Top Gun: Maverick (2022) de Joseph Kosinski
Há dois elementos que chamam atenção, tanto na abertura, como na sequência inicial de Top Gun: Maverick: nostalgia e elementos técnicos (fotografia, som e montagem). Tais bases irão guiar toda a trama, e juntas, o passado e a técnica vão dando espaço ao frescor de novidade a uma franquia onde original se passa 33 anos atrás. Some isso a constante discussão que se dá, em várias camadas, entre o embate da “Tradição vs. Modernidade.” Podemos dizer que essa continuação é quase perfeita em sua proposta.
Depois de pilotar um super caça aéreo para provar que os drones ainda não superam os pilotos, Pete “Maverick” (Tom Cruise) quase perde seu posto de capitão da marinha. Entretanto, para sua surpresa, ele é convocado novamente para ser um Top Gun através da indicação do seu velho amigo, almirante “Iceman” (Val Kilmer).
Agora o objetivo é treinar uma junta de jovens pilotos no programa militar Top Gun, para uma missão quase suicida. Maverick terá que provar para os demais, e para si mesmo, que é capaz de tal feito, montando um time, lidando com questões do seu passado e provando que o ser humano não está obsoleto.
Como dito acima, em elementos técnicos se destacam, beirando a perfeição. A direção de Joseph Kosinski (que já havia trabalhado com Cruise na ficção-científica, Oblivion), a fotografia de Claudio Miranda e o design sonoro de Mark Agostino e equipe, e a montagem de Eddie Hamilton, são dignos de disputarem prêmios em festivais e premiações.
É impressionante vermos os atores pilotarem os caças (F-18) e enfrentarem a “Força G” de verdade. Esse grau de realismo vem muito por Tom Cruise, realmente torna o filme especial. Mesmo com óbvios efeitos visuais e especiais, é praticamente impossível notar alguma interferência.
A trilha sonora de Lorne Balfe evoca o original e os dias atuais. Uma pena que a música tema “Hold My Hand” de Lady Gaga seja tão mal utilizada no filme, e creio eu que não terá a mesmo impacto de “Take My Breath Away”, da banda Berlin, que marcou uma geração, além de ganhar um Oscar de canção original.
Nunca lançaria Top Gun diretamente para o Streaming”, respondeu Tom Cruise em uma entrevista. Uma decisão acertada de segurar o longa para ser saboreado na telona. Mas isso somente evidencia a camada presente no próprio longa, ou mesmo fora dele: a tal “Tradição vs. Modernidade”, seja em drones substituindo pilotos, efeitos práticos vs. efeitos especiais, Cinema vs. Streamings.
Narrativamente, o filme explora bem a nostalgia para criar possibilidades. O novo longa espelha temas e beats narrativos do clássico sem parecer repetitivo. Como por exemplo a cena da praia, que agora tem um sentido completamente diferente, para além de emular o longa original. Isso só confirma que essa continuação tem elementos novos a dizer, e não é somente um simples caça níquel para explorar os fãs dos anos 80.
Personagens antigos voltam à trama, e provocam momentos tocantes, como a cena de Kilmer e Cruise. O interesse romântico do nosso protagonista, Penny (Jennifer Connelly), é mais bem desenvolvido do que o romance com Charlie (Kelly McGillis) do original, que infelizmente sequer foi chamada para continuação (um velho problema que Hollywood ainda possui com atrizes mais velhas, uma pena).
E apesar de novo longa se chamar Maverick, existe sim espaço para novos personagens. Os pilotos (não irei citar todos), tem cada um uma personalidade característica e são relevantes para a trama. Em especial o piloto Bradley “Rooster” (Miles Teler), que é filho de Goose (Anthony Edwards), parceiro de Maverick do original, onde o conflito entre os dois é inevitável.
Porém, é no terceiro ato que temos o ápice da adrenalina. É interessante e até mesmo corajoso o caminho que o roteiro toma, pois em certos momentos, eu achei que a história caminhava para caminhos “errados”. Mesmo que as soluções pareçam clichês, funcionam muito bem, pois evocam no grau certo a junção de nostalgia e ação.
Top Gun: Maverick é uma continuação em que se propõe de forma quase perfeita, e alinhar nostalgia e ação palpável é seu grande mérito. Tom Cruise mostra mais uma vez que sabe escolher seus projetos, e sua “loucura” em trazer um Cinema mais próximo do real, somente beneficia o espectador.