Caça-Fantasmas: Mais Além (Ghostbusters: Afterlife, 2021) de Jason Reitman
A medida em que eu assistia o mais novo Caça Fantasmas: Mais Além (2021), dirigido por Jason Reitman, eu ficava lembrando exatamente de um dos fundamentos do Cinema que está enraizada em suas origens: o entretenimento, a diversão.
Os primeiros filmes da história do Cinema eram exibidos em nickelodeons, que ficavam nas feirinhas de cidades onde os operários iam com seus familiares para se divertirem – podemos até dizer que hoje, esses espaços de feiras foram substituídos pelos shopping centers. Acompanhado do meu humor não tão bom, adentrei à sala e esperei o inicio da projeção. Mas logo nos primeiros momentos do filme, a introdução já começava a massagear as minhas tensões, me desarmando e permitindo que eu apreciasse e, simplesmente, me divertisse – reflexo disso se vê nas poucas anotações em meu caderninho. Pois de antemão digo que sai satisfeito com o que vi: um filme infanto juvenil de horror, e que nos proporciona piadas, monstros extravagantes, homenagens aos antigos capítulos e uma narrativa simples, respeitosa e muito bem direcionada ao público que quer atingir.
Callie (Carrie Coon) é uma mãe solteira falida que recebe uma estranha herança do ausente pai. Este faleceu e deixou a ela e os filhos, sua casa em um terreno sombrio de uma pequena cidade no interior estadunidense. Seus dois filhos, Travor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace) buscam reiniciar suas vidas encontrando novos amigos. Mas a pequena, curiosa e inteligentíssima Phoebe começa a descobrir a verdade sobre seu avô, o que a leva a uma aventura pavorosa cheia de monstros e fantasmas libertos de um aparelho tecnológico dos antigos heróis de Nova York, os Caça-Fantasmas.
A história simples de Reitman proporciona uma boa homenagem sem estripulias e sem muitas novidades aos filmes dos anos 1980. O roteiro resolve dividir a narrativa em três núcleos: o de Trevor e sua adaptação aos novos amigos da cidade; a de Phoebe e suas descobertas e aventuras científicas que é o fio condutor que nos leva para dentro do centro da história; e o de Callie, que busca ser uma mãe melhor e, também, encontra um novo affair na figura do professor genial e desleixado interpretado por Paul Rudd. Para quem não sabe, o cineasta que assina essa obra aqui, Jason Reitman, já concorreu a quatro Oscar – melhor direção por Juno (2007 – produção nomeada ao Oscar de melhor filme); melhor roteiro, direção e melhor filme por Amor Sem Escalas (2009) – e é filho de Ivan Reitman, diretor dos dois primeiros Caça-Fantasmas (1984 e 1989).
O que alguns podem pensar em ser um defeito, acredito ser uma característica, que é a falta de originalidade. Afinal, estamos vivenciando um momento em que as produções rendem homenagens aos filmes originais de seu tempo, o que, por princípio já afeta qualquer movimento de produzir algo 100% original. Este fator passa longe da preocupação de Jason Reitman. Por toda a narrativa, inclusive na escolha do elenco, ele se preocupa com apenas uma coisa: fazer um grande design de um parque de diversão, de um trenzinho do horror para que crianças, jovens e adultos possam entrar e sair com um sorriso no rosto. Aos que se preocupam com essa tal originalidade, sinto muito, mas perdem seu tempo aqui. Temos um história que não se envergonha de estar totalmente focada em divertir e homenagear, mantendo o espírito dos anos 1980, e a alma da ideia de Cinema para entreter e divertir.
É claro que nem tudo é mil maravilhas. Perde-se oportunidades de se criar imagens icônicas, assim como a tensão de sair da linha do que são os caça-fantasmas produzem um tipo de engessamento quanto a estrutura narrativa. Por muito, esperei encontrar personagens que aparecessem e não necessariamente estivessem ligados aos filmes antigos. Isso não é mostrado. No desenvolvimento, há uma queda de ritmo no núcleo que se ocupa a contar a história de Trevor, mas os núcleos de Phoebe e Callie o mantém sendo leais a suas propostas. Percebe-se que o animado elenco dá o tom aventuresco a obra. Paul Rudd em forma no seu humor; Finn Wolfhard encontra o meio termo entre Stranger Thing e It; a jovem Mckenna Grace nos entrega uma Phoebe simpática e carismática, principalmente quando desdenha a burrice alheia; e Carrie Coon tira todo o peso de uma mãe solteira, falida e filha abandonada para entregar uma personagem cômica. Tudo no filme foi pensado para manter o tom da narrativa fora do realismo sombrio, apostando no largado e escanteado tom aventuresco infanto-juvenil. Mais que referenciar os dois primeiros filmes, aqui temos mais uma reverência mesmo.
Caça-Fantasmas: Mais Além (2021) é uma obra divertida e saudosista, com boas surpresas em uma história simples que honra a franquia, sem marketing espalhafatoso, sem prometer o impossível e apostando no carisma e na simpatia de uma jogada simples e segura. Sem enganação e espírito de matinê, vale a pipoca, vale o “refri”, vale o momento de descontração. Sem novidades, mas com uma mistura agradável, é uma HQ número zero para novas aventuras e novas possibilidades.