Foi um ano atípico. Copa do Mundo e Eleições em pauta. Menos vistos vistos e revistos, e consequentemente um número abaixo de filmes avaliados. Com pouco menos de 200 filmes conferidos em 2014, elaborei a lista de melhores e piores filmes do ano. Para estar elegível, a fita tem de estrear comercialmente entre os dia 1 de janeiro e 31 de janeiro de 2014 nos cinemas, independente do seu ano de produção. Por isso, não se incomode de bater de cara com uma obra de 2013, 2012… è porque essa produção só chegou às telas do Brasil entre janeiro e dezembro.
Entre os melhores, alguns filmes de 2013, um de 2012 – culpa dos calendários de premiação e de estratégias das nossas distribuidoras – e vários deles já disponíveis em DVD e Blu-ray. O Abutre está em cartaz nos cinemas. O cinema nacional é representado por um diretor cearense. Gostem ou não, vamos à lista dos melhores de 2014 em 14 tópicos:
14. Filmes de super-heróis
Três fitas baseados em histórias em quadrinhos elevaram o nível da brincadeira em 2014. E os três são da Marvel. O primeiro é X-Men: Dias de um Futuro Distante (X-Men: Days of Future Past, 2014) de Bryan Singer, que volta à franquia depois de assinar os dois primeiros. Na trama, os Sentinelas estão exterminando os mutantes, e Wolverine (Hugh Jackman) é enviado ao passado para impedir que isso aconteça. Nos anos 70 ele terá a ajuda dos jovens Xavier (James McAvoy), Magneto (Michael Fassbender) e Mística (Jennifer Lawrence). Não esqueçamos da sensacional sequência com Mercúrio.
O seguinte é o divertidíssimo Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014) de James Gun. Um grupo de criminosos intergalácticas são forçados a trabalhar em conjunto para parar um guerreiro fanático que planeja tomar o controle do universo. Personagens B da Marvel ganharam as telas com um tom de diversão em alto nível, favorecido pelo seu clima de matinée e uma trilha sonora inesquecível. E quem venha o segundo.
Para fechar a conta o melhor filme do universo dos Vingadores. Capitão América 2 – O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier, 2014) de Anthony e Joe Russo apresentam uma história de conspiração envolvendo a S.H.I.E.L.D., o Capitão América e uma nova experiência vindo do passado chamado Soldado Invernal. Na trama, Steve Rogers (Chris Evans) se esforça para abraçar o seu papel no mundo moderno e, em meio à uma jogada política, torna-se uma ameaça aos EUA e a segurança mundial. E ainda tem Scarlett Johansson se garantindo muito.
13. Praia do Futuro (2014) de Karim Ainouz
Donato é um salva-vidas (Wagner Moura) que trabalha numa praia em Fortaleza (CE). Depois de passar por um trauma emocional, conhece um motoqueiro alemão, Konrad (Clemens Schick), e parte em busca de uma nova vida na Alemanha. Diretor e roteirista, Karim Ainouz mantém o espectador encantado com seu olhar delicado sobre seus personagens e suas perspectivas, que incluem abandono e um novo começo, que deságua na fuga de um lugar à procura de si mesmo. Sua constante busca por adequação ao mundo e tranquilidade diária é uma busca constante feita de imagens e diálogos poéticos.
12. Ninfomaníaca – Parte 1 (Nynphomaniac, 2013) de Lars Von Trier
Numa fria noite de inverno, Seligman (Stellan Skarsgard) encontra Joe violentada num beco. Ele a leva para o apartamento dele, onde cuida de suas feridas e faz perguntas sobre sua vida. E assim Joe conta a sua história em cinco capítulos. Dotada de um vazio existencial, Joe é a busca incessante pelo complemento humano e o sexo artístico do drama é uma ótima inquietação de Lars Von Trier.
11. Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown, 2012) de Felix van Groeningen
Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista. Ele é um músico romântico e ela a realista dona de um estúdio de tatuagem. Apesar das diferenças, o relacionamento dá certo e eles têm uma filha, Maybelle (Nell Cattrysse). Após alguns anos, uma tragédia abala a relação amorosa e familiar do casal, que desmorona e é recontada entre canções folk. Uma montagem que costura entre a dor e a euforia com apresentações musicais carregadas de ritmo e sensibilidade. Você pode até tentar conter a emoção, mas creio que o sentimento te arrebatará. Indicado ao Oscar de filme estrangeiro pela Bélgica.
10. Festa no Céu (The Book of Life, 2014) de Jorge R. Gutierrez
Produção de Guillermo Del Toro está entre as indicadas ao Globo de Ouro de melhor filme de animação. Manolo está dividido entre cumprir as expectativas de sua família – e ser um toureiro – e seguir seu coração e ser um mariachi. Em pleno Dia dos Mortos, uma história que relembra o conto de Romeu e Julieta de uma forma diferente, ao adentrar por três mundos fantásticos, onde Manolo deve enfrentar seus maiores medos para conseguir o amor de Maria. Um show de cores e sensações na melhor animação do ano.
9. Homens, Mulheres e Filhos (Men, Women & Children, 2014) de Jason Reitman
Adultos, adolescentes e crianças amam, sofrem, se relacionam e compartilham tudo, sempre conectados. A internet é onipresente e, nesta grande rede em que o mundo se transformou, as ideias de sociedade e interação social ganham um novo significado. E apesar de toda a “facilidade” que a rede de computadores provoca na intercomunicação e no relacionamento das pessoas, a vida não se resolve apenas ao apertar de um botão. E somos apenas uma poeira no universo. Curti e compartilhei.
8. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) de Martin Scorsese
Baseado nas memórias do corretor de valores Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), raia miúda diante dos grandes bancos de Wall Street, é hábil na arte de tirar dinheiro do bolso alheio e colocá-lo no próprio bolso. Um personagem caricato e inconsequente, movido a sexo e drogas, numa interpretação delirante de DiCaprio, numa fita irrepreensível de um mestre do cinema.
7. O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014) de Wes Anderson
No período entre as duas guerras mundiais, o famoso gerente (Joseph Fiennes) de um hotel europeu conhece um jovem empregado (Tony Revolori) e os dois tornam-se melhores amigos. Entre as aventuras vividas pelos dois, constam o roubo de um famoso quadro do Renascimento, a batalha pela grande fortuna de uma família e as transformações históricas durante a primeira metade do século XX. Sinergia entre a dupla M. Gustave e Zero, uma fotografia de Instagram e uma trama divertidamente rocambolesca reverberam na tela. É mais uma ótima história envolvida de excentricidade do cineasta Wes Anderson. Indicado para quatro Globos de Ouro (melhor filme-comédia, roteiro, direção e ator/comédia-Joseph Fiennes).
6. Mesmo se Nada der Certo (Begin Again, 2014) de John Carney
Gretta (Keira Knightley) e Dave (Adam Levine) são namorados e músicos parceiros. Quando ele consegue um contrato com uma grande gravadora em Nova York acaba deixando tudo para trás, inclusive Gretta. Mas a vida da jovem tem uma nova virada quando ela conhece Dan (Mark Ruffalo), um produtor musical falido que a vê cantando em um bar e se encanta com seu talento. Uma pérola romântica-musical com a assinatura do mesmo John Carney de Apenas uma Vez (Once, 2006). Tente não se apaixonar pelo filme, eu duvido que conseguira se segurar.
5. Ela (Her, 2013) de Spike Jonze
Uma pessoa conseguiria se apaixonar por um programa de computador? Em um futuro não muito distante, o escritor solitário Theodore (Joaquin Phoenix) comprar um novo sistema operacional desenhado para atender todas as suas necessidades, que promete ser uma entidade intuitiva e única. Ao iniciá-lo, ele tem o prazer de conhecer “Samantha”, uma voz feminina perspicaz, sensível e surpreendentemente engraçada. Uma história de amor dos novos tempos, tão absurda quanto bonita. Simples, mas perfeita em forma, conteúdo e realização. O diretor e roteirista transformar o absurdo em realidade crível e potencializa a era dos relacionamentos via internet, os (não) contatos, as amizades, o fato de existir a vida online e um mundo offline.
4. Garota Exemplar (Gone Girl, 2014) de David Fincher
Amy Dunne (Rosamund Pike) desaparece no dia do seu aniversário de casamento, deixando o marido Nick (Ben Affleck) em apuros. Após um descontrole, se torna o suspeito número um da polícia. Mas o que terá acontecido com Amy? No thriller exemplar de David Fincher, somos tragados pela história e personalidade impressionante da “Garota Exemplar”. E Rosamund Pike destrói com sua performance assustadora. São duas horas e meia distribuídas entras cargas de dramaticidade, curiosidade e medo.
3. O Abutre (Nightcrawler, 2014) de Dan Gilroy
Uma aula de cinema lança um extraordinário olhar sobre o jornalismo sensacionalista, tão incrustado na mídia, que não mede limites pela busca de sua máxima audiência. Além disso, mostra como o capitalismo pode corroer a indústria da notícia, ao adentrar no mundo cão de maneira abrasiva. E as negociatas não se resumem à cifras, mas também em desejos. Jake Gyllenhaal tem a melhor atuação de sua carreira na pele do “abutre” noturno, em busca de uma sobrevivência (ou seria o sucesso?) a custa do sangue dos outros.
2. Relatos Selvagens (Relatos salvajes/Wild Tales, 2014) de Damián Szifron
Produção argentina de Pedro Almodóvar, a fita episódica mostra que o ser humano caminha numa linha tênue entre a civilização e a barbárie. Diante de uma realidade crua e imprevisível, os personagens têm seus limites colocados em prova. Uma traição amorosa (o casamento), o retorno do passado (lanchonete), uma vingança programada (o avião) uma tragédia (o atropelamento), a violência de um pequeno detalhe cotidiano (na estrada) ou a burocracia do dia a dia (Bombita) são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle. Algo entre Tarantino e Almodóvar, com muito humor negro, tensão e uma dramaticidade elétrica.
1. Boyhood – Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014) de Richard Linklater
Imagine um drama familiar sobre um garoto, de pais separados, o qual acompanhamos da infância à juventude. Normal, não é? Mas aqui, o filme é o projeto e como ele foi feito. Sim, há uma carga dramática realística com problemas de separações, a distância do pai, novos casamentos, brigas conjugais, trocas de colégios, cidades, a chegada do amor e a escolha pela faculdade. Mas a fita foi rodada com os mesmo elenco durante o tempo real de 12 anos. Acompanhamos Ellar Coltrane interpretar o jovem Mason, dos 6 aos 18 anos. Da mesma forma vemos as impressionantes mudanças em sua “irmã” (Lorelei Linklater) e de seus “pais” (Ethan Hawke e Patrícia Arquette). Palmas para o diretor, produtor e roteirista Richard Linklater. Indicado para cinco Globos de Ouro (filme-drama, diretor, roteiro, ator coadjuvante-Ethan Hawke e atriz coadjuvante-Patrícia Arquette).