Libelu – Abaixo a Ditadura (2021) de Diógenes Muniz
Premiado como melhor documentário nacional no festival É Tudo Verdade de 2020, Libelu – Abaixo a Ditadura vai além do resgaste histórico de um grupo que fora tão importante na oposição à ditadura militar em nosso país. O longa é um retrato das perspectivas dos integrantes que participaram da organização e como suas vidas e olhares se colocam em choque quando comparados com a época de militância e os dias de hoje.
Dirigido e roteirizado pelo estreante Diógenes Muniz, o longa retrata a história do grupo estudantil Liberdade e Luta (Libelu), fundada em 1976, braço do grupo clandestino Trotskista da OSI (Organização Socialista Internacionalista). Passado em locação única, no prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a película vai retratando as lembranças dos ex-integrantes do grupo e perspectivas do antes e depois do que cada um acha que a agremiação teve na importância da construção das suas próprias identidades e da luta pela democratização do país.
O documentário tem um caráter bem didático nos dois primeiros atos, desde a criação, a construção e a participação que o grupo exercia na luta contra o período ditatorial. Libelu era um grupo diferente dos demais da época que ainda abraçavam um nacionalismo exacerbado. Eles eram os que davam as melhores festas no campus regado a rock, organizavam manifestações artísticas fora do campus e foram os primeiros a terem coragem de falar palavras de ordem “Abaixo a Ditadura”, pós AI5, depois que a luta armada fora massacrada.
Cada ex-integrante vai lembrando da sua época de militância e seu papel na organização. A montagem, a direção e a direção de arte dão energia necessária ás lembranças e o estilo “cabeça falante” do documentário nunca chega a ser cansativo. Porém, Muniz transforma o longa em algo muito mais rico. Seu real objetivo, além de nos apresentar o grupo, é comparar o antes e o depois (passado e presente) do Brasil. A equiparação da época de militância de cada ex-membro com o país atual que hoje é democrático.
É interessante ver o caminho que cada ex-membro trilhou nas quatro décadas depois. Alguns se mantém ainda ligados de certa forma a esquerda como Julio Turra, Cleusa Turra e Markus Sokol, outros se inclinaram a direita como Reinaldo Azevedo e outros totalmente longe de vida política como Josimar Melo, crítico gastronômico. Como os próprios entrevistados brincam, o tempo passou e eles foram “absolvidos pelo sistema”.
O terceiro ato abre com a entrevista do Ex-Ministro do governo Lula, Antônio Palloci, marcando no documentário justamente o momento de reflexão dos entrevistados entre o passado e presente. No depoimento do Ex-Ministro é revelado como o processo de democratização do país foi diferente dos sonhos dos militantes do passado. Cada ex-membro entrevistado vai expondo suas perspectivas da democracia, alguns com pesar de que as transformações poderiam ter sido maiores e outros com dever quase que cumprido quando lembram o fim da ditadura.
Nenhum ex-membro chega a negar a importância de Libelu em sua construção de identidade, mas vamos ao longo do documentário vendo que o grupo era longe de ser uníssono desde época de militância. O presente se mostra diferente do que sonharam, mas mesmo assim, acreditam que a Liberdade e Luta teve papel para construção desse sonho.
Libelu – Abaixo a ditadura vai além de documento histórico e serve como espiral de perspectivas do que foi o passado, e o que é o presente. O diretor Diógenes Muniz conduz com maestria o documentário e torna uma peça indispensável para refletir a nossa história.