A história de Califórnia (Idem, 2015), poderia ser a sua ou a de qualquer garota que você conheceu nos anos 80. O ano é 1984. Estela (Clara Gallo) vive a conturbada passagem pela adolescência. O sexo, os amores, as amizades; tudo parece muito complicado. Seu tio Carlos (Caio Blat) é seu maior herói, e a viagem à Califórnia para visitá-lo, seu grande sonho. Mas tudo desaba quando ele volta magro, fraco e doente.
Desde a primeira sequência, somos transportados direto para os anos 80 com uma precisão cirúrgica da produção. Da direção de arte minuciosa (do que está à parede aos objetos em cena), passando pelos figurinos marcantes, os penteados datados, a trilha sonora deliciosa e as expressões “chocantes”, tudo funciona de forma precisa.
Rito de passagem sensível e nostálgico, o drama marca a estreia de Marina Person em longas de ficção. A ex-VJ da MTV é co-produtora, co-assina o roteiro,e dirige o drama com uma sensibilidade incrível.
E a cineasta não economiza em suas lembranças na tela. Sua protagonista (Clara Gallo, bela surpresa) é uma versão sua de anos atrás, e o interesse estranho da mocinha tem o visual-cópia do The Cure. A efervescência de quem cresceu em meio a arte é espelhada no personagem do tio Carlos de Caio Blat, um jornalista especialista em música.
Filmado de forma tradicional e sem grandes arroubos de montagem, que valorizam o clima oitentista, o roteiro é uma verdadeira declaração de amor aos 80. Enquanto a produção avança com as incertezas da adolescência (menstruação, ficar em festas, confronto com o pai durão, virgindade, primeiro amor, sonhos e descobertas), seu roteiro passa por temas que marcaram a época, como a Aids e as Diretas Já.
O resultado é um filme lindo e, como a sua protagonista, inicia puro, mas depois vai tateando a vida como é ela é. Uma obra que merece ser vivida, ou melhor, reconhecida como o retrato de uma geração que sabia aproveitar melhor a vida, mesmo sem saber eram felizes e não sabiam.