Os Farofeiros (Brasil, 2018) de Roberto Santucci
Seja um feriadão ou ano novo, existem grandes possibilidades de muita coisa dar errado. Os engarrafamentos são quilométricos, e geralmente os carros ficam abarrotados de tralhas. E em Os Farofeiros (Idem, Brasil, 2018), a trama abraça os perrengues passados por quatro famílias brasileiras de classe média que, ao decidirem alugar uma casa de praia para passar as festas de final de ano, acabam se metendo em uma cilada.
Os planos de um passeio perfeito vão definitivamente por água abaixo quando descobrem que a tal casa que alugaram estava abandonada. E caindo aos pedaços. A viagem ainda reservará ataques de mosquitos (em uma sequência bizarra), disputas por um espaço na areia de praias lotadas e a prática literal da “farofa”.
Inclua também na história a questão de administrar os problemas de convivência, já que Alexandre (Antônio Fragoso) será o próximo gerente da filial, e no início do ano terá de escolher entre Lima (Maurício Manfrini), Rocha (Charles Paraventi) e Diguinho (Nilton Bicudo) para que um deles seja demitido.
A comédia é assinada por Paulo Cursino e dirigida por Roberto Santucci, a mesma dupla por trás dos sucessos dos dois De Pernas pro Ar (2010; 2012), da trilogia Até que a Sorte nos Separe (2012; 2013; 2015), O Candidato Honesto (2014), e Um Suburbano Sortudo (2016). E não por coincidência. O tom é parecido com as obras anteriores. O humor é simples, e as são piadas telegrafadas.
Melhor do elenco, Cacau Protásio faz de Jussara uma dona de casa suburbana mais próxima da realidade. Reclama do marido, bate quando precisa, fala alto, adora uma farofada, mas tem um bom coração. Quem também tem seus momentos é Charles Paraventi, ciumento com a filha adolescente, e cuidadoso com a esposa grávida.
Descolado como malandro, Maurício Manfrini praticamente repete seu personagem mais famoso, o Paulinho Gogó da Praça É Nossa, para fazer graça na base do escracho com muito palavrão e piadas infames.
Já Danielle Winits vive Renata numa eterna histeria que beira o insuportável. Da bela veterana, se salva em apenas uma cena. A previsível queda na piscina nojenta, mas que faz bem uma sátira involuntária à Samara, no filme de terror O Chamado.
Escrito para se fazer piadas sucessivas que a sua inteligência seria mais importante que o seu corpo, a personagem Elen de Aline Riscado, simplesmente não é crível. E o mesmo pode se dizer de seu parceiro, o chorão Nilton Bicudo.
Além de sua trama ser mais do mesmo, há problemas narrativos para costurar o filme. A narração em off some e volta de repente, a história contada muda de plano, e o final apela até para o suspense (quem será o demitido?) e o melodrama, com o excesso de discursos clichês. Mas ciente das suas limitações, Os Farofeiros é puro escracho popular. Claro, pois há público para tudo, com direito até uma auto-referência ao cinema nacional fazendo uso da metalinguagem do filme-dentro-do-filme, e até piadas repetidas.