Cine Ceará para mim sempre foi um festival a qual muito tenho afeto. Um dos responsáveis pela minha formação cinematográfica até. E sua 25ª edição trouxe componentes que o tornaram inesquecível.
Seu retorno ao Cine São Luiz (agora dito cineteatro) por si só já é um ganho considerável. Pra mim com grande força emocional, já que a luxuosa sala encravada na Praça do Ferreira foi o lugar que vi filmes que me marcaram, cada um de alguma forma.
[tribuna-veja-tambem id=”8367″ align=”alignright”]Os Goonies (1985), Império do Sol (1987), Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), Batman (1989), Dança com Lobos (1990), A Família Addams (1991), O Silêncio dos Inocentes (1991) e a reestreia de Star Wars: Episódio IV: A Nova Esperança (1977), em sua reestreia em 1997.
Outro ponto a se destacar no jubileu de prata do festival é sua seleção de filmes em competição. Mesmo apesar da ausência de última hora do novo filme de Anna Muylaert, “Que Horas Ela Volta?”, a lista contemplava algo entre o interessante, obras premiadas e co-produções entre vários países (O Clube; Loreak; Jauja; A Obra do Século; Real Beleza; NN; Cordilheiras do Mar; Cavalo Dinheiro; e Crumbs). Um grande liquidificador de idiomas (como o basco, o dinamarquês, o amárico, o africaans, o criolo, o espanhol, e claro, o português), sotaques, viagens e ideias.
Mas o melhor ainda estava por vir. Um dia após ser atropelado por O Clube (El Club, 2015), na abertura do festival, recebo uma ligação de Orlando Margarido. Jornalista e crítico de cinema da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). O convite era mais que honrado, fazer parte do Júri da Abraccine no Cine Ceará. Felicidade total não apenas em compor o júri, mas também de trocar experiências com outros críticos, conversar e viver cinema durante uma semana.
Nada poderia ser melhor. E foi. Dentre as nove obras, seis me agradaram bem – umas mais, outras menos. Duas nem tanto, e uma quase nada. No balanço, excelente a leva, que gerou conflitos, boas discussões e muita diversão. Ao final elegemos o melhor dos melhores, “O Clube”, mais que um soco no estômago, uma pancada na alma, por Pablo Larraín. Como a lista competitiva foi bem bacana, consideramos também uma Menção Honrosa para a mistura de ficção-científica e fábula “Crumbs”. Dentre os curtas, o melhor segundo a Abraccine foi o divertido “Quintal”, de André Novais.
Agradeço a oportunidade à Abraccine, e o orgulho de ter composto o júri ao lado de Orlando Margarido (carta Capital), Neusa Barbosa (Cineweb), Bruno Carmelo (Adoro Cinema) e Paulo Portugal (c7nema.net, de Portugal).
Após a experiência saborosa de conhecer, trocar informações e ideias com os colegas, resta de fato ingressar na Abraccine e cobrir novos festivais de cinema pelo Brasil. Agora só espero continuar sonhando acordado. Para isso basta uma sala escura e uma projeção em uma tela branca.
Daniel Herculano é jornalista e crítico de cinema do Tribuna do Ceará/UOL e Tribuna Band News FM (Fortaleza).