Depois de receber 3 prêmios no 49º Festival de Brasília – melhor ator (Edu Moraes), melhor montagem e melhor direção de arte – 1º longa-metragem de Santiago Dellape será exibido dia 22/10, às 21:20 na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
“A Repartição do Tempo é um filme no estilo Sessão da Tarde”, define o diretor brasiliense Santiago Dellape. Inspirado nos filmes dos Trapalhões e em clássicos como “Goonies”, “Conta Comigo”, “De Volta para o Futuro” e “Feitiço do Tempo”, o cineasta presta uma justa e sincera homenagem ao cinema de aventura e fantasia que marcou os anos 80 e que foi, para toda uma geração – e para ele inclusive – via de acesso ao universo da sétima arte.
A tal repartição do tempo mencionada no título está situada nos rincões da vasta burocracia brasileira e também atende pela sigla REPI: Registro de Patentes e Invenções. É lá que, um belo dia, Dr. Brasil (Tonico Pereira) protocola o protótipo de uma máquina do tempo que, depois de cair nas mãos erradas do psicótico Lisboa (Eucir de Souza), chefe da repartição, acaba sendo usada para duplicar funcionários públicos e aumentar a produtividade do setor. Escravizada, uma turminha formada por Jonas (Edu Moraes), Carol (Bianca Muller) e Zé (André Deca) vai se meter em altas confusões para conseguir se livrar dessa enrascada em apenas 100 minutos!
Dedé Santana
A ode à estética oitentista – hoje tão em voga com “Stranger Things” – se torna completa com a presença no elenco do eterno trapalhão Dedé Santana, em memorável retorno depois do hiato de mais de uma década afastado das telonas.
Ele volta na excelente companhia da filha, Yasmim Sant’anna, promissora atriz de apenas 20 anos que faz seu début cinematográfico em “A Repartição do Tempo”. Posteriormente, pai e filha viriam a contracenar juntos outra vez na comédia “O Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes, nos cinemas.
Por fim, o também inédito “Os Saltimbancos 2”, com Didi Aragão, viria na esteira destas duas filmagens para selar o retorno definitivo de Dedé – 80 anos de idade – à linha de frente do cinema brasileiro, num movimento de redescoberta deste gênio do humor por diretores da nova geração. Dedé, que morou em Brasília durante os anos da construção e chegou a ser proprietário de uma casa noturna no Núcleo Bandeirante, afirma que “voltar à cidade para filmar ‘A Repartição do Tempo’ foi especial”.
Quadrinhos
Essa, aliás, é uma forte característica de “A Repartição do Tempo”: trata-se de um projeto transmídia, que extrapola o campo cinematográfico e desemboca em outras plataformas. É o caso da revista em quadrinhos “Jack Navalha”, teoricamente uma criação do nosso protagonista Jonas nas horas vagas de expediente.
As ilustrações, de autoria da talentosa Flávia Lima, estudante de artes plásticas da UnB, ficaram tão boas, na opinião do diretor, que acabaram entrando no corte final do filme como uma sequência de animação. Outro desdobramento midiático do filme é o lançamento comercial previsto para 2017 do videoclipe de “Cara Metade”, música original executada por Ricardo Pipo (Melhores do Mundo), que no filme interpreta um zelador metido à Michel Teló.
Trilha sonora
Em “A Repartição do Tempo” a trilha sonora é um atrativo à parte, com sucessos de Bob Dylan (“Gotta Serve Somebody”), Raul Seixas (“Como Vovó Já Dizia”), Tribo de Jah (“Babilônia em Chamas”), Technotronic (“Pump Up The Jam”) e O Terno (“Tic Tac”), além da épica trilha original composta pelo maestro alemão Sascha Kratzer, que inclui uma releitura muito particular da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes.
O inconfundível tema da Voz do Brasil certamente vem acompanhado, no filme, do bordão “em Brasília, 19 horas”, uma espécie de senha para que batalhões de funcionários públicos encerrem os expedientes todos os dias. Curiosamente, a máquina do tempo que enseja toda a trama do filme, é simplesmente uma máquina de ponto turbinada, na concepção do premiado diretor de arte Andrey Hermuche, também estreante em longas-metragens.
