Em setembro, o Canal Brasil celebra uma das mais prestigiadas mostras dedicadas ao cinema nacional, o Festival de Brasília, cuja 50ª edição tem início no próximo dia 15.
Durante todo o mês, o canal exibe, nas madrugadas de segunda e terça-feira, longas-metragens que marcaram a história da sétima arte brasileira. A homenagem tem início na segunda-feira, dia 04, à 0h15, com “Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz” (foto) de Paulo Gil Soares, e termina na terça, dia 26, com “Big Jato”, de Cláudio Assis.
“PROEZAS DE SATANÁS NA VILA DE LEVA-E-TRAZ” (1967) | 82 minutos | Horário: Segunda-feira, dia 04, à 0h15 | Classificação: Livre | Direção: Paulo Gil Soares.
Sinopse: Rodada na cidade histórica de Tiradentes (MG), a produção conta com música de Caetano Veloso, que interpreta as canções com Gal Costa. Em 2007, o filme foi exibido em cópia restaurada no Festival de Brasília, 40 anos depois de ser premiado com os Candangos de melhor filme, diretor, trilha sonora e roteiro. Pela primeira vez, o filme chega à televisão brasileira em cópia remasterizada para alta definição.
Na pequena Vila do Leva-e-traz, a descoberta de petróleo nos arredores do povoado leva à criação de uma cidade pré-fabricada nos moldes progressistas. Com a esperança de benesses e riquezas, os moradores logo abandonam o vilarejo. Quem também faz as malas é Satanás, que ora travestido de homem, ora de bode, não tarda a ganhar a admiração dos novos vizinhos. Ao devolver a visão para um cego e o braço para um amputado, ele vira o líder da cidade com a promessa de mais milagres. A vila progride graças aos desmandos do governante, lançado candidato à presidência da República por pressão do povo. No entanto, as vantagens oferecidas pelo diabo parecem ser tão ilusórias quanto a crença de que o desenvolvimento econômico melhoraria a vida dos moradores.
“XICA DA SILVA” (1976) | 117 minutos | Horário: Terça-feira, dia 05, à 0h15 | Classificação: 16 anos | Direção: Cacá Diegues.
Sinopse: O filme mostra a trajetória de uma bela escrava que se tornou a primeira dama negra da história brasileira, seduzindo o milionário João Fernandes de Oliveira (Walmor Chagas). Ao promover luxuosas festas e banquetes, Xica da Silva – personagem de Zezé Motta – ficou conhecida até na corte portuguesa. A ostentação atingiu níveis surrealistas quando João Fernandes satisfez o caprichoso desejo de sua amante: fazer uma viagem marítima sem sair do lugar, construindo um lago artificial e uma caravela, manobrada por uma tripulação de dez homens. Baseada no romance homônimo de João Felício dos Santos, a produção recebeu diversos prêmios, com destaque para os de melhor filme, diretor e atriz (Zezé Motta) no Festival de Brasília de 1976. A obra – que marcou o início do processo de reabertura política – teve grande sucesso de público no país e no exterior.
“TABU” (1982) | 79 minutos | Horário: Segunda-feira, dia 11, à 0h15 | Classificação: 18 anos | Direção: Julio Bressane.
Sinopse: Por meio de um passeio pela música brasileira, o longa conta a hipotética história de um encontro poético promovido pelo cronista João do Rio (José Lewgoy), entre o compositor Lamartine Babo (Caetano Veloso) e o escritor modernista Oswald de Andrade (Colé Santana). A produção recebeu, no ano de seu lançamento, os prêmios de melhor filme e fotografia no Festival de Brasília. A obra experimental não se resume apenas às conversas entre os dois ícones da cultura nacional. Entrecortando as cenas, há trechos do original homônimo de Murnau e cenas de filmes pornográficos antigos.
“A HORA DA ESTRELA” (1985) | 96 minutos | Horário: Terça-feira, dia 12, à 0h15 | Classificação: 12 anos | Direção: Suzana Amaral.
