Beckett (2021) por Ferdinando Cito Filomarino
John David Washington é ator que tem acertado nas escolhas de papéis nos longas que tem atuado. Desde que despontou para o estrelato como o protagonista em Infiltrado na Klan de Spike Lee. Hollywood têm cada vez mais o notado com o intérprete com bastante potencial. Ele também já foi o personagem principal em Tenet de Christopher Nolan e coprotagonista em Malcolm e Marie de Sam Levinson.
Agora em Beckett (outra produção original da Netflix, como Malcolm e Marie, associada com a produtora nacional RT Features). Washington é mais uma vez protagonista. Porém, dessa vez, parece que a sorte não sorriu para ele dessa vez. Apesar de atuar novamente bem, o longa que está inserido vai pedindo dele tantas coisas absurdas no quesito de interpretação. Que ao fim da película, o personagem se transforma em algo tão diferente do começo (E sim, em vários longas, o “correto” é que o personagem do início evolua, seja para positivo ou negativo, do final da sua jornada), dando um sentimento ao espectador de potencial desperdiçado.
Beckett (Washington) e sua esposa April (Alicia Vikander), são dois turistas americanos que estão de férias no interior da Grécia. Em uma noite, fazendo uma viagem de carro em uma estrada escura, David adormece no volante, causando um acidente, fazendo o veículo cair numa ribanceira e acertar uma casa. No dia seguinte no hospital, nosso protagonista descobre que seu cônjuge havia falecido. Desnorteado, ele retorna ao local do acidente, porém logo depois, dois policiais chegam à casa e sem aviso prévio atira nele. A partir daí, começa uma perseguição com David fugindo sem saber o motivo de ser perseguido.
Dirigido por Ferdinando Cito Filomarino e roteirizado por Kevin A. Rice (história de Filomarino). Temos um thriller de perseguição que começa de forma muito interessante e diferente das narrativas hollywoodianas convencionais. O diretor cria um clima de tensão forte, com momentos pontuais de respiro para a narrativa. O longa depende muito da interpretação David Washigton, que se doa muito ao papel, principalmente fisicamente.
Aqui temos uma fotografia (por Sayombhu Mukdeeprom) que contribui com planos que exaltam a paisagem do campo e cidade da Grécia e criam tensão, como por exemplo, utilizar a câmera em momentos para causar vertigem. A trilha sonora entra nos momentos perfeitos, com percussão que causa perturbação.
Tirando o começo e os pontos técnicos citados, o longa vai a cada sequência em um processo decrescente que apela pelo cada vez mais para o absurdo e por soluções narrativas fáceis. Quando os momentos de respiro contribuem para contar a história e adicionar informações relevantes à história, se torna um elemento muito positivo. Entretanto, quando acontece no meio da ação, a película perde bastante em ritmo e se torna anticlimática (poderia colocar esses termos em Caps Lock).
O realizador tem uma dificuldade enorme de fundir o thriller de ação/perseguição ao político. A uma tentativa de fazer uma crítica ao momento histórico recente que a Grécia passou (e ainda sofre), numa conspiração, onde em um momento o antagonista fala para Beckett: “Você era o cara errado, no momento errado”, que chega quase ser cômico de tão clichê.
No terceiro ato, nosso protagonista que até antes tinha o papel mais de fugir e se defender. Se torna quase um John McClane, da franquia Duro de Matar (e sim, ele machuca bastante desde do começo do longa, mas nada como perto no final), se tornando um astro de ação da década de 80. Inclusive, a cena que conclui a forma que ele derrota os vilões, faz paralelo com a primeira cena em Batman: O Cavaleiro das Trevas (desculpe, foi a primeira coisa que pensei).
Beckett era um filme que grande potencial que se perde nas próprias ideias. Não gosto de dizer isso, mas talvez nas mãos de outro diretor, o longa poderia ser uma das grandes produções da Netflix esse ano. A John David Washington, o que posso desejar é que no seu próximo projeto tenha mais sorte.