O Filho Eterno (Idem, 2016) de Paulo Machline
Seleção Brasileira, tida como o time dos sonhos, entra em campo para duelar contra a Itália, desacreditada desde a estreia na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Em Curitiba, o casal Roberto (Marcos Veras) e Cláudia (Débora Falabella) não verão a partida decisiva. É hora de dar a luz ao tão sonhado filho. Do outro lado do mundo, o Brasil perde o duelo, e está eliminado. No hospital brasileiro, nasce o bebê Fabrício, mas os pais recebem a notícia que ele tem síndrome de Down. A conexão do choque, da derrota, é imediata.
E é assim que começa O Filho Eterno (Idem, Brasil, 2016) de Paulo Machline, uma adaptação do livro homônimo de Cristovão Tezza. Sensível ao tratar o tema, a obra procura mostrar a realidade de uma família brasileira frente às poucas informações que os médicos tinham dessa condição, e consequentemente como essa situação reverbera no relacionamento do casal.
Indicado ao Oscar pelo curta-metragem Uma História de Futebol (1998), e com a boa experiência de um drama biográfico com Trinta (2012), o diretor consegue unir essas duas experiências com um resultado bem satisfatório.
Se originalmente no livro no que diz respeito ao futebol, o foco era o Atlético Paranaense, na telona o subtexto da paixão futebolística foi adaptado ao cinema muito bem para a Seleção Brasileira. Principalmente pelo arco da passagem de tempo entre Copas do Mundo, mais identificável para o público, e sua interseção com o avanço da relação pai e filho.
Além disso, tem um fator bem importante, a condução do seu protagonista, Marcos Veras – comediante revelado no canal do YouTube, Porta dos Fundos – em uma trama séria. Imediatamente me vem a mente a guinada de Jim Carrey ao estrelar O Show de Truman (1998), depois O Mundo de Andy (1999) e O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004). Não tão talentoso quanto o americano, Veras não compromete em um papel difícil. Frente aos acontecimentos, existem momentos de delicadeza e indelicadeza, escrotidão, e até angústia que o deixa à deriva.
E apesar de menos tempo em tela, Débora Falabella é pura doçura, enquanto o jovem Pedro Vinícius – o jovem Fabrício – é uma grata surpresa.
Claro, existe um universo e público-alvo, o das famílias que convivem com a Síndrome de Down, seja ela de alguma forma ou em diferentes níveis. Mas o novo filme Paulo Machline é um drama familiar universal completamente acessível. E emocionante.