Elenco
No elenco, nomes de expressão nacional interessantes, como os já mencionados Dedé Santana, Tonico Pereira, Eucir de Souza, Bianca Muller, Selma Egrei e Sérgio Hondjakoff (o eterno Cabeção da Malhação). Juntam-se a eles toda uma geração de atores brasilienses como o queridinho do diretor, Andrade Jr. (escalado para 9 de 10 filmes de Santiago), Edu Moraes, Sérgio Sartório, Ricardo Pipo, Rosanna Viegas, Bidô Galvão, Dina Brandão e os vencedores do Kikito, Lauro Montana e André Deca, que vêm de ótimo desempenho no trabalho anterior de Santiago, o curta “Ratão”, vencedor de quatro prêmios de melhor filme do júri popular ao longo da carreira.
Edu Moraes, o protagonista, foi reconhecido como melhor ator da Mostra Brasíla no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro por seu trabalho em “A Repartição do Tempo”, que em sua primeira competição também fez jus aos prêmios de melhor montagem e direção de arte, além de ter obtido ótima recepção por parte da crítica especializada.
Diretor é Funcionário Público
O diretor e funcionário público Santiago Dellape – estreante em longas-metragens – conhece bem o universo que está abordando. É servidor há seis anos e retirou da observação cotidiana muitos dos elementos que compõe o universo estético-narrativo do filme. O fato do protagonista Jonas ser um aspirante a desenhista lutando para encontrar sua voz como artista em meio à rotina cinzenta de uma repartição não é mera coincidência.
O interesse por temas como “burocracia” e “serviço público”, no entanto, existem na obra de Santiago desde os tempos da Universidade de Brasília (UnB), onde se graduou em Audiovisual e Jornalismo. “Nada Consta”, seu projeto de conclusão de curso em 2006, é a história de um homem que se vê impedido de viajar à Lua por não apresentar a documentação necessária. No curta de oito minutos, premiado em Brasília e Gramado, estão lançadas as bases do cinema que o realizador iria perseguir pela próxima década, com foco na fantasia, humor negro, non-sense e forte influência de linguagens como a música, o videoclipe e os quadrinhos.
Produção
Inteiramente filmado em Brasília, as filmagens foram financiadas pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC). A finalização do filme foi inteiramente custeada pelo diretor com recursos próprios, incluindo a aquisição dos direitos autorais da trilha sonora. O filme foi produzido pelas empresas 400 Filmes (DF), Doc Doma (BA) e Gancho de Nuvem (DF). O roteiro é mais uma das muitas parcerias do diretor com o colega de faculdade Davi Mattos que, juntos, já trabalham nos próximos projetos, os longas “País do Futuro” (livre adaptação do atentando ao Riocentro, ocorrido em 1981) e “O Verão da Lata” (livre adaptação dos eventos que marcaram o verão de 1987), este premiado com R$ 65 mil no último edital do FAC, na categoria “Desenvolvimento”.
Bastidores
Os bastidores de “A Repartição do Tempo” foram cenário de eventos por vezes irônicos e metalinguísticos. Enquanto a trama do filme trata basicamente de um conflito trabalhista, diretor e equipe viveram situação parecida acerca da questão das horas extras necessárias para se cumprir o apertadíssimo plano de filmagem em apenas 25 diárias.
Por outro lado, se “A Repartição do Tempo” é uma crítica mordaz à burocracia, foi ela mesma quem frustrou os planos de uma estreia antecipada nos cinemas, já que o filme foi inabilitado na categoria de “Comercialização” do último edital do FAC justamente por pendências documentais. Além da direção, Santiago Dellape assina roteiro, produção e montagem do filme, além de ter tocado baixo na trilha sonora. O projeto foi anteriormente batizado com outros dois títulos (“Burocracia em Dose Dupla” e “Licença Prêmio”), descartados após passarem pelo crivo popular no projeto “Teste de Audiência”, realizado em Brasília e São Paulo.
SERVIÇO:
Exibições do longa-metragem “A REPARTIÇÃO DO TEMPO” na 40ª Mostra Internacional de São Paulo:
22/10/16 – 21:20 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 2
23/10/16 – 13:30 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 5
01/11/16 – 13:30 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 6 Duração: 100 min
Classificação indicativa: 14 anos