Mais um ano cinematográfico foi para conta, com 303 filmes na lista de 2015. O ano foi positivo para grandes blockbusters, com muita diversão em alto nível, mas como sempre, há algumas decepções.
O ano de 2015 também reservou para mim, o convite da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) para fazer parte do júri do 25º Cine Ceará, no qual elegemos o chileno O Clube (2015), como o melhor da competição.
O ano ainda terminou com a confirmação do meu ingresso na Abraccine, a emoção de ver o novo Star Wars (Episódio VII: O Despertar da Força, 2015), e constatar que os bons filmes nacionais continuam escondidos no meio de tantas comédias ruins. Entre os piores, já virou tradição negativa as comédias nacionais, sempre repetitivas e/ou cópias ruins de fitas americanas. M. Night Shyamalan deu a volta por cima com uma produção pequenina, mas que funciona e muito (A Visita, 2015), enquanto a revelação ficou por conta de um horror psicológico, A Corrente do Mal (2014).
Só lembrando que, para estar elegível, o filme tem de estrear comercialmente nos cinemas entre os dias 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2015, independente do seu ano de produção. Por isso, não se surpreenda ao constatar que uma obra de 2013 ou 2014 está na lista. Isso acontece pois essas obras só chegaram às telas do Brasil entre janeiro e dezembro de anos diferentes.
Segue a lista:
1. Mad Max – Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, EUA, 2015) de George Miller
O melhor filme do ano é uma superprodução que revive o personagem icônico vivido outrora por Mel Gibson, agora na pele de Tom Hardy. A aventura traz de volta todo a energia do cinema de ação de raiz, com pouquíssimos efeitos visuais e muita destruição real. Em sua nova aventura, Max (Tom Hardy), ainda assombrado por seu passado, se encontra prisioneiro da estranha Cidadela, um dos últimos resquícios da humanidade em meio ao deserto cruel que se tornou o mundo. Até bater de frente com a misteriosa e violenta Furiosa (Charlize Theron) muda sua perspectiva de liberdade.
Uma sinfonia do caos coordenada com vigor pelo veterano George Miller (Oscar de melhor animação por Happy Feet e diretor da trilogia original de Mad Max), o filme impressiona. É uma ópera rock movida a sangue, suor, gasolina e areia, que acelera no cenário pós-apocalíptico em busca de uma esperança para a vida. Parafraseando um dos personagens, “testemunhe” um neoclássico furioso, agora.
2. Que Horas Ela Volta? (Idem, Brasil, 2015) de Anna Muylaert
O cotidiano de uma casa em São Paulo modifica a dinâmica entre patrões e a empregada a partir da chegada de uma adolescente vinda do Recife, filha da doméstica Val (Regina Casé), considerada “da família” há 15 anos.
Uma crítica ao método da família tradicional brasileira de criar seus filhos, é um embate dramático necessário entre a sala e a cozinha. Há a culpa pelo distanciamento com a filha – fato não revidado quando se trata da relação mãe e filho -, e uma alegria e a apreensão pela situação muitas vezes desconcertante. Provoca um sentimento de desconforto necessário ao jogar holofote no tratamento de igualdade, porém desigual, entre patrões e empregados.
3. O Presente (The Gift, EUA, 2015) de Joel Edgerton
Casal recém casado, Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) aparentemente estão muito felizes. Até o dia em que aparece Gordo (Joel Edgerton), ex-colega de escola de Simon. O estranho amigo insiste na aproximação, mas Simon prefere esconder um segredo do passado que envolve os dois, transformando a rotina do casal em pura desconfiança. Um filme que menos se diz, melhor, contudo é um tenso thriller dramático sobre como as duras escolhas da vida podem voltar contra você.
4. Divertida Mente (Inside Out, EUA, 2015) de Peter Docter, Ronnie Del Carmen
Sentimentos com sentimentos conduzem a trama de uma obra-prima engraçada (alegria), emocionante (tristeza), tensa (medo), apreensiva (nojinho) e raivosa (raiva). Assim como os seus sentimentos na tela. É quase impossível segurar as lágrimas de mais uma bela e obrigatória história da Pixar/Disney.
5. Birdman (Birdman, EUA, 2014) de Alejandro Gonzalez Iñarritu
Obra complexa, é uma crítica criativa ao grande mercado de Hollywood, seus filmes pipoca e astros de ego inflamados. Uma comédia dramática que brinca e deixa você entre o que é real e o que é irreal. Uma linha tênue entre a sanidade e a insanidade humana transborda na tela. Uma obra ambiciosa e metalinguística, mas que funciona em todas as suas apostas geniais. Venceu o Oscar de melhor filme, diretor (Alejandro Gonzáles Iñarritu), roteiro original e fotografia.
