Agujero Negro/Buraco Negro (Agujero Negro, Equador, 2018) de Diego Araujo
Victor (Victor Arauz) já foi considerado uma promessa literária da América Latina, e se vê forçado a terminar seu romance há muito adiado, por motivos financeiros. À beira de ser um pai de primeira viagem, ele se apaixona perdidamente por uma garota de 16 anos, Valentina (Marla Garzón). Justificado para si como oxigênio para escrever, essa segunda adolescência coloca seu casamento com Marcela (Daniela Roepke) em crise, e superar esse momento passa a ser um desafio para que finalmente possa crescer, e entrar na idade adulta.
Diretor (e co-roteirista) Agujero Negro, Diego Araujo já havia feito sucesso em sua estreia com Feriado/Holliday (2014), nominado como revelação no Festival de Berlim, mas aqui é apenas um espelho de seu protagonista. O equatoriano parece crer que está bebendo das obras do cineasta americano Noah Baumbach, de filmes como Frances Ha (2012) e A Lula e a Baleia (2005). Mas na verdade, é apenas um imitador sem brilho.
Ora ora… Na tela, o escritor Victor acredita ser um J. D. Sallinger (autor do clássico O Apanhador no Campo de Centeio) do Equador. E que para poder sangrar/escrever, tem uma necessidade de viver literalmente dentro do romance mais famoso de Vladimir Nabokov, Lolita.
Sua busca quase desesperada pela inspiração, o colocam numa corda bamba entre o frescor de uma jovem estudante, e sua esposa grávida. E mesmo com dois caminhos muito bem definidos do que é certo e errado, toda a obra não consegue construir um arco real de mudança do personagem. Seu despertar beira o videoclipe, em uma decisão aparentemente tardia.
E se o cineasta equatoriano só acerta exatamente na construção da persona de sua Lolita moderna, que usa camisas de rock (Bowie, Nirvana, Sex Pistols), cheia de desejos e juventude, e que mesmo muito jovem, é a pessoa que mais consegue tomar as decisões corretas do longa, o mesmo não pode se dizer do resto.
Sua comédia romântica dramática não acerta nem nos clichês, tampouco no seu teor existencial. Suas escolhas pela fotografia em P&B, e aspecto de tela no formato de antigos filmes (16X9), para aparentar algo mágico, não funcionam. Muito menos uma trilha sonora que insiste em estragar momentos em que o silêncio poderiam ser muito mais fortes. São notas de piano que não cansam de cessar, mas que acabam cansando mesmo é o espectador. Até ousa citar “Jules et Jim: Uma Mulher para Dois” de Godard (o pôster do filme que vão assistir no cinema, no auge do romance), invertendo os papeis e colocando “Um homem para dois” em sua trama…
É como se a a busca existencial do seu personagem principal não lhe provesse nada de bom, mas apenas tempo desperdiçado. Como o nosso, que nos enganamos com os jogos sedutores de Valentina (Marla Garzón), para depois perceber que tudo não passou de uma brincadeira insensata. Como o próprio filme, que se afunda em suas próprias inspirações.
Agujero Negro/Buraco Negro (Agujero Negro, Equador, 2018) de Diego Araujo | Roteiro: Diego Araujo, Hanne-Lovise Skartveit | Idiomas: Espanhol | Color: P&B | 102 minutos | Productor: Hanne-Lovise Skartveit | Elenco: Victor Arauz, Daniela Roepke, Marla Garzón, Alejandro Fajardo, Cristina Morrison | O filme participa da Mostra Competitiva Latino-Americana do 20º BAFICI.
*O crítico viajou à convite do Buenos Aires International Festival of Independent Cinema – BAFICI, e compõe o Júri FIPRESCI na Mostra Competitiva Latino-Americana.