Sonic – O Filme (Sonic The Hedgehog, 2019) de Jeff Fowler
Adaptações de games para o cinema têm um conhecido histórico de baixa qualidade, seja pela descaracterização dos personagens, pelo enredo desvirtuado da obra original ou apenas pela falta de identificação entre espectador e protagonista, relação fundamental nos jogos. Desde os títulos que iniciaram este movimento, como “Super Mário Bros.” (1993) e “Street Fighter” (1994), até os mais recentes, como “Need For Speed” (2014) e “Tomb Raider” (2018), todos sofreram duras críticas dos fãs dos games, do público convencional, e da crítica de cinema.
No entanto, um dos personagens mais famosos e importante da história dos vídeo-games, Sonic, ainda não havia tido oportunidade de ser visto nas telonas, tendo apenas uma série animada para televisão como forma de adaptação mais conhecida. Ao ser revelado o primeiro trailer do filme em live-action, o design estranho e pouco fiel do personagem-título causou uma grande revolta dos fãs nas redes sociais.
A repercussão negativa fez com que o diretor Jeff Fowler e a Paramount Pictures cedessem à pressão e adiassem a data de estréia do longa para reformular a aparência do ouriço azul. Com o lançamento do segundo trailer, relevando o novo design do protagonista, bem mais fiel à sua contraparte dos jogos, os fãs abraçaram a proposta e os produtores do longa respiraram aliviados com a aceitação do público.
E no enredo de Sonic – O Filme (Sonic The Hedgehog, 2019) de Jeff Fowler, Sonic se vê obrigado a deixar seu mundo devido a inimigos que ameaçavam sua vida. Com seus anéis de teletransporte interdimensional, ele veio parar na Terra, onde vive recluso por anos em uma caverna, apenas observando e aprendendo sobre os hábitos e a cultura dos humanos através do pacato cotidiano dos moradores de Green Hills. Um incidente causado por Sonic de forma não proposital causa um blecaute na cidade inteira. Devido à complexidade da situação, as autoridades chamam o excêntrico cientista Dr. Robotnik (Jim Carrey) para descobrir a causa do apagão e retomar a normalidade. No desespero, Sonic tenta fugir e acaba cruzando o caminho do policial Tom (James Mardsen), que oferece ajuda ao ouriço.
A atmosfera do longa lembra os clássicos dos anos 80 e 90 da Sessão da Tarde. Humor leve e divertido, história que pausa em alguns momentos para alguma óbvia cena a la Mercúrio em “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”, e diálogos não muito criativos sobre dramas pessoais supostamente profundos. Nada que surpreenda, mas tudo feito de modo decente para a proposta.
O mais importante para o espectador é a caracterização (tanto física quanto comportamental) do personagem-título, e nisso acertaram. A dublagem juvenil de Ben Schwartz dá leveza e carisma à Sonic, que apresenta uma vulnerabilidade emocional no tocante a relações sociais e, ao mesmo tempo, uma determinação quanto ao que precisa ser feito para o bem de todos. Já Jim Carrey é seu próprio personagem. O ator esbanja seu tipo de humor característico, dando uma personalidade específica ao vilão e destacando-se como um dos pontos fortes do longa.
Os fãs mais antigos do personagem também hão de encontrar conforto na adaptação. Algumas cenas remontam aos primeiros jogos da franquia, assim como a trilha clássica que toca em um momento específico para afagar os corações mais antigos.
“Sonic – O Filme” é uma das melhores adaptações de game já feitas para o cinema. Em sua simplicidade, evoca a essência dos jogos sem apelar para uma nostalgia forçada. Fowler, em todo respeito que demonstrou aos fãs durante a conturbada pós-produção do longa, mostra que entende sobre o que faz as pessoas amarem um personagem.