Coleção O Senhor das Moscas (Lord of the Flies, 1963/1990) de Peter Brook & Harry Hook – lançamento Classicline
Após um acidente (no original um naufrágio, no remake um acidente de avião), jovens e crianças acabam perdidos numa ilha deserta. Isolados em um lugar desconhecido e tendo que lutar para sobreviver, eles se unem para tentar ultrapassar as dificuldades.
A medida que vão dominando a ilha, um sentimento de competição vai crescendo e começa uma luta pelo poder. Com isso, os estudantes acabam se dividindo em dois grupos: um deles defende a pureza civilizada e a união, e é marcado pela organização e disciplina. O outro é comandado por caçadores bárbaros, tomado pela selvageria e que usa o medo como forma de poder. Mas a disputa pelo comando da ilha poderá colocar a vida de todos em risco, com a possibilidade dos grupos entrarem em guerra, transformando crianças em meninos cruéis.
Esta é a história base dos dois O Senhor das Moscas (1963/1990), baseado no romance homônimo de William Golding (Prêmio Nobel de Literatura, em 1983; e condecorado como Sagrado Cavaleiro Britânico, em 1988), publicado em 1954. Tanto seu livro quanto as suas duas adaptações ressaltam aspectos temáticos, como a oposição entre civilização e barbárie, democracia e autoritarismo, inocência e corrupção, além de reflexões da natureza humana, viés organizacional, comportamental e de liderança. E dentro do meio pedagógico de pesquisadores, estudiosos e especialistas, definitivamente é uma obra constantemente citada e pesquisada em estudos e análises de comportamento, artigos, dissertações, monografias e teses.
A produção de 1963, de fotografia em P&B e filmada em locações nas praias de Porto Rico, concorreu à Palma de Ouro em Cannes (melhor filme), e foi eleito um dos 10 melhores filmes do ano (National Board of Review). O roteiro, adaptado pelo próprio W. Golding, teve retoques no texto (não creditado) do diretor Peter Brook, numa espécie de improviso com o elenco de jovens talentos. Como relatou o New York Times, em sua cobertura de estreia no Cinema, em 1963: “Peter Brook trabalhava conforme o espírito do livro, com os meninos na ilha. Dessa forma, ele esperava obter uma imagem que parecesse natural, espontânea e não ensaiada, uma explosão aparentemente completa do drama reprimido de ‘O Senhor das Moscas’. Com isso há autenticidade física nele, todos os meninos parecem genuínos e o ar de sua ilha tropical (filmado em locação em Porto Rico) é inconfundivelmente real.”
“A adaptação de Brook é um pesadelo de inocência perdida, seguindo a tese de Golding sobre o que acontece quando a civilização entra em colapso e a verdadeira natureza do homem é revelada.” (THE DISSOLVE, em crítica publicada após a estreia do longa). “Especialmente chocante e assustadoramente realista, provocando um suspense quase insuportável.” (NEW YORK DAILY NEWS, em crítica publicada após a estreia do longa).
Refilmagem de 1990
Adaptada pela roteirista indicada ao Oscar, Jay Presson Allen, sob o pseudônimo de Sara Schiff (roteiro adaptado por Cabaret, 1972; e O Príncipe da Cidade, 1981), o filme de 1990 é uma atualização na qual não apenas mudaram a origem dos meninos, de uma escola preparatória britânica para uma escola militar americana, mas também ambientaram a história para os tempos contemporâneos da época. Incluindo a tecnologia, idiomas e referências culturais então atuais. Embora palavrões e menções a Rambo possam ter feito o filme parecer mais familiar ao público dos anos 90, a aventura dramática tem uma fotografia exuberante. Mesmo com suas alterações, o mais importante foi mantido, e a ideia central brilha através de tudo, como bem falou Pablo Villaça (Cinema em Cena): “O brilhante texto de Golding sobrevive a qualquer tropeço noventista do diretor Hook.” Já o L.A. Times pontuou que, “cada mudança (com a atualização do texto) provavelmente foi justificada como uma forma de levar um ‘material importante’ para um público mais amplo, mas é quase como se a luta da ilha fosse travada pelo próprio filme.” Preparados para embarcar nessa viagem rumo ao caos da humanidade que mora dentro de cada ser humano?
“Temos performances de qualidade, Balthazar Getty é um Ralph convincente, Chris Furrh é um Jack conivente e arrepiante, James Badge Dale faz um Simon simpático e Danuel Pipoly traz forma e densidade apropriada para o papel de Piggy. A fotografia de Martin Fuhrer usa sua lente para absorver cada pedaço de bela luz, flora e fauna da ilha, como um quadro de uma pintura leve. Assim como um mar azul implacável é outro exemplo de composição bonita perfeitamente capturada para o filme. O mesmo vale para os efeitos sonoros, com insetos e animais da floresta que ganhando vida, e ao fazer o trompete de concha ecoar pelas falésias e pela sua sala de estar. Um deleite.” (POP MATTERS, 1990)
Como curiosidade, há uma outra versão do filme intitulada “Alkitrang Dugo” (1975 / Inédita no Brasil), que consta ser “inspirado” no livro de William Golding, e que se passa nas Filipinas com produção e elenco local, mas nunca lançada no Brasil.