Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021) de Jon Watts
Antes de fato começar essa crítica gostaria de pontuar três coisas ao leitor: A primeira é nociva e predatória é modelo que Disney/Marvel força mercados inteiros a passarem seus filmes. Eu poderia estender essa discussão em um grande artigo, mas apenas estou alertando, que se não tivermos uma proteção à produção nacional (isso não é papo de comunista), perderemos a diversidade de obras no futuro próximo. A segunda é que jamais usarei a expressão “Filmes de Bonecos”. Tais longas são infanto-juvenis, mas acho a expressão pejorativa, principalmente, porque cada vez mais, adultos colecionam “action figures” ou vários elementos do mundo nerd. A terceira é que no final deste texto, irei escrever um parágrafo de spoilers, afim de comentar certos elementos da trama. Considerem avisados.
Mas uma vez dirigido por Jon Watts (Homem-Aranha: De Volta ao Lar, 2017; e Homem-Aranha: Longe de Casa, 2019), aqui temos o encerramento de sua trilogia para o “amigo da vizinhança” Uma das melhores trilogias mais coesas que o MCU produziu.
Aqui em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, temos a volta de Peter Parker (Tom Holland), tendo que lidar com as consequências do filme anterior. Relembrando: antes de morrer, Mysterio (vivido por Jake Gyllenhall), cria uma ilusão onde o Homem-Aranha, o matou e revela sua identidade para o mundo. Com sua vida de cabeça para baixo e prejudicando todos ao seu redor como sua namorada MJ (Zendaya), seu amigo Ned (Jacob Batalon), Happy (Jon Favreau) e sua tia May (Marisa Tomei).
Entretanto, Parker tem uma ideia. Ele visita o Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch), para que o ajude a fazer em um feitiço que faça que as pessoas lembrem que ele é o Homem-Aranha. A magia dá errado, abrindo fendas para o multiverso, onde os vilões dos filmes de Sam Raimi e Marc Webb habitem seu universo, tendo a o “teioso”, desfazer toda essa confusão.
O roteiro escrito por Chis McKenna e Erik Sommers (que assim como Jon Watts, estão desde do primeiro longa na escrita da trilogia), é uma verdadeira montanha-russa. O começo é eficiente em construir o drama de Parker, ao lidar com as consequências que não foi sua culpa. Mas conforme vamos subindo a montanha, mais entediante a trama passa a ser. Nunca vi Benedict Cumberbatch atuar tão no automático. Mas os roteiristas são sagazes, e desde o começo do longa, por saberem que a película se trata de “filme evento”, já introduz no começo elementos para isso. (Quer saber? Comentarei após o intertítulo de spoilers).
Dr. Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe), Homem de Areia (Thomas Church), todos do universo de Sam Raimi. Electro (Jamie Fox) e Lagarto (Rhys Ifans), todos dos longas de Marc Webb (O Espetacular Homem-Aranha), vem ao mundo de Tom Holland. Destaque aos efeitos visuais de Robert Alomar em um todo, mas principalmente no que diz respeito ao rejuvenescimento de certos personagens, como o de Molina e Dafoe, com o maior alcance de atuação e com os melhores arcos dramáticos. Fora que Parker tem que enfrentar outro “vilão”, J. J. Jameson (J. K. Simmons), mais uma adesão dos filmes de Raimi, que sempre coloca o Homem-Aranha contra a opinião pública.
Mas, mesmo com aparição e lutas com os vilões são bastante rápidas. A grande mensagem do filme é mostrar a bondade e moralidade do Homem-Aranha. E obviamente, a montanha-russa uma hora tende a descer. E após um incidente, o filme ganha força e se enche de “fan service”, que deve emocionar qualquer fã do “cabeça-de-teia”.
Ao final, temos finalmente a nova versão de Homem-Aranha. Não me entendam mal, é óbvio que desde Capitão América: Guerra Civil (2016), temos uma versão atualizada do herói. Mas somente no final dessa trilogia é que todas as nuances que fazem o “amigo da vizinhança”, ser o que ele de fato é. O que não deixa de ser previsível.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é uma montanha-russa. Um longa mediano, mas com coração no lugar certo, para construção de novo versão do herói, mas quando a descemos em plena descida da montanha, o “filme evento” e o “fan service” toma a tela e é impossível, principalmente para quem é fã, não se emocionar.
E sim, existem duas cenas pós-créditos: uma importante e outra praticamente um trailer para o próximo filme do MCU.
SPOILERS: Sem Volta Para Casa
Bem é meio óbvio que mesmo tentando esconder, Tobey Maguire e Andrew Garfield estariam no longa. A grande surpresa é Charlie Cox, que viverá mais uma vez Matt Murdock, para alegria de fãs órfãos da série da Netflix do Demolidor.
Sabendo levando os vilões para seus universos originais, todos estariam mortos. Então, nosso Homem-Aranha, contra o Dr. Estranho resolve tentar curar primeiro os vilões, para assim, ao retornar, voltem com suas vidas normais. Um traço de moralidade que fica sempre na linha tênue durante os acontecimentos do filme e que é grande acerto da história.
O incidente que marca o segundo ato para o terceiro é a morte de Tia May. No qual ela tem a responsabilidade de ser o Tio Ben, nesse universo e dizendo a famosa frase: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Marcando assim as nuances para a construção do novo Homem-Aranha.
Porém, nesse “filme evento”, os roteiristas tomaram liberdade criativa para “concertarem” e referenciam, o que Sam Raimi e Marc Webb, haviam cometido nos seus longas (principalmente Webb).
Em determinado momento o filme fecha os arcos dos diretores anteriores. Quando MJ cai da Estátua da Liberdade (local onde ocorre a última batalha), quem a salva é Andrew Garfield, fechando o arco que não consegue salvar sua namorada Gwen Stacy (Emma Stone), em “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”, de Webb.
Já quem impede Holland de matar o Duende Verde (já que ele foi o responsável pela morte de Tia May), é Tobey Maguire. E o final de todos da única maneira do multiverso não destruir nosso mundo, é o Peter Paker no nosso universo fazerem todos esquecerem quem de fato ele é ou foi um dia. E a referência ao fardo que agora carrega, com a duas cenas finais: uma no cemitério e o Homem-Aranha, com uniforme construído a mão, faz referências aos longas de Sam Raimi.