Monster Hunter (2021) de Paul W.S. Anderson
Ao contrário que senso comum pensa, uma adaptação não tem a obrigação de fidelidade a obra adaptada ou sua essência. O adaptador tem liberdade muitas vezes de subverter ou apenas pegar elementos da obra original e construir um universo completamente novo. Dito isso, a análise de boa adaptação vai na construção da nova obra (e narrativa) que ela propõe a ser.
Paul W.S. Anderson (diretor da série de filmes Resident Evil), usa tal liberdade que o adaptador tem, e cria uma obra que pinça alguns elementos do original. O seu grande problema é o que ele propõe como novo completamente pobre. Sua proposta é criar uma narrativa de certo ponto “gameficada”, porém com uma história pífia para justificar inúmeras cenas de ações quase ininterruptas. Pior, que apenas vai destruindo todas as potencialidades que novo universo poderia oferecer.
Baseado na série de jogos homônimo da Capcom (também produtora da série Resident Evil), o filme Monster Hunter começa quando uma tempestade de areia leva a Tenente Artemis (Milla Jovovich) e seu grupo do exército a outro mundo, denominado Monster Hunter. Nesse novo universo hostil, rodeado de monstros, a protagonista tenta sobreviver para voltar ao nosso mundo.
Como dito anteriormente, o diretor produz uma narrativa “gameficada” com ação quase que ininterruptas. Saltamos de cenário a cenário, como uma fase de um jogo (a fase da areia, da montanha, o do barco, da floresta…) e em ação e ação. Não temos quase nenhum desenvolvimento de personagens, e a história apenas serve para justificar novo ponto de embate que veremos alguma batalha acontecer. Outro problema é que o mise-en-scène de Anderson para suas cenas de ação, muitas vezes nos desorienta com uma montagem picotada.
Milla Jovovich (esposa e musa dos filmes de Anderson, mas revelada por Luc Besson em O Quinto Elemento, 1997) faz praticamente o mesmo papel de Alice (protagonista da série de filmes Resident Evil), uma máquina de batalha, que cena após cena, tem de brigar com adversário diferente. Não seria problema, já que muitos filmes de ações (como por exemplo a franquia Jonh Wick) também segue mesma proposta. O problema é que nos momentos de respiro que o filme nos dá, pouco desenvolvimento de universo ou de personagens é construído.
Aprendemos o nome de alguns monstros e suas características, mas logo estamos em outro cenário e em uma nova batalha. Por sinal, a computação gráfica dos monstros e cenários oscila entre o muito irreal para algo realmente crível. Temos até uma grande variedade de monstros suficientes para criar cenas de ações diferentes umas das outras, mas pouco aprendemos sobre eles. É apenas uma chefe de uma fase (como um jogo) e nada mais.
É somente no segundo ato, quando a protagonista se une a morador do novo mundo, um Hunter (Tony Jaa), que o filme ganha um pouco de carisma. Já que por ambos não sabem a língua do outro, eles vão aprendendo instintivamente o que cada um quer falar. Porém, a cada cena de ação, novamente a produção perde força. O terceiro ato, além de previsível, entrega um final quase anticlimático e deveras desonesto.
Fãs da obra dos jogos apenas terão que se contentar e ver alguns monstros famosos e uma ou outra ambientação parecida com os games. Ao final, o filme Monster Hunter é isso, apenas mais uma adaptação de Paul W.S. Anderson para justificar os milhões investidos e colocar sua musa brigando nos mais diferentes cenários. Um novo mundo com potencial desperdiçado em nome da ação desenfreada, e que pouco importa em desenvolver seu universo.
Se Resident Evil eram zumbis, aqui temos mais variedades de monstros diluída em uma forma que diretor não se cansa de usar.
Paul W.S. Anderson | Filmografia básica:
- Mortal Kombat: O Filme (Mortal Kombat, 1995)
- O Enigma do Horizonte (Event Horizon, 1997)
- O Soldado do Futuro (Soldier, 1998)
- Alien Vs. Predador (2004)
- Corrida Mortal (2008)
- Os Três Mosqueteiros (2011)
- Pompeia (2014)