), Twin Peaks venceu o Globo de Ouro de melhor série dramática, melhor ator (drama) para Kyle Maclachlan e melhor atriz-drama (Piper Laurie). Se tornou um dos programas mais assistidos da década de 1990, um sucesso de crítica tanto nacionalmente quanto internacionalmente.
Criticamente, Twin Peaks – uma das séries de TV mais assistidas da década de 90 – foi um sucesso tanto nos EUA quanto fora. A obra criada por Lynch e David Frost se tornou referência não somente para a TV, mas também influencia a cultura pop até hoje.
Esteticamente é simples, mas tem uma trilha sonora marcante (Angelo Badalamenti), uma fotografia fria, um elenco composto de muitos coadjuvantes e desconhecidos, mas se mostrando em um nível que reflete muito bem a direção caprichada e uma trama misteriosamente eloquente. Contudo, houve uma pequena queda em seu nível de mistério, quando a ABC resolveu apressar a revelação do assassino para o meio da 2ª temporada em busca de uma audiência que estava se esvaindo aos poucos.
Para fechar a trama e explicar melhor suas resoluções, David Lynch preparou para o cinema um prequel – tipo de filme incomum para a época. Sua obra, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk Me, 1992), estreou com pompa no Festival de Cannes, e o prelúdio funciona bem como uma exposição explícita da ‘vida louca vida’ de Laura Palmer antes de morrer.
Uma obra de um total de pouco mais de 25 horas, e que se torna ainda mais indispensável com o anúncio para 2017 de um retorno à Twin Peaks, pelas lentes, olhos e texto, claro, de David Lynch e Mark Frost. Twin Peaks: O Mistério é a dica.
1ª Temporada:
2ª Temporada:
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer: