A Garota e a Aranha (2021) de Ramon Zurcher e Silvan Zurcher
A Garota e a Aranha (The Girl and The Spider/Das Madchen und die Spinne), codireção e roteirizado pelos gêmeos Ramon Zurcher e Silvan Zurcher, ganhou o prêmio de Melhor Direção na Mostra Encontros no Festival de Berlim de 2021.
E a escolha não poderia ter sido mais justa: O longa é uma verdadeira “teia” que interliga diversos personagens, relacionamentos e sentimentos conflitantes e a dor inevitável que as mudanças que causam em nossas vidas. Entretanto, ao desenvolver de todas essas conexões que o filme vai desenvolvendo, fica mais difícil amarrar todos os temas.
Lisa (Liliane Amaut), está de mudança para morar sozinha. Deixando o apartamento que dividia com Mara (Henriette Confurius), nossa protagonista, se sente incomodada com essa transição. E a partir daí, uma verdadeira montanha-russa sentimental, que vai envolvendo outros personagens que direta e indiretamente que se envolvem com a trama.
Os grandes méritos dos gêmeos Zurcher estão justamente na construção dos personagens e conectar as tramas. Os planos utilizados são estáticos, variando entre: planos médios, primeiros planos e conjuntos. A fotografia de Alexander HaBkerl, junto com os figurinos Anne-Sophie Raemy, reflete através das cores que cada personagem o sentimento que cada um sente. Inclusive, cores quentes e frias (azul e vermelho ou azul e amarelo), enfatizam a montanha-russa sentimental que cada pessoa na história está sentindo.
Dois outros detalhes técnicos a serem destacados é o design de som de Felix Bussmann que é perfeito tanto para ambientação e no uso pontual de elementos do cenário que enfatiza o sentimento de algum personagem e a edição de Katharina Bhend e Ramon Zürcher, conecta toda a história.
Porém, Mara, que de certa forma conduz toda a narrativa, com seu olhar distante, mas sempre observador, é o fio condutor da trama. A mudança de Lisa, mexe muito com ela, pois a um amor não correspondido entre ambas. Com seus comentários sempre filosóficos sobre sua percepção sobre o mundo e a forma elegante de que os gêmeos Zürcher, transmitem a mensagem que querem passar no longa sem serem expositivos.
Outros personagens como a mãe de Lisa, Astrid (Ursina Lardi), Jurek (André Hennricke), Markus (Ivan Georgiey), Kerstin (Dagna Litzenberger-Vinet), Nora (Lea Draeger). Karen (Sabine Timoteo) e Jan (Flurin Giger), são outros personagens que no decorrer da história se conectam, tanto para o bem, quanto para o mal.
Mas as duas grandes falhas do filme moram justamente na construção dessa grande “teia” que interliga e como, em alguns casos, as mensagens dos diretores querem transmitir. Conectar a trama que vai crescendo de forma exponencial, se torna cada vez mais difícil no decorrer da narrativa, sendo que algumas, como por exemplo a Sra. Arnoul (Margherita Schoch), pouco importante para a história. E os comentários poéticos de Mara, passam a aparecer nos diálogos dos demais personagens, transformando as falas em exposição desnecessária, já que a mensagem do longa fica cada vez mais clara.
A Garota e a Aranha é um longa interessante, pois reflete os conflitos de relacionamentos e sentimentos que todos nós passamos em nossas vidas. Ramon Zurcher e Silvan Zurcher, conduzem toda essa “teia” com maestria e honestamente espero poder acompanhar mais seus futuros projetos.
A Garota e a Aranha está em cartaz na 45° Mostra de Cinema em São Paulo.