Quem nunca escreveu num caderninho suas confissões de dia-a-dia contando como foi o primeiro olhar apaixonado, as brincadeiras nas salas de aula, a sensação do primeiro beijo, as festinhas do prédio e até mesmo a primeira transa?
Bem, caderninho, é muito anos 90… Agora a geração Y ataca de smartphone, tablets, máquinas digitais e computadores, e as confissões deixaram de ser só para si e ganharam as páginas digitais das redes sociais. Hoje em dia é comum todo mundo postar sobre quase tudo que se acontece, seja uma topada numa calçada, uma festa bacana ou mesmo o nada.
É com essa sensação de mudar do analógico para o digital que chega aos cinemas o novo Confissões de Adolescente (Idem, Brasil, 2014) de Daniel Filho, com texto baseado na peça e série de TV de Maria Mariana, que tanto fez sucesso entre 1994 e 1995.
O filme atualiza as confissões de um grupo de adolescentes do Rio de Janeiro, e a trama se fixa na geração Y, entre o começo do Orkut até o uso atual do Facebook, e explora principalmente a via de quatro irmãs (Sophia Abrahão, Bella Camero, Malu Rodrigues e Clara Tiezzi) que recebem a dura declaração do pai (Cássio Gabus Mendes, ótimo) de que eles vão ter de se mudar. Para um filme de Daniel Filho, impregnado pelo sucesso das comédias abobalhadas de Se Eu Fosse Você 1 e 2 (2006; 2008), até que as escorregadas são mínimas.
Do mote – puxada pela condição financeira familiar, a trama passa pelo bullying no colégio (em tom nada ameno e quase forçado, quase), menstruação (um tema que quase passa batido e aparece numa cena cômica), homossexualismo (há um verniz social, mas no geral bem empregado), gravidez na adolescência (o melhor caso explorado), decisões sobre a carreira, amores e desamores (com idas e vindas no tempo).
O dito rito de passagem – entre os 13 e a maioridade, o colégio e a faculdade – ganha contornos dramáticos necessários (na gravidez) e outras cenas cômicas desnecessárias (como o orgasmo no espaço). O clima no geral é leve e as atrizes originais da série (Maria Mariana; Daniele Valente, Georgiana Góes e Deborah Secco – a melhor delas como uma mãe sem noção que fiscaliza a data de validade das camisinhas do filho) fazem ‘participações afetivas’.
Mas diversão mesmo é ver uma espécie de sátira (sensacional e hilária) de ‘Crepúsculo’, ao envolver o primeiro amor como ponto de partida. Na verdade, só essa brincadeira é melhor que toda a Saga (de araque) ‘Crepúsculo’ (2008; 2009; 2010; 2011; 2012).
Se antes a turma se reunia para ‘bater os retratos’ e torciam para que todos saiam bem nas fotos, que depois eram coladas nos cadernos, hoje tudo isso dá lugar ao sentimento de instantaneidade. Em tempos de Instagram, onde as fotos são postadas imediatamente na internet e as redes sociais são onde se bebem notícias, diversão e polêmicas, os namoros são ficas, e uma noite de amor pode ser agora um sexo casual.
Ok, as coisas não precisam ser tão assim diferentes. Mesmo em tempos digitais e com um filme que moderniza uma série de TV dos anos 90, podemos perceber em cenas e sentimentos que ainda existe o romance, o amor, a família e os melhores amigos para te apoiar.