Uma Noite em Miami… (One Night in Miami…, 2021) de Regina King
Uma Noite em Miami é longa que se passa na década de 60, mas que ressoa com naturalidade nos dias de hoje. Pegue, por exemplo, o movimento Black Lives Matter e todos os importantes ídolos que participam e dão voz a ele, e você verá a importância e urgência da película na atualidade.
O longa se trata de uma adaptação de uma peça homônima escrita por Kemp Powers (aqui também assina como roteirista do filme), baseados em acontecimentos reais, porém de registro fictício. Em uma noite, ícones negros como Cassius Clay/Muhammad Ali (Eli Goore), Malcolm X (Kingsley Bem-Adir), Sam Cooke (Leslie Odom Jr.) e Jim Brown (Aldis Hodge) se reúnem em um pequeno hotel em Miami e discutem seus papéis na luta dos direitos civis contra o racismo.
Na sua estreia em direção de longas, Regina King é segura. Tratando-se de uma adaptação da peça, ela entra em uma linha tênue entre o teatro e o cinema em relação aos espaços cénicos, porém, sempre encontra um jeito de dar ritmo e movimentar a câmera dentro dos espaços para que não soe totalmente teatral.
Mas a grande força do filme é seu texto. A luta dos direitos civis e o constante racismo que os protagonistas sofrem são a grande força do filme. Discussões como papel que os ídolos tem em representar a comunidade negra, sua relação com os brancos, extermínio da comunidade afrodescendente, são temas que norteiam o filme.
Malcolm X é o protagonista/mentor/instigador dos outros personagens. O personagem é que vai, através de vários diálogos, tirar da zona de conforto os demais e convencê-los a entrar em sua causa. Claro, nem todos estão dispostos a entrar nessa luta, e é aqui que surge os principais conflitos.
Cassiu Clay/Ali não sabe se assume completamente a religião Islâmica praticada por Malcon. Brow mesmo sendo um personagem que sabe que não é admirado pelos brancos, não quer perder sua aceitação por ser um grande jogador da NFL. Mas o embate mais interessante está entre Malcon X Cooke. Ambos têm uma visão distintas e argumentos fortes em relação aos brancos, o que nos faz refletir entre o extremismo e lutas pequenas para o mesmo fim.
O único problema que a diretora Regina King não resolve são as várias camadas que o filme poderia oferecer. Mesmo com a força no texto, aqui a linha tênue entre as situações cinematográficas – pois estamos falando de um filme – e o teatral desanda no uso excessivo da oralidade. Todas os conflitos são explicitamente ditos ao invés de subentendidos.
Contudo, a união prevalece no final, pois independente de qual ponto de vista está certo, a luta contra racismo existe e tem de ser combatida. Em 1h54 min, mesmo com um ritmo cadenciado, somos levados a refletir sobre a época do filme, como também a hoje em dia que deve se posicionar contar as injustiças. E mesmo com seus pequenos deslizes, Uma Noite em Miami é um filme mais atual do que nunca. Luta por ter voz e tomar partido tem de ser de ídolos ou de qualquer ser humano que queira uma sociedade justa.