6. O Clã (El Clan, Argentina, 2014) de Pablo Trapero
Além da vigorosa condução do seu diretor, impressionam os olhos sinistros do protagonista, Guillermo Francena. Drama argentino baseado em uma história real sobre uma família que, durante a Ditadura na Argentina, praticava sequestros para arrecadar dinheiro, com desfechos sempre violentos.
7. O Clube (El Club, Chile, 2015) de Pablo Larrain
Um atropelamento psicológico sobre um grupo de ex-religiosos pedófilos, em uma pequena cidade do Chile. Entre conflitos pessoais e o dia a dia da pequena cidade, há muito mais para se sentir do que ver, e assim somos tragados para o desconforto social, e até atestando que a humanidade não deu certo. O drama é tingido de cores frias e de sentimentos fortes, que se distribuem entre repulsa, medo, angústia e dor/peso na consciência.
8. Califórnia (Idem, Brasil, 2015) de Marina Person
Viagem nostálgica de volta aos anos 80, é um filme lindo e, como a sua protagonista, inicia puro, mas depois vai tateando a vida como é ela é. Uma obra que merece ser vivida, ou melhor, reconhecida como o retrato de uma geração que sabia aproveitar melhor a vida, mesmo sem saber eram felizes e não sabiam.
9. Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash, EUA, 2014) de Damien Chazelle
Um filme simples, com um mote conhecido – embate entre pupilo e mestre – mas que vai muito além, assim como seu antagonista, te leva ao limite e extrai/entrega o máximo. O drama concorreu ao Oscar de melhor filme, e venceu três estatuetas, melhor ator coadjuvante (J.K. Simmons), montagem e mixagem de som.
10. A Hora e a Vez de Augusto Matraga (Idem, Brasil, 2013/2015) de Vinícius Coimbra
Com um texto incrível – estamos falando de uma fiel adaptação de Guimarães Rosa – que faz até um homem mudo gritar (parafraseando o próprio autor), o drama apresenta atuação impecável de João Miguel. Capaz de produzir até um duelo final em que se faz justiça, sem precisar se vingar. Uma justiça poética entregue nas mãos de Deus, mas não sem antes passar pelo Diabo.
Blockbusters pura raça:
1. Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (Star Wars – Episode VII: The Force Awakens, 2015) de J.J. Abrams
Está tudo no lugar. A trilha clássica de John Williams já anuncia. Numa galáxia muito, muito distante há a luta do bem (a luz) vs. o mal (lado negro da Força), batalhas espaciais, viagens na velocidade da luz, confrontos com sabres de luz, droids, conflito entre pai e filho, efeitos (realmente) especiais e um final que clama por uma continuação.
2. Perdido em Marte (The Martian, 2015) de Ridley Scott
A saga do astronauta Mark Watney (Matt Damon), dado como morto e deixado em Marte após uma severa tempestade é uma tour de force de Matt Damon com o apoio espetaculoso da tecnologia. Tem humor, suspense e ainda é uma grandisíssima ficção-científica que cumpre a missão de divertir em forma de declaração de amor à ciência.
3. Missão Impossível: Nação Secreta (Mission Impossible: Rogue Nation, 2015) de Christopher McQuarrie
Além da trama bem urdida, numa franquia com tantas sequências de ação maravilhosas, é notável a capacidade de reinvenção do roteiro da quinta parte. As ações impossíveis, fugas e perseguições ensandecidas, sequências muito bem resolvidas e uma aflição sem fim em uma negociação final.
4. Kingsman – Serviço Secreto (Kingsman, 2015) de Matthew Vaughn
Adaptação da série de quadrinhos criada por Mark Millar e Dave Gibbons, é uma visão jovem e refrescante do mundo de espionagem ao estilo de James Bond.
5. Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015) de Colin Trevorrow
Uma aventura com reverências e referências ao já clássico Jurassic Park (1993), assinado por um jovem diretor, a fita surpreende ao contar uma história bem parecida com o original, mas de forma leve, divertida e muito tensa.
Para saber quais foram os piores filmes de 2015, clique aqui. O Tribuna do Ceará também separou uma lista com os filmes inéditos no cinema, que foram lançados direto no mercado de home vídeo no Brasil.
[Arte: Tiago Leite]