Em Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash, 2014), Andrew (Miles Teller) é um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração. Dentro de uma escola de música conceituada, chama a tenção do professor Terence Fletcher (J.K. Simons), um impiedoso mestre do jazz. E ao entrar para a orquestra principal, a convivência com o abusivo maestro fará o jovem transformar seu sonho em obsessão.
O Clube Cinema convidou três bateristas para comentar e opinar sobre a produção. João José Vasconcelos é baterista das bandas Inbeats, My Lovely Band (Red Hot Cover) e Cliftons, e toca bateria há 20 anos; PH Barcellos é o batera da popular Zero85; e Léo Paiva, dono das baquetas da Banda Sulamericana e produtor musical.
Clube Cinema: Gostou do filme? Por quê?
João José: Sim, bastante. Mostra como é difícil ser músico por quem leva a coisa a sério. Toda a parte do estudo e a árdua dedicação de quem quer atingir um nível de excelência e toda a pressão física e emocional envolvida.
PH Barcellos: Gostei, apesar de toda a expectativa criada em volta do filme. Não digo minha expectativa, mas sim dos meus amigos que não são bateristas. Então, ouvi muito falar antes do filme. Gostei principalmente do aspecto que o filme traz, como o americano encara a música, a estrutura é sensacional pra bandas ainda “amadoras”.
Léo Paiva:Não gostei do filme, eu pirei no filme. Basicamente porque ele retrata a vida das pessoas que entram no difícil universo de serem super músicos, aquela pessoa que toca muito o seu instrumento e quer ser um virtuoso.
Para mim musica é mais do que ser um virtuoso, as vezes o simples chega a ser mais lindo, mas esse universo existe, você precisa ser muito disciplinado para ter sucesso e eu admiro muito o virtuosismo por todo esforço envolvido.
Sou um cara que gosto de musica, seja simples ou complexa, o filme mostrou que aquele mundo opressor divide quem quer ver a musica com leveza ou realmente passar por toda aquela tormenta para se realizar.
Clube Cinema: Qual o grau de veracidade musical do filme?
JJ: No geral o protagonista se sai muito bem nas partes em que toca bateria, consegue convencer bem ao público e deixa a mostra a homenagem ao lendário Buddy Rich, no filme retratado como referência de domínio do instrumento, capaz de unir velocidade e habilidade mesmo em temas mais complexos, tornando-os claros e precisos. Existem algumas falhas perceptíveis apenas para músicos.
PH: Da parte musical no geral, achei coerente. Mas tratando-se da parte “baterística”, ficou bastante a desejar, causando-me por várias vezes desconforto.Em alguns momentos o personagem principal tocava e era bem ruim, em outros ele dublava, o que fica discrepante demais aos olhos de um baterista. Além de algumas exageradas que jamais tive notícia que poderiam acontecer ou que já aconteceram em algum momento com qualquer baterista.
LP: Na minha opinião, o grau de veracidade é 100%.
Clube Cinema: O filme tem várias sequências musicais. O que você destaca?
JJ: Me chamou atenção a cena em que fora do ambiente da escola de música, o protagonista até consegue se divertir tocando em um clube com o obsessivo professor e posteriormente, na cena final em que o jovem Andrew, depois de aprender a duras penas do que se trata na realidade ser músico, assume sua personalidade invertendo os rumos da apresentação e agindo conforme suas convicções. Grande filme, mas que no geral poderia se passar numa escola de teatro ou num ambiente corporativo. Trata-se mesmo da tensão do pretenso criador em encontrar uma perfeição quase robótica em um ser humano. Eu cravo um 9.
PH: Com certeza o arranjo de “Caravan”, é um clássico standard de jazz que ficou famoso pelo Duke Ellington. Eu particularmente acho fantástico esse tema e me surpreendi no arranjo do filme. Minha nota para a obra cinematográfica é 7,5.
LP: Todas as cenas foram perfeitas, o ator arrebentou, realmente teve que se dedicar ao instrumento, mesmo não sendo ele em diversas cenas, entretanto muitas ele esta tocando e faz muito bem. Não consegui perceber um erro nas cenas musicas, perfeito. O destaque é a perfeição dos atores executando suas partes nas musicas e a direção para captar tudo isso com maestria. Sem medo eu dou nota 10.
Opinião do crítico
Porque assistir: para quem gosta de música, ou é músico. Para quem gosta de drama. Para quem quer ser surpreendido por um obra que te prende a atenção. Um filme simples, com um mote conhecido – embate entre pupilo e mestre – mas que vai muito além, assim como seu antagonista, te leva ao limite e extrai/entrega o máximo.
Melhores momentos: os embates musicais e dramáticos entre Miles Teller e J.K. Simmons, pupilo e mestre, simplesmente sensacional. Palmas para os dois, e mais ainda para o mestre, J.K. Simons, vencedor do Oscar e Globo de Ouro de ator coadjuvante. A participação afetiva de Paul Reiser (da série de TV Louco por Você), como o pai do baterista, é bonita.
Pontos fracos: para ilustrar a obsessão, será mesmo capaz um ser humano passar por uma batida de carro e ainda assim se manter fiel ao seu objetivo?
Na prateleira da sua casa: a produção é baseada em um curta metragem do próprio diretor e roteirista, Damien Chazelle, que estreia a frente de longas. Seus outros créditos no cinema são os roteiros de O Último Exorcismo – Parte 2 e Toque de Mestre, ambos de 2013.
Miles Teller é um talento em franca ascensão. Participa da Saga Divergente (Divergente, 2014; Insurgente, 2015; Convergente – Parte 1 e 2; 2016, 2017) e é membro do novo Quarteto Fantástico (2015).
J.K. Simmons é um veterano muito competente. Entre seus principais créditos estão o Sr. Jameson da trilogia do Homem-Aranha (2002; 2004; 2007), o pai de Juno (2007), Queime Depois de Ler (2008) e Amor Sem Escalas (2009).
No pequeno papel da namorada de Andrew, está Melissa Benoist, de Glee (2009~) e Não Olhe Para Trás (2015), que vai bem em sua participação.
Disponível em DVD e Blu-ray pela Sony, o drama concorreu ao Oscar de melhor filme, e saiu vitorioso com três estatuetas, melhor ator coadjuvante (J.K. Simmons), montagem e mixagem de som.