Listas são sempre pessoais. E a minha, não foge a regra. O ano de 2013 reservou uma safra interessante. Temos uma com ficção-científica – que equilibrando a técnica e a emoção e outra superprodução que une espionagem e o cinemão. Há um Woody Allen maduro, histórias reais, filmes independentes e romances, incluindo aqui o cinema nacional.
Depois de 250 filmes vistos durante o ano, a lista dos melhores se baseia no princípio de escolher apenas os filmes que foram lançados comercialmente nos cinemas do Brasil – em cartaz de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013, independente do ano de produção dos mesmos. Portanto, é comum conter produções com estreias atrasadas e/ou de anos anteriores.
A minha lista final de melhores filmes do ano contempla 15 filmes, vamos a ela:
10 – Os nacionais
O Som ao Redor (2012) assinado pelo crítico e programador de cinema Kleber Mendonça Filho, o drama é uma obra-prima do dia-dia, simples e brutal;
Flores Raras (2013): um belo filme que equilibra história real, contexto histórico-político e uma história de amor entra a poetisa americana Elisabeth Bishop (Miranda Otto) e a a arquiteta (que idealizou o Parque do Flamengo) carioca Lota de Macedo (numa grande interpretação de Glória Pires);
Tatuagem (2013): um líbelo poético anti-ditadura que envolve um triângulo amoroso entre um líder de um grupo teatral (Irandhir Santos/Clécio), um soldado raso (Jesuíta Barbosa/Fininha) e o grande destaque dos palcos do Chão de Estrelas (Rodrigo Garcia/Paulete);
Faroeste Caboclo (2013) a adaptação da música do Legião Urbana é um filme necessariamente violento e cruel, ao estilo de Oliver Stone, Quentin Tarantino e algo de Cidade de Deus (2001).
9 – A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012): thriller angustiante que reconta a caçada à Bin Laden com uma direção primorosa de Kathryn Bigelow.
8 – Frances Ha (2012): fotografado num belo preto & branco, tão vivo quanto sua protagonista, que pulsa com sua vida simples, mas cheias de pequenas alegrias. Greta Gerwig (co-autora do roteiro) constrói uma Frances tão crível, capaz de ser identificada até mesmo como uma amiga sua. E que sutileza para explicar o há, do seu sobrenome… Uma dramédia para ser descoberta. Mais uma bela obra escrita e dirigida por Noah Baumbach.
7 – Além da Escuridão, Star Trek (Star Trek Into Darkness): Kirk e Spock voltam para combater John Harrison (Benedict Cumberbatch), um renegado alterado geneticamente que busca vingança. Na continuação, mais uma vez o diretor JJ Abrams não recorre às cenas de ação como fator principal, de modo que a tensão entre os personagens é o que move a trama. Uma ficção espetacular, com espionagem, intriga e muita ação.
6 – O Mestre (The Master, 2012): drama denso que universaliza sobre crenças religiosas aos criticá-las desde a sua formação. Palmas para um Joaquim Phoenix que constrói o personagem de uma forma torta, onde o mesmo não cabe em si de tanta inadequação com a vida e com o mundo que o cerca.
5 – Blue Jasmine (2013): assim como sua protagonista (Cate Blanchett, impecável), o filme é cortado ao meio e vai sendo (re)construído a partir de fragmentos do passado e presente. A função de fatiar a trama, intensifica a dramaticidade da obra, que apresenta uma personagem – a princípio fútil e distante do mundo real, para depois de destruída, se reencontra com a emoção.
4 – Capitão Phillips (2013): história real de um navio cargueiro americano que é sequestrado por piratas somalianos tem senso de urgência e encontra em Paul Greengrass seu diretor ideal e um Tom Hanks em atuação arrasadora. Um grande e tenso filme, com um dos choros adultos mais brutais que já presenciei em tela grande.
3 – Rush – No Limite da Emoção (Rush, 2013): apertem os cintos, encha o tanque com a felicidade recompensadora do drama baseado na história real da temporada de 1976 da F1, na qual Niki Lauda (Daniel Bruhl, gigante) e James Hunt brigaram até a última corrida. Pole position da temporada de ouro, sem problemas mecânicos, a obra louvável de Ron Howard é um marco, para os fãs da velocidade. E do cinema, também. Sobe o tema da vitória.
2 – Os Suspeitos (Prisioners, 2013): 2h30 minutos de drama intenso, tensão crescente e uma trama policial incrível. Seu diretor (Denis Villeneuve) subverte toda a história e nos aprisiona em medo, como os pais das crianças desaparecidas. Um conjunto impecável de elenco que impressiona e roteiro, onde o importante não é encontrar os culpados, mas como a ação afeta seus personagens para sempre.
1 – Gravidade (Gravity, 2013): uma ode ao renascimento humano, a ficção dramática usa com propriedade o efeito 3D para nos jogar no espaço junto com sua protagonista (Bullock), na interpretação de sua vida. A luta pela sobrevivência rege uma viagem emotiva e impressionante. Condução incrível do diretor Alfonso Cuarón, num filme que vai além do tecnicamente perfeito, mas que também é sensível ao fator humano e acaba por se tornar um marco na história do cinema.
Menção honrosa – Cine Holliúdy (2012/2013): o cearense Halder Gomes transformou seus sonhos, suas memórias e lembranças em cinema. Mesmo com problemas de ritmo e uma dramaticidade desnecessária, o resultado é uma comédia hilariante, romântica até, que brinca com o lúdico e a nostalgia com suas exibições mambembes de cinema no interior do Ceará. Os personagens caricatos são imprescindíveis ao escracho apresentado, num filme ingênuo, que reflete seu contexto histórico – os anos 70, a chegada da TV e a resistência dos cineminhas, longe do cinismo dos anos 90 ou a esculhambação dos anos 2000. Falado em cearensês, é uma legítima molecagem cearense, mas acima de tudo uma ode de amor ao cinema.
*Daniel Herculano é jornalista e publicitário. Crítico de cinema formado em cursos de Ana Maria Bahiana (Uol/Globo de Ouro), Pablo Villaça (Cinema em Cena/OFCS), Ruy Gardnier (Casa Amarela/O Globo/Contracampo) e Joaquim Assis (Instituto Dragão do Mar/Roteirista).