A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016)
Desolada por seu divórcio recente, Rachel (Emily Blunt) passa seu tempo fantasiando sobre o casal aparentemente perfeito que vive em uma casa onde seu trem passa todos os dias, até que em uma manhã ela vê algo chocante acontecer lá e se torna parte de um mistério que se desdobra. Uma moça está desaparecida, e um dos suspeitos é seu esposo.
Ao ler o plot de A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016) de Tate Taylor, é impossível não lembrar de Garota Exemplar (Gone Girl, 2014). Outra coincidência é de que os dois suspenses são baseados em livros de sucesso.
Temos uma protagonista que se vê perdida em uma vida vazia, domada pela própria imaginação. Com um comportamento obsessivo compulsivo, o que podemos esperar da autodestrutiva Rachel (Emily Blunt)? Visualmente acabada, Blunt (O Caçador e a Rainha de Gelo, 2016) é uma baita atriz, e conduz a trama com o pouco que sabe e até imagina.
O primeiro ato do drama de suspense se dedica exclusivamente à apresentação de personagens/motivações e o que esperar deles. Além de Rachel, temos Megan (Haley Bennett), uma jovem babá que combate um trauma escuso com sexo. A tensão sexual é latente. O roteiro a coloca como ponto de quebra da trama, com flashbacks sucessivos (seis meses; quatro meses; um mês; e dia do desaparecimento) bem dispostos a desvendar os acontecimentos.
O trio se completa com Anna (Rebecca Ferguson), dona de casa, mãe de uma bebê, mas que tirou da mesma Rachel o esposo, Tom (Justin Theroux), após uma traição. A função de Anna é ser o mais família possível, apenas de ter destruído uma. Não trabalha e, apesar de ter uma babá em casa, se dedica a criar sua filhe de poucos meses de idade. No fim, é alguém que tem um espaço a ser preenchido pelos acontecimentos do longa.
Interessante notar que só temos pontos de vista exclusivamente femininos. Os homens são complementos, e no mosaico de personagens temos Tom (Justin Theroux), que casou com a amante. Scott (Luke Evans), o marido da babá, mas uma incógnita. E o Dr. Kamal Abdic (Edgar Ramírez) é um ponto de sustentação para a mente de um das mulheres da trama.
Exceto por Luke Evans (O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, 2014), que demonstra algum sentimento forte na tela, Justin Theroux (Psicopata Americano, 2000) e Edgar Ramírez (Joy: O Nome do Sucesso, 2015) são levados para o lugar comum pela própria história.
Não se pode falar o mesmo delas. Ainda bem. Depois de esmerilhar meio mundo em Missão: Impossível – Nação Secreta (2015), Rebecca Ferguson consegue passar toda a insegurança do mundo como a mãe de família que se descobre no meio de uma história escabrosa. A bela Haley Bennett (Sete Homens e um Destino, 2016) também vai bem, carregando um corpo de mulher objeto recheada com um passado traumatizante.
Complementam o elenco Allison Janney (Juno, 2007) – incrível – como a policial que investiga o caso, e Lisa Kudrow (a eterna Phoebe de Friends), em bem dizer uma ponta de luxo, mas com uma história que pode mudar o posicionamento da protagonista.
Ponto alto para a trilha sonora de Danny Elfman. Colaborados usual de Tim Burton (ele assinou Batman – 1989; A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça – 1999; Frankenweenie – 2012, entre outros), o tom aqui continua soturno. E ideal para a obra.
Já Tate Taylor (o mesmo do sonolento Histórias Cruzadas, 2011) é um diretor limitado. Prova disso é que, além do tom morno e câmeras quase estáticas em cenas de tensão, nas repetições de pontos chaves do roteiro, ele insiste em apenas replicar a imagem, mesmo que tenha a oportunidade de ousar com a visão de pontos de vista diferentes.
Adaptado por Erin Cressida Wilson (a mesmo do ótimo Homens, Mulheres e Filhos, 2014), do livro homônimo de sucesso assinado por Paula Hawkins, no fim das contas o filme, A Garota no Trem é ok. É tipo uma sessão de Supercine que não fere o espectador. Intriga, mas não é exemplar.
PS.: Ah, e toda a sequência que dá um novo uso para um abridor de vinho é bem divertida.