Esqueça deuses, semideuses e monstros mitológicos. Veículo para Dwayne “The Rock” Johnson destilar pancadaria armado de sandálias e músculos, a nova versão para a história de Hércules (Hercules, 2014) deixa de lado a fantasia e foca na aventura leve. Baseado na minissérie em quadrinhos “Hércules: Guerras Trácias” de Steve Moore, o fita de Brett Ratner até tem ritmo e bastante ação, mas não chega a empolgar.
Em prólogo narrado, a história passa voando sobre a origem do personagem, e abrevia a questão entre nascimento e alguns dos 12 trabalhos do herói. A trama se assume como zero magia, ação total e um tom engraçadinho, sempre com um suspiro cômico para aliviar a aventura. Após a morte da esposa e filhos, Hércules (Dwayne Johnson) lidera um grupo de mercenários em busca de sobrevivência em trabalhos em que troca sopapos por ouro.
A trama é um festival de barbas, cabelos postiços, sandálias e areia em meio à batalhas, conspiração, guerra, muita pancadaria e pilhas de corpos (com nenhuma brutalidade e o uso tímido do sangue). Se o discurso do herói antes do embate não empolga, com ritmo, a obra distribui duas boas batalhas, que funcionam mesmo não sendo espetaculares.
E como toda a sua ação (amplificada na cópia IMAX), a “clássica” cena das correntes de Hércules é recriada de uma forma um pouco exagerada. Coisas do irregular diretor Brett Ratner, o mesmo da trilogia de comédia policial A Hora do Rush (1998; 2001; 2007) – que também equilibra ação e piadas. Ele já derrapou feio com a comédia Roubo nas Alturas (2011) e na fita de roubo Ladrão de Diamantes (2004), mas acertou em cheio com o policial Dragão Vermelho (2002) e no drama O Homem de Família (2000).
Apesar da construção mínima do personagem central – que inclui dois flashbacks perdidos, numa vã tentativa de dar vazão às ações do “herói – o protagonista tem carisma e presença. Ponto para ‘The Rock’, que construiu uma carreira sólida em grandes produtos hollywoodianos.
Apesar do ‘fracasso’ comercial nos EUA (U$ 71 milhões) a superprodução (de U$ 100 milhões) vem se pagando no mercado internacional (U$ 103 milhões e contando, totalizando antes da estreia no Brasil U$ 174 milhões de dólares).
Já a “equipe” de Hércules é um conjunto ambulante de esteriótipos (o sábio, o animal, a amazona, o sério, o contador de histórias), enquanto as piadinhas não cessam, além da repetição na brincadeira de uma morte eminente.
No elenco, espanta ver Joseph Fiennes (astro de Shakespeare Apaixonado, 1998) fazendo uma ponta ridícula, e um veteraníssimo John Hurt (indicado ao Oscar de melhor ator por O Homem Elefante, 1980) como um Rei completamente apagado.
O roteiro acerta em desmistificar a mágica história do semideus e ainda coloca em duvida se ele é mesmo filho de Zeus. Algo aparentemente já plantado para uma possível continuação da aventura. Mas erra em apresentar Hércules como um mercenário e repentinamente o faz criar consciência de herói. E assim se faz justiça com os próprios músculos. A narrativa brinca com os feitos narrados, mas faz uma troca de narrador tentando ser engraçado, sem necessidade.
No fim, esse novo Hércules (não confundir com o Hércules 3D – The Legend of Hercules, que estreou em fevereiro de 2014 e é um dos piores do ano), é uma aventura meia-boca ao estilo “sessão da tarde”. De frases feitas e com uma impressionante contagem de corpos ao longo pouco mais de uma hora e meia, é um filme fácil de assistir. E de esquecer também.