Sinopse: O longa-metragem estrelado por Marcélia Cartaxo, José Dumont, Tamara Taxman e Fernanda Montenegro conquistou o prêmio de melhor atriz (Marcélia Cartaxo) no Festival de Berlim em 1986; melhor filme, diretor, roteiro, fotografia, cenografia, montagem, trilha sonora, ator (José Dumont), atriz (Marcélia Cartaxo), prêmio da crítica, prêmio OCIC e do Júri Popular, no Festival de Brasília; além de indicação para representar o Brasil no Oscar.
A jovem e inocente Macabéa (Marcélia Cartaxo) é uma nordestina recém-chegada a São Paulo. Sonhadora e ingênua, de fala e comportamento mansos, com pouca educação e ainda menos traquejo, ela trabalha por menos de um salário mínimo em um escritório como digitadora e divide um quarto com outras três moças. Macabéa não possui grandes aspirações na vida, mas gostaria de ter um namorado. Após um passeio em um parque, ela conhece Olímpico (José Dumont), um metalúrgico com pretensões políticas. Eles começam um namoro e apesar de sonhar com um cargo que exige habilidade com as palavras, o operário é bastante rude com a jovem. A pacata vida da emigrante vai ganhar contornos trágicos quando sua colega de trabalho, a libertina Glória (Tamara Taxman), procura a cartomante (Fernanda Montenegro) em busca de sorte nas cartas.
“BAILE PERFUMADO” (1996) | 93 minutos | Horário: Segunda-feira, dia 18, à 0h15 | Classificação: 16 anos | Direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas.
Sinopse: O longa-metragem ganhou cinco prêmios no Festival de Brasília de 1996: melhor filme, direção de arte, ator coadjuvante (Aramis Trindade), prêmio jovem cineasta Unesco (Lírio Ferreira e Paulo Caldas) e prêmio da crítica. A trilha sonora leva a assinatura de Chico Science, Fred Zero Quatro, Siba e Lúcio Maia, que participaram do filme desde o roteiro. As músicas começaram a ser elaboradas já nessa época, o que possibilitou a criação de doze temas no melhor estilo do “mangue beat”, utilizadas também na trilha incidental com algumas variações.
Cinebiografia do libanês Benjamin Abrahão (Duda Mamberti), homem de confiança de Padre Cícero (Jofre Soares) até o dia da morte do religioso, quando decide partir de Juazeiro em busca de recursos para realizar seu velho sonho: filmar Lampião (Luís Carlos Vasconcelos) e seu bando. Fotógrafo de boa conversa, o libanês passa a fazer retratos das pessoas certas para conseguir as informações que o levam finalmente a Lampião. Ele começa a rodar seu filme e vai apresentando pouco a pouco as características do bando, que, às vezes, dança ao redor de uma rabeca, embriagado de uísque e banhado em loção francesa, ao som da canção Baile Perfumado nas matas do sertão. Terminadas as filmagens, Abrahão não consegue exibir a fita – proibida pelo governo Getúlio Vargas – e se vê pressionado por credores até o dia em que é barbaramente assassinado.
“AMOR & CIA” (1998) | 100 minutos | Horário: Terça-feira, dia 19, à 0h15 | Classificação: 14 anos | Direção: Helvécio Ratton.
Sinopse: Dentre os prêmios que o longa-metragem recebeu, destacam-se o de melhor filme, atriz (Patrícia Pillar) e desenho de produção no Festival de Brasília; e melhor filme latino-americano no Festival de Cinema de Mar Del Plata (Argentina); todos em 1998. No ano seguinte, foi laureado com os prêmios de melhor ator (Marco Nanini) e roteiro (Carlos Alberto Ratton) no Festival Ibero-americano de Cinema de Santa Cruz de La Sierra (Bolívia).
