Corra! (Get Out, 2017) de Jordan Peele
Se aproximando a época de divulgação dos indicados aos grandes prémios de cinema do ano que vem, resolvi analisar esse que, com certeza, deverá disputar o melhor roteiro em várias cerimônias, isso se não estiver também entre os 10 possíveis indicados a melhor filme no Oscar. Estou falando de Get Out, que no Brasil recebeu uma tradução muito apropriada: Corra! (Get Out, 2017) de Jordan Peele.
É a história de um fotografo negro (Daniel Kaluuya) e a namorada branca (Allison Williams) que passam pelo momento em que esse será apresentado à família dela. Seria mais um filme sobre racismo?
Essa questão, a princípio, é colocada em dúvida, pois o rapaz é muito bem tratado pelos anfitriões, como se fosse membro da família. São “brancos liberais”. O patriarca (Bradley Whitford) chega a afirmar que Obama foi o melhor presidente e que gostaria de votar nele de novo.
Desde o início da chegada do protagonista à casa dos pais da namorada, cenas da narrativa levam o expectador mais atento a pensar que os empregados, o jardineiro e a governanta (Marcus Henderson e Betty Gabriel), não estão contentes com a chegada de Chris. É a distração na hora de encher o copo, o comportamento esquisito e até mesmo uma perseguição pelos corredores da casa. Aparentemente, não aceitam a presença de um negro como hospede que deve ser bem servido, mesmo os próprios empregados sendo pessoas negras. Contudo, a trama vai, aos poucos, se mostrando bem mais complexa que isso.
Até então, parece que estamos entendendo o filme. De repente, elementos estranhos começam a aparecer e percebe-se que a intenção da história é outra. Como em diversos filmes de suspense, o expectador pensa: “se eu fosse ele, eu corria dessa casa”. Contudo, quando personagem resolve finalmente fazer isso, já é tarde. Corra! consegue deixar o expectador tenso (a trilha sonora contribui bastante para isso), mas traz um desfecho sem surpresas. Cheguei a pensar se já não tinha visto esse filme antes. Lembra alguns aspectos de A Chave Mestra, porém bem mais engenhoso.
De toda forma, vale a pena conferir o longa que, como suspense/terror, se sobressai, visto que, de fato, consegue prender o expectador. O roteiro é muito redondo, bem estruturado. O autor antecipa diversos elementos, mas as peças só se juntam já próximo ao final. Antes disso, qualquer tentativa de compreender a história leva a conclusões erradas. Acredito que o grande trunfo do filme está aí.
E sim, definitivamente é um filme sobre racismo, principalmente de como temos um racismo velado, do quanto não percebemos que somos racistas ou mesmo do quanto racistas somos tentando justamente não ser racista.
Experiente em roteiros e produções para TV, além de algumas atuações em filmes de comédia, Jordan Peele fez, em Corra!, sua estreia como diretor e roteirista na sétima arte. Sem dúvidas, começou em alto nível. As atuações são excelentes, especialmente as dos atores negros, com destaque para Betty Gabriel que faz a governanta.
Ainda não viu? Pois corra e confira, porque Corra! já foi lançado em DVD e está disponível em plataformas on demand.