O Cavaleiro Solitário
Durante o dia o protagonista divide seu tempo entre ser dublê-motorista de filmes e mecânico de oficina. Á noite dirige o carro de fuga para criminosos. Uma sinopse como essa daria algo entre um Grindhouse ou no máximo um filme de ação safado tipo Supercine.
Mas estamos falando do incrível, fantástico e superlativo Drive (Idem, 2011) ou algo como um Taxi Driver (1976) dirigido por Quentin Tarantino. E a obra de Nicolas Winding Refn, que ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, também tem algo similar ao filme de Martin Scorsese com uma verve tarantinesca. A violência estilizada, seu personagem calado, mas forte (numa estupenda atuação de Ryan Gosling) e em busca de justiça, um roteiro redondo e a esnobada geral do Oscar.
“Há milhares de ruas nesta cidade. Diga a hora e o lugar e te dou um tempo de cinco minutos. Haja o que houver nesses cinco minutos, estou à disposição. Seja o que for. Mas o que houver após esses cinco minutos está por sua conta.” (Ryan Gosling)
Sempre de Palito na boca, ele quase não fala. E nem precisa de um nome. Ele é apenas “o garoto”. Sua apresentação na primeira sequência é perfeita, enquanto a batida da trilha instiga o desdobramento da ação milimetricamente estudada. Alí está desenhado quem (e como) guiará não apenas o volante, mas toda a trama do filme.
Nem quando está em ação “o garoto” demonstra reação. É frio e calculista. Até quando a explosão de violência é necessária seus movimentos são calculados. Milimétrico. Até sua paixão é silenciosa. Quase platônica. O perigo está ali estampado na alma dos dois, quando se olham no elevador. O amor é expresso em olhares, e, naquele momento não há nada mais perigoso. Aqui a sutileza é a base. Uma mão ao passar a marcha. Um sorriso no canto da boca de Carey Mulligan. Ele nem pisca. Nem precisa.
A fotografia é precisa e reflete seus momentos distintos. Na presença dela, as cores são quentes, como ao avistá-la no supermercado ou quando chega com o carro enguiçado. Nos seus trabalhos (de motorista e mecânico), há muitas sombras e alguma escuridão. E dá-lhe a trilha de Cliff Martinez a pulsar entre a melancolia e a tensão de uma narrativa objetiva, seca e sincera.
Palmas para Ryan Gosling ou “o garoto”. Um monstro. Um samurai do volante. Um cavaleiro solitário. Um motorista que defende os fracos e oprimidos. E que está muito bem acompanhado no elenco. Mulligan é a doçura em formato de mulher. E mesmo para uma pessoa tão fria, quem não se apaixonaria?
Bryan Cranston faz com gosto um eterno perdedor (Shannon) que ainda crê na vitória final. Um magnífico Albert Brooks estende a mão à Gosling ao tentar cumprimentá-lo e escuta “minhas mãos estão meios sujas (de graxa)“, mas se traduz maleficamente na própria fala ao respondê-lo: “as minhas também“. Christina Hendricks é personagem acessório como a parceira no crime Blache, Ron Pearlman um intimidador Nino e Oscar Isaac como o sofrido Standard.
E com confrontos tão tensos quanto carregados no tom da imprevisibilidade, o perfeito Drive dá um nó na garganta e deixa o espectador igual ao seu protagonista: não dá chance nem para piscar. NOTA: 10,0
INFORMAÇÕES ESPECIAIS: A hype pelo filme instigou também uma arte por trás da arte de Drive. Vários posters inspirados no filme foram produzidos, e com resultados que acompanham a sua obra inspiradora: espetacular, cool, cult e digno de aplausos. Alem de sua trilha sonora, ultracool, que será lançada em LP;