Em São João Del Rei, Minas Gerais, no final do século 19, vive Godofredo Alves (Marco Nanini), um próspero comerciante. Um dia, ao chegar mais cedo em casa para comemorar com Ludovina (Patrícia Pillar) os quatro anos de casamento, ele a encontra com seu sócio, Machado (Alexandre Borges), em atitude suspeita. Apesar de, aparentemente, nada de mais grave ter acontecido, Alves expulsa a mulher e desafia seu ex-amigo para um duelo. Entretanto, os acontecimentos acabam tomando um rumo inesperado.
“BRANCO SAI, PRETO FICA” (2015) | 96 minutos | Horário: Segunda-feira, dia 25, à 0h15 | Classificação: 12 anos | Direção: Adirley Queirós.
Sinopse: A produção teve carreira bem-sucedida em diversas mostras de cinema no Brasil e no mundo, com destaque para os prêmios de melhor filme, ator e direção de arte no Festival de Brasília; melhor roteiro no Vitória Cine Vídeo; prêmio do júri no Festival de Curitiba; e melhor filme internacional no Festival de Cinema do Uruguai.
A obra narra os detalhes do trágico incidente ocorrido no Quarentão, berço da cultura negra do Distrito Federal, a partir da ótica daqueles obedientes à ordem policial, que emprestam seus nomes aos personagens. Marquim do Tropa surge, na primeira sequência do filme, gravando um beat box e remontando o quebra-cabeça do caso. Intercalando seu depoimento com fotos reais da noite, logo fica evidente ao espectador a sequela deixada por aquele momento: ele está em uma cadeira de rodas. O mesmo acontece com Shokito. Agora mais velho, ele caminha vagarosamente frente à câmera com uma perna mecânica, resultado de uma amputação devido aos traumas das agressões sofridas no local. O tom documental se esvai com a aparição de Dimas Cravalanças (Dilmar Durães), que chega do ano 2073 para averiguar os detalhes do ocorrido.
“BIG JATO” (2016) | 98 minutos | Horário: Terça-feira, dia 26, à 0h15 | Classificação: 16 anos | Direção: Cláudio Assis.
Sinopse: Vencedora de cinco prêmios no Festival de Brasília de 2015 – melhor filme, ator (Matheus Nachtergaele), atriz (Marcélia Cartaxo), roteiro e trilha sonora –, a coprodução do Canal Brasil versa sobre o amadurecimento de Francisco (Rafael Nicácio) no pequeno vilarejo de Peixe de Pedra, em meio ao sertão pernambucano. Dentro da crueza do lugar, o menino tenta entender seus próprios dilemas e escolher seu caminho na vida. Para isso, ele tem três figuras masculinas que lhe servem de modelo, cada uma com uma forma diferente de encarar o mundo. A principal delas atende pelo mesmo nome: seu pai, Francisco (Matheus Nachtergaele), um homem rude, sem qualquer tipo de afeto pelos filhos ou pela esposa (Marcélia Cartaxo). O patriarca dirige o Big Jato, caminhão-pipa utilizado para limpar fossas das casas da cidade.
Os sonhos de Francisco divagam para além de Peixe de Pedra. Apaixonado por poesia, ganha a primeira máquina de escrever do tio Nelson (também vivido por Matheus Nachtergaele), um libertino locutor de uma popular rádio local. O narrador influencia o garoto de forma anárquica e libertária, contra o senso comum da necessidade de trabalhar desde cedo e estudar matemática tão defendido por seu pai. Francisco vai construir sua personalidade e lidar com dilemas comuns da adolescência em meio a esse ambiente e essas figuras. Há a vontade de sair da cidade pequena rumo ao litoral, os problemas frequentes da relação com o pai, sempre alcoolizado e preso a um ofício prestes a ser extinto com a eventual chegada de redes de esgoto, a descoberta do primeiro amor e a iniciação sexual forçada em um prostíbulo de baixa